Jogo de empurra: socorro que deveria ser imediato em UPAs é adiado por 12 horas

Ernesto Braga - Do Hoje em Dia
29/10/2012 às 06:45.
Atualizado em 21/11/2021 às 17:39
 (Carlos Roberto)

(Carlos Roberto)

O relógio da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Centro-Sul, na área hospitalar de Belo Horizonte, marcava 15h de 10 de outubro. A cozinheira Maria da Natividade de Souza Domingos, de 55 anos, foi levada ao local sentindo fortes dores e com dificuldade para caminhar. Ela tinha caído de 1,5 metro de altura, batendo a cabeça e as costas no chão.

As radiografias da paciente ficaram prontas às 18h30. “Pedi a médica que atendeu minha mãe para olhar o raio-X e ela me disse que quem faria isso seria o médico do próximo plantão, que começaria às 19h”, afirma Marla Domingos, de 32, filha de Maria da Natividade.
 
ENROLAÇÃO

Assim como a cozinheira, pacientes estão sendo “enrolados” nas salas de espera das UPAs de BH e “empurrados” para o plantão seguinte, aguardando até mais de 12 horas por atendimento.

As denúncias chegam diariamente à SOS Vida, organização não governamental (ONG) que há 23 anos cuida dos interesses dos pacientes da rede pública. “Só hoje, recebi quatro queixas”, disse o presidente da instituição, o advogado Antônio Carlos Teodoro, na semana passada. O problema também foi detectado em vistorias do Conselho Municipal de Saúde.
 
MARTÍRIO

O sofrimento de Maria da Natividade durou 14 horas e meia. A cozinheira teve que ficar em observação até as 3h do dia 11. Para tomar soro e glicose na veia, foi colocada em uma cadeira dura e quebrada, virando a noite no corredor da UPA.

De madrugada, segundo Marla, médicos e enfermeiros suspenderam os atendimentos, embora a sala de espera estivesse cheia. “O médico estava sumido desde as 21h. Fui atrás dele quando acabou o período de observação da minha mãe, mas encontrei apenas o supervisor (da UPA). Ele me disse que, de madrugada, os médicos só dão alta quando a Polícia Militar é chamada”.
 
CERCO

Às 5h30, médicos e enfermeiros começaram a aparecer. “Fiquei de prontidão por onde eles passam, cercando o médico. Se não fizesse isso, a alta só seria dada pela equipe do outro plantão, que entrava às 7h”, diz Marla.

Ela conseguiu levar Maria da Natividade para casa às 6h30. Segundo Marla, uma jovem ferida em um acidente de moto, que pediu ajuda no guichê da UPA às 22h do dia anterior, permanecia na sala de espera. “O atendimento é pavoroso. Fiquei revoltada, pois minha mãe acorda às 4h30 para trabalhar e, quando precisou, não teve direito nem a uma maca”.
 
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