Lançamento de esgoto é vilão e compromete o rio São Francisco

Danilo Viegas
dviegas@hojeemdia.com.br
01/06/2016 às 19:29.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:42
 (João Zinclair/Divulgação)

(João Zinclair/Divulgação)

O rio São Francisco, que atravessa seis estados brasileiros e o Distrito Federal, padece com o despejo de esgoto em suas águas, essenciais para irrigar e tornar mais fértil o solo da região do semiárido mineiro e nordestino. E a situação é agravada pelo baixo volume do curso d’água nos últimos anos, em função da forte estiagem.

Para alertar a população e as autoridades sobre os problemas e importância do rio da integração nacional, foi lançada ontem a campanha “Eu viro carranca para defender o Velho Chico”, para celebrar o Dia Nacional em Defesa do rio, comemorado amanhã.

A campanha propõe mobilizações e alertas à sociedade para a necessidade de revitalização do São Francisco, e a realização de um encontro científico inédito que vai debater a situação do rio. 

Segundo Márcio Pedrosa, coordenador do Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Rio São Francisco, responsável pelo monitoramento da área mineira do curso d’água, a poluição doméstica que castiga o Velho Chico é composta por toda a água e resíduos de encanamentos de casas, escritórios e estabelecimentos comerciais. “Belo Horizonte trata 80% de seu esgoto. O restante cai direto no rio das Velhas, um dos principais afluentes do Velho Chico. Quando ele está com baixa vazão, de junho até agosto, concentra mais coliformes fecais”, diz.

Isso prejudica 15,5 milhões de brasileiros que dependem direta ou indiretamente das águas do São Francisco. A bacia corresponde a 8% do território nacional, o que faz do Velho Chico o maior rio genuinamente brasileiro. Com nascente em Minas Gerais, na Serra da Canastra, 36% dos 2.863 km de extensão cortam o Estado.

Segundo o comitê, não há um levantamento da cobertura dos serviços de saneamento básico na bacia do São Francisco. Em Minas, o órgão já elaborou planos municipais de saneamento para seis cidades mineiras: Bom Despacho, Lagoa da Prata, Moema, Pompéu, Abaeté e Papagaios.

Triste realidade

O cenário ruim é confirmado pela professora de engenharia sanitária e ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Sílvia Correa, que pesquisa a poluição do Velho Chico há sete anos. Segundo ela, toda a extensão mineira do rio está poluída por esgoto doméstico. “Nossos rios estão praticamente mortos na região metropolitana da capital, pois o oxigênio neles é zero”, observa.

Além do comprometimento da qualidade da água, o despejo de esgoto aumenta o risco de doenças. “Sem cuidar da água, acabamos nos tornando reféns de várias doenças do século passado”, diz o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda.

Revitalização é essencial

Durante o lançamento da campanha, Anivaldo voltou a cobrar do governo federal a revitalização do rio. O posicionamento surge após as declarações do ministro interino da Integração Nacional, Helder Barbalho, que anunciou na semana passada a conclusão da transposição do Velho Chico para a Paraíba até dezembro deste ano.

Desde 2012, 16 projetos hidroambientais do comitê foram feitos em Minas, com um investimento de R$ 12,5 milhões. As intervenções englobam construções de proteção de nascentes, cercas para conservação de matas de topo e ciliares, bacias de captação de água de enxurradas e terraços. Segundo Márcio Pedrosa, essas revitalizações têm aumentado a vazão de água dessas nascentes, que acabam alimentando o rio.

Ações de saneamento e controle de processos erosivos

Em nota, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) informou que, por meio do Programa de Revitalização das Bacias Hidrográficas, estão sendo realizadas ações de saneamento ambiental e controle de processos erosivos. Já foram investidos R$ 601 milhões em Minas na conclusão de 41 sistemas de esgotamento sanitário, três sistemas de coleta, tratamento e destinação final de resíduos sólidos e oito sistemas de abastecimento de água em comunidades rurais.

Para as ações de controle de processos erosivos, já foram construídas 39 mil barraginhas, implantados 7 mil km de terraços para proteção de áreas de produção e readequados 321 km de estradas ecológicas. Essas ações proporcionam uma drástica redução no carreamento de sedimentos para o leito do rio. Foram concluídas também a recuperação e proteção de 1.177 nascentes. Para este ano, estão previstas a conclusão dos sistemas de esgotamento sanitário nos municípios de Arcos, Brasilândia de Minas, Caeté, Manga e Pedras de Maria da Cruz.

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