Liberdade para os crimes ao volante revolta famílias

Alessandra Mendes - Do Hoje em Dia
10/01/2013 às 06:46.
Atualizado em 21/11/2021 às 20:28
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Unidas pela dor, duas famílias lutam para mudar a legislação que prevê o direito à liberdade para motoristas bêbados, até inabilitados, responsáveis por mortes no trânsito. O benefício foi concedido aos autores dos últimos dois crimes do tipo em Belo Horizonte. Duas semanas após serem presos em flagrante, Lucas Alexandre Dias Pelli, de 18 anos, e Paulo Henrique Tomás da Silva, de 24, foram soltos na terça-feira (8), mediante decisão judicial.

O primeiro atropelou e matou uma menina de 2 anos. O segundo, que sequer era habilitado, fez o mesmo com um garoto de 6. Álcool no sangue
 
Ambos estavam embriagados, conforme o inquérito policial. Um exame mostrou álcool no sangue de Lucas seis vezes acima do permitido. Paulo assumiu ter bebido uma caixa de latas de cerveja, mas se negou a fazer o teste. Os dois foram soltos sem pagar fiança porque nenhum valor foi estipulado.

Inconformados com a liberdade dos motoristas, pais que enterraram os filhos em pleno Natal decidiram protestar. Com cartazes e apitos, foram até a porta do Fórum Lafayette pedir mais rigor na punição para autores de homicídio no trânsito.

“A lei tem que ser mudada para evitar casos como esses. A sociedade tem que se mobilizar para exigir mais firmeza, o que não se limita a aumentar a multa para quem beber e dirigir”, afirma o advogado Henrique Júnior Rodrigues, de 30 anos, pai de Felipe, de 6.

O garoto foi atropelado pela motocicleta conduzida por Paulo em 25 de dezembro, em Venda Nova, quando ia com a tia tomar açaí. Dois dias antes, Anna Victorya dos Santos Dias foi atingida pelo Golf de Lucas quando voltava com a mãe de uma farmácia no Noroeste da capital. Os dois condutores foram autuados por homicídio com dolo eventual – quando a pessoa assume o risco de matar.

Mas, segundo entendimento da Justiça, por serem réus primários com bons antecedentes e residência fixa e por terem colaborado com as investigações, ganharam o direito de responder pelo crime em liberdade.

“Foi mal”

Decisão que revolta a mãe de Anna Victorya, atropelada com a filha em cima da calçada. “Nunca vou me esquecer de estar caída no chão, vendo ele olhar a minha filha morta e depois me dar um tapinha nas costas e dizer: ‘foi mal, foi só um acidente’”, lembra Marta Priscila Dias Camilo, que ainda usa muletas por causa dos ferimentos.

Apesar de beneficiados com a saída da prisão, os dois condutores podem ser proibidos de obter habilitação por um bom tempo. “No caso do Lucas, que tinha a carteira provisória, também foi feito o pedido de suspensão da permissão”, diz o coordenador de Operações Policiais do Detran, Ramon Sandoli.

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