Lojas fechadas e incertezas assombram comerciantes de Brumadinho

Simon Nascimento
25/02/2019 às 08:01.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:42
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Comerciantes, produtores rurais e pescadores atingidos acumulam boletos a pagar. As lojas fechadas e as dívidas são fruto da queda no movimento nos estabelecimentos, da destruição de hortas e da contaminação do rio Paraopeba.

Era do curso d’água que o pescador Alexsandro Lopes da Silva, de 40 anos, tirava o sustento dos três filhos e da esposa. Por dia, eram 25 quilos de peixe. Criado em Governador Valadares, no Leste de Minas, ele se mudou com a família para Brumadinho no fim de 2017, depois de não conseguir mais pescar no rio Doce, poluído pelos rejeitos que vazaram da barragem de Fundão, 2015. “Desde 25 de janeiro não ganho um centavo. Meu aluguel está atrasado, as contas começaram a acumular”.

Proprietário de uma horta que foi devastada pelo mar de lama no Parque das Cachoeiras, na zona rural de Brumadinho, Antônio Francisco de Assis, de 63, também acumula prestações. Antes do desastre, ele despachava para BH e outros municípios da região metropolitana dois caminhões abarrotados de verduras e legumes.

Agora, o máximo que consegue enviar é 40 caixas de tomate da pequena horta que fica no terreno da chácara onde mora. “Preciso é que a Vale assuma o compromisso de arcar com o prejuízo que me deram. Eu e minha família sempre trabalhamos muito e nunca precisamos dela para nada”, relata o produtor rural, conhecido como Tonico.Flávio Tavares

“A gente precisava de um pouco mais de atenção e cuidado da Vale porque esse estrago, essas mortes, é culpa dela”, reforça Antônio

O rompimento da barragem em Brumadinho é a maior tragédia de Minas em número de mortes dos últimos 18 anos

Já a cozinheira Marilda Ferreira dos Santos, de 34, não consegue nem abrir o bar tocado por ela e o marido em Córrego do Feijão. “Não tem movimento, muito menos clima”. Com as portas fechadas, a preocupação é com o futuro. “O que resta agora é esperar e ver o que será oferecido para suprir a renda que a gente tinha”.

Procurada, a Vale não se posicionou. A mineradora sequer informou quantas famílias se cadastraram para receber as doações de R$ 100 mil. O Governo de Minas disse que a Secretaria de Estado de Saúde atua desde o rompimento da barragem para disponibilizar leitos hospitalares e atender a demandas psicológicas, epidemiológicas e de imunização da população.

Vice-prefeito de Brumadinho, Leônidas Maciel afirmou que o município aguarda o pagamento de multa aplicada à Vale, de R$ 50 milhões. “A prefeitura também aumentou a oferta de psicólogos e o atendimento nas unidades de saúde. Em casos mais extremos, temos equipes para ir às casas dessas pessoas”.Flávio Tavares

“Preciso é que a Vale assuma o compromisso de arcar com o prejuízo. Eu e minha família sempre trabalhamos e nunca precisamos dela”, diz Tonico

Além Disso

Em audiência na semana passada, a Vale aceitou o Termo de Ajuste Preliminar (TAP) proposto pelo Ministério Público para reparar os danos causados pelo rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão. Na reunião, ficou decidido que a mineradora terá de pagar, mensalmente às famílias e por um ano, um salário mínimo para os adultos, meio salário para cada adolescente e um 1/4 por criança.

O acordo contempla também quem mora em uma faixa de aproximadamente um quilômetro do rio Paraopeba, entre Brumadinho e a hidrelétrica Retiro Baixo, em Pompéu, no Centro-Oeste. O termo ainda prevê que o governo do Estado seja ressarcido pela Vale em R$ 13 milhões, referente aos gastos para viabilizar as operações de resgate e buscas. Segundo a Defesa Civil, atualmente são 143 pessoas desabrigadas e 55 desalojadas. 

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