Eles também são movidos por emoções, querem um relacionamento estável e desejam a admiração das mulheres. Não estamos falando de um homem ideal, mas do atual, que na verdade é bem diferente do estereótipo do machão frio, indiferente a sentimentos e autossuficiente.

E não se trata de mera opinião. Segundo a psicóloga Cristina Santos, estudiosa do comportamento masculino há 15 anos, a principal prova da mudança deles, que agora têm menos medo de admitir as emoções, foi apontada numa pesquisa norte-americana, que em 2010 ouviu 25,5 mil homens.

“O levantamento mostra um homem que busca cumplicidade emocional, sintonia com a parceira, que evita uma traição. Mas quando ela acontece, não é, na maioria das vezes, por sexo, mas atrás dessa proximidade que ele não encontra no casamento”, explica.

A psicanalista Simone Demolinari tem opinião semelhante. Para ela, a “casca de machão”, que engessa e aprisiona, está sendo quebrada. Ela cita como exemplo o movimento “Homens, libertem-se”, lançado no ano passado pela classe artística. Entre as bandeiras estavam o direito de falir, de brochar e de ser frágil. “Querem o direito de serem sensíveis, sem levar nenhum rótulo”, ressalta.

O sociólogo da Unicap, Rudá Ricci, endossa a análise das terapeutas. Para ele, a principal mudança masculina ao longo do tempo foi justamente na imagem viril. “Por muitas décadas, o homem acreditava no uso da força para reforçar a virilidade. Hoje, isso arrefeceu e percebe-se que esse homem aceita mudanças, dialoga mais com o mundo feminino e está até mais presente na vida doméstica”.

O gestor de negócios Tiago Torres, de 30 anos, se considera um exemplar de homem fora do estereótipo de machão. “Meu pai é um romântico, talvez tenha recebido essa influência. Cresci numa casa em que o homem tem esse cuidado com a mulher: elogia, expressa o que sente”.

Ele, que está noivo, afirma não ter receio de dizer que ama e que precisa da companheira. “Nunca fiz uma grande demonstração em público, mas no Facebook, por exemplo, não perco oportunidade de colocar mensagens de reconhecimento do amor que sinto pela minha noiva”, reforça.

Relacionamento

Aliás, amor num relacionamento estável não é um sonho apenas feminino. Tanto Cristina quanto Simone, que atendem homens nos consultórios, relatam que eles querem uma parceira “para a vida toda”.

Para Simone, muitas vezes, no caso deles, esse desejo talvez seja menos explícito, justamente por causa das cobranças sociais que ainda pesam. “Para ele, essa opressão pode ser exemplificada na célebre frase ‘o homem da casa’. Isso denota um grande peso. E o homem compra essa ideia, tanto que tem medo de assumir um compromisso sério, de casar, por essa responsabilidade de ter que dar conta, de não poder errar”, diz.

“Todo mundo quer uma mulher única, que cuide dele, que seja exclusiva”, salienta Tiago. Porém, o gestor de negócios defende que o dever financeiro no lar seja do homem. “Existe o orgulho de ele ser o provedor. Eu, com certeza, gostaria de ser o que coloca mais dinheiro dentro de casa. Não vejo como uma obrigação, é uma honra para mim”, afirma.

Mas, ele pondera, que, “num relacionamento de cumplicidade, não há problema a mulher ter maior renda ou do homem ser responsável pelas tarefas domésticas”.

Elogios ajudam a consolidar um relacionamento sério

Se uma mulher deseja afastar do homem o “medo” de relacionamento sério e conquistá-lo de vez, é importante elogiar as atitudes dele e deixar claro que o admira. Segundo a psicóloga Cristina Santos, a pesquisa norte-americana também mostrou que eles não se sentem valorizados por elas.

“O homem é educado para ser vencedor, recebe do pai essa mensagem, de que precisa conquistar coisas. Isso meche com a competência dele. Uma das coisas mais importantes para o homem é esse reconhecimento, seja profissional, seja como parceiro”.

Então, apesar de elogios serem importantes e motivadores para ambos os sexos, para eles isso se torna ainda mais preponderante. “Elogiar o parceiro faz com que se sinta seguro e, consequentemente, bem ao lado da mulher”.

O problema, diz Cristina, é que as mulheres têm receio de expressar esse reconhecimento.

“Elas têm medo de elogiar e, assim, ele nunca mudar. No imaginário, elas acreditam que é preciso mudar o homem. Mas se você se apaixona por uma pessoa, gosta dela, porque quer mudá-la? Também acham que ele ficará convencido se elogiá-lo. Isso é um equívoco. Se ela não faz, outra vai elogiar”, comenta.

Cristina defende que valorizar pequenos gestos e atitudes pode fortalecer a relação. “Reconhecer um convite para um café não é nada de mais. É simples. Mas essa sensação do outro endossar que você é bacana, que você vale a pena, é muito boa. A pessoa não precisa ser tão excelente assim, todos temos defeitos, mas essa sensação de que ele dá conta, de que satisfaz, é importante para o homem”, salienta.

“Ao falar de algo que lhe chateou, fale dos seus sentimentos. Ao invés de dizer ‘você fez isso’, diga ‘me senti triste por causa disso’. Quando você fala a partir de você, não joga a culpa no outro” Cristina Santos - Psicóloga

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