Luta pela autoestima: pacientes em tratamento contra o câncer buscam bem-estar

Malú Damázio
mdamazio@hojeemdia.com.br
09/04/2018 às 06:00.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:14
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Viver com câncer é uma experiência difícil. Os pacientes precisam mudar hábitos de saúde, enfrentam muitas vezes fortes efeitos colaterais do tratamento e devem se acostumar com organismo e psicológico fragilizados. Nesse contexto, algumas atitudes são importantes para se fortalecer e passar pela doença com mais leveza.

Se concentrar em recuperar a autoestima é o objetivo da dona de casa Luzia Teixeira Tomaz, de 35 anos, que sofreu o impacto de descobrir, por duas vezes, tumores nas mamas. O câncer, identificado e tratado em 2016, voltou no fim do ano passado. “Quando tive o diagnóstico pensei que precisava estar bem e procurar não ficar abatida. Quero me sentir bonita”, diz. 

57 mil pessoas em Minas terão algum tipo de câncer em 2018, segundo estimativa do instituto nacional de câncer (Inca) 

Desde a primeira experiência, Luzia se preparou para enfrentar o tumor: comprou maquiagens, brincos e lenços coloridos para usar na cabeça. Ela também fez sobrancelha definitiva para evitar “perder a moldura do rosto” durante a quimioterapia. “Faço isso para ter forças para continuar com o alto astral e me aceitar melhor. Quando fico bem, todos da minha família também ficam”, frisa. 

Adaptação

Ainda assim, a paciente precisa enfrentar algumas “batalhas internas” relativas à retirada do seio durante o tratamento. Luzia conta que, às vezes, é inevitável não se sentir totalmente confortável com o próprio corpo. 

“Sei que é uma questão minha, meu marido e meus filhos dão todo o apoio, mas a gente fica meio sem jeito, tive que mudar a minha autoimagem porque meu corpo inteiro mudou com o tumor, não foi só a parte que tirei”, explica. 

Luzia teve que adaptar os sutiãs antigos costurando uma pequena bolsa para inserir próteses de pano, que substituem a mama retirada. “Não uso mais blusas muito cavadas, mas o importante é que eu me sinta confortável e não perca de vista meu objetivo maior, que é ficar curada”, observa. 

A recomendação é a de que mulheres entre 50 e 69 anos façam uma mamografia a cada dois anos. Porém, quando há casos na família e indícios avaliados pelo médico, o pedido poderá vir antes

Mudança

Abandonar hábitos nocivos à saúde também é um dos grandes desafios para quem vive com câncer. Pessoas que já passaram pelo processo, porém, garantem que a decisão traz melhoras não só para o tratamento, mas também na qualidade de vida. Lucas Prates / N/A

Sorriso pleno de Valdeci dos Santos

Desde outubro do ano passado, o pedreiro Valdeci Rosa dos Santos, de 38 anos, não ingere mais bebidas alcoólicas. A mudança ocorreu ao descobrir que tinha um linfoma. 

“Eu bebia muito e parei assim que fui internado. É impressionante a melhora. Rapidamente minha imunidade voltou e meu sistema linfático começou a trabalhar. O álcool me atrapalhava demais”, lembra. 

Com o tratamento, Valdeci teve que deixar de lado os serviços mais pesados como pedreiro, mas não parou de trabalhar. A ocupação, para ele, é essencial para manter a saúde mental.

“Agora faço obras mais leves, sem extravagância, só para não ficar parado. Aí trabalho uns dois dias na semana, tento fazer tudo perto de casa, sempre cuidando do meu corpo. Não dá para ficar só em casa, preciso ocupar a mente e, sem exagero, ajuda até a combater a doença”, conta. 

Manter uma atividade ocupacional, seja de lazer, hobby, ou trabalho formal, é uma das recomendações que o radioncologista do Instituto de Radioterapia São Francisco, Arnoldo Mafra, faz aos pacientes que vão tratar o câncer. “Ela ajuda no aspecto psicológico do tratamento, melhora a autoestima, tira o foco da doença e a pessoa se sente útil. Eu falo com todos que é até importante ter outros problemas”, coloca. 

Troca de experiências fortalece quem enfrenta a doença

Para quem descobriu a doença há pouco ou para os que já convivem há muito com ela, conversar e trocar experiências com outras pessoas que já tiveram câncer é uma das formas de se fortalecer. Luzia Tomaz participa de um encontro semanal de mulheres que vivem ou viveram com tumores na Organização Regional de Combate ao Câncer (Orcca), em Betim. 

O centro oferece apoios psicológico, jurídico e social gratuito para as pessoas com câncer. “Toda semana vou ao café, ouço mulheres que já venceram essa batalha, outras que estão em tratamento. É muito importante nos apoiar mutuamente. Compartilhamos desde dicas de maquiagem a medos e angústias mais íntimas”, afirma. 

O pedreiro Valdeci dos Santos, de 38 anos, também faz o acompanhamento do linfoma na instituição. Além de conseguir medicamentos gratuitos e consultas com psicólogo, passa por tratamento dentário para evitar o risco de pegar alguma infecção durante as sessões de quimioterapia. 

“Eles arrumaram meus dentes todos. Quando comecei a ‘quimio’, minha boca inteira ficava machucada, com a gengiva inchada e rachaduras na língua. O tratamento eliminou isso e também me ajudou na autoestima. Agora não tenho mais vergonha de sorrir, sinto-me bem melhor comigo mesmo”, conta. 

“Sabemos que existem diversos aspectos que contribuem para o câncer, porém hábitos saudáveis podem sim fazer a diferença em vários casos”Flávia FloresFundadora e superintendente do Instituto Quimioterapia e Beleza

Solidariedade

Outra iniciativa solidária na capital mineira é o Corte Amigo. O mutirão, que reuniu voluntários que desejavam doar parte dos cabelos para a confecção de perucas para pessoas em tratamento, ocorreu ontem, no Dia Mundial de Combate ao Câncer. Na última edição foram arrecadadas mais de 600 mechas. 

No Hospital da Baleia, voluntários realizam atividades lúdicas semanalmente com crianças que tratam a doença na instituição. Além disso, um outro grupo doa lanches para todos os pacientes do ambulatório de oncologia. A instituição ainda oferece atendimentos psicológico, social e fisioterápico gratuito para as famílias. 

Além Disso

Ainda que a ocorrência de tumores esteja associada a fatores como hereditariedade e infecções viróticas, cerca de 80% dos casos estão associados a fatores ambientais e ao estilo de vida, segundo o oncologista Amândio Soares Fernandes Júnior, diretor da Oncomed.

Manter hábitos saudáveis é um dos recursos para evitar a aparição de cânceres. Veja as dicas de Amândio e do radioncologista Arnoldo Mafra, do Instituto de Radioterapia São Francisco:

1) Parar de fumar e evitar o consumo excessivo de álcool e bebidas;
2) Evitar exposição excessiva ao sol e sempre utilizar protetor solar;
3) Reduzir o consumo de carne vermelha e embutidos, defumados, alimentos ultraprocessados e gordura saturada;
4) Usar preservativos nas relações sexuais;
5) Praticar atividade física;
6) Investir em alimentação com frutas, verduras e legumes.

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