Luto: de onde tirar forças para superar a despedida

Izabela Ventura - Do Hoje em Dia
Hoje em Dia - Belo Horizonte
06/10/2012 às 07:51.
Atualizado em 22/11/2021 às 01:51
 (Renato Cobucci)

(Renato Cobucci)

A aposentada Mery Mansur Brandão, de 74 anos, até hoje não superou a morte da pastora alemã Vann, de 16 anos. Doze meses depois, ela não consegue falar sobre a cadela sem se emocionar. Como outros donos de animais de estimação, Mery tem dificuldade para aceitar a perda de um pet tratado como membro da família.

Segundo o professor de psicologia Marco Antônio Silva Alvarenga, da Universidade Fumec, tal comportamento acontece por causa da capacidade do ser humano de criar vínculo, desenvolver estima e cuidar desses seres.

"Geralmente, a emoção não chega a ser tão intensa quanto a da perda de uma pessoa, mas muitos donos ficam bastante chateados e enfrentam algo próximo do luto", explica Marco Antônio, também doutor em psicologia e terapeuta cognitivo.
 
Natural

Para lidar com essa situação, é fundamental entender a morte como uma situação natural no ciclo da vida. O psicólogo ensina que, com crianças, a orientação e o consolo dos pais e de pessoas próximas é o melhor caminho para a superação.

"Vale até usar elementos religiosos. O importante é mostrar o quanto o animal foi amado, querido e bem cuidado", diz.

Com os adultos, o processo pode ser mais difícil, principalmente se viveram muitos anos ao lado do bichinho ou são solitários, pois tendem a ter menos suporte e amparo social. Neste caso, a solução é compartilhar a dor com outros donos ou nas redes sociais.
 
Saudade

Mesmo gostando de animais, Mery Brandão não consegue adotar outra companhia devido ao trauma da morte de Vann. A cadela não resistiu a uma artrose na região da articulação entre a perna e a bacia.

"Eu gostava dela mais do que de qualquer outro ser humano. Tratava com o carinho dado a um membro da família", disse.

O pet da modelo Gisele Bündchen, a yorkshire Vida, morreu esta semana. Gisele usou o Facebook para fazer uma homenagem ao cão. "Minha melhor amiga estará sempre em meu coração", escreveu.

Professor associado da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Júlio César Cambraia Veado orienta os alunos sobre como dar notícias tristes aos donos de animais de forma profissional e ética. O primordial é enfatizar que tudo o que era possível foi feito.

"Vivemos um período delicado na medicina veterinária, porque a humanização da criação dos animais de companhia faz com que as pessoas criem sentimentos muito fortes com eles", destaca.

Animais dão pistas de que estão prestes a partir

Quando o animal está com idade avançada, tem problemas de saúde e precisa ser cuidado frequentemente por veterinários, é hora de se preparar para a perda do pet, diz o psicólogo Marco Antônio Silva Alvarenga.

A melhor forma de o dono encarar a situação é perceber o quanto foi responsável, cauteloso e amou o bichinho.
Para a protetora de animais Maluh Gomes, porém, essa preparação não é possível. Ela se preocupa com a displasia e a velhice de Pirata, de 13 anos. "A gente acha que está pronto para o pior, mas na verdade nunca está".

Maluh ainda não superou a morte de Petrus, de 7 anos, em 1996, atropelado na frente dela. "Considerava-o um filho. Na época, pensei que minha vida tinha acabado e entrei em depressão profunda". A situação só melhorou quando ela fez terapia com um grupo de pessoas que buscavam lidar com perdas.

Esperança

O estudante de engenharia de produção Bruno Olímpio, de 22 anos, está agoniado com a suspeita de que seu akita Scoth, de dois anos e meio, esteja com leishmaniose, doença sem cura.

Ele mandou fazer uma contraprova, na esperança de que o primeiro diagnóstico esteja errado. "Nunca estamos preparados para uma perda como essa, mesmo sabendo previamente do problema".

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