Médico suspeito de estupro fazia vídeos das partes íntimas de pacientes; polícia procura vítimas

Malú Damázio
21/02/2019 às 12:10.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:39
 (Polícia Civil/Divulgação)

(Polícia Civil/Divulgação)

A Polícia Civil (PC) procura 105 mulheres, incluindo crianças e adolescentes, que possam ter sido vítimas de violação sexual pelo médico Fábio Lima Duarte, de 36 anos, na Grande BH. O suspeito, que foi preso preventivamente na última quarta-feira (20), é clínico geral e filmava pacientes em que realizava ultrassonografias endovaginais (dentro da vagina) e de seios. Além das imagens do consultório, no computador do foram encontrados vídeos do suspeito mantendo relações sexuais com menores e até cenas de uma possível prática de tortura com uma jovem.  

As imagens dos exames das pacientes eram filmadas, possivelmente, com uma câmera Go Pro, que o homem ligava e ajustava antes das vítimas entrarem no consultório. A maior parte delas foi feita em uma clínica particular em Betim, mas há também cenas gravadas em uma policlínica em Vespasiano e, possivelmente, em Belo Horizonte, já que Fábio prestava serviços para o Estado. Conforme a Polícia Civil, a Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig) foi acionada e deve dar mais informações sobre a atuação do médico. 

Os arquivos eram salvos no computador dele, com o primeiro nome das mulheres e características delas. “Ele usava termos como fulana gostosa, fulana seios, ou fulana endo, de endovaginal, close”, explica a delegada Renata Fagundes, da unidade especializada de Proteção à Criança e ao Adolescentes, que lembra que a maioria dos vídeos foi gravada em 2017. Ao todo, são retratadas 74 adultas e 31 crianças e adolescentes, cuja idade varia de 9 a 17 anos. 

A polícia encontrou ainda uma espécie de tutorial, em inglês, sobre como abordar crianças para praticar abusos, no notebook do homem. Havia também uma filmagem de 2015, feita dentro da casa do suspeito, no bairro Ouro Preto, na Pampulha, em que uma jovem de 20 anos estava amarrada e posicionada ao lado de facas. Os investigadores concluíram que a vítima foi dopada e abusada. Em depoimento, ela disse que aquela era a primeira vez que ia à casa de Fábio. “Ela não consentiu e não se lembrava de absolutamente nada que tinha ocorrido na noite. Ficou extremamente assustada ao ver as imagens”, diz Renata Fagundes. 

Segunda prisão

Esta é a segunda vez que Fábio é encarcerado. Em outubro de 2018, ele havia sido preso na operação Luz na Infância, que investiga possíveis pedófilos. A ação se deu porque o suspeito compartilhava e armazenava conteúdo pornográfico envolvendo mulheres menores de idade. No entanto, dois meses depois, em dezembro, Fábio foi solto. 

Abuso médico e como denunciar

Conforme a Polícia Civil, o registro do suspeito no Conselho Regional de Medicina (CRM) está suspenso. A corporação não soube informar, porém, se ele chegou a exercer a profissão durante uma prisão e outra, entre janeiro e fevereiro deste ano. No período ele adquiriu um computador novo, além de aparelhos celulares e notebooks.

Mulheres, crianças e adolescentes que suspeitam que podem ter sido vítimas de Fábio devem procurar a delegacia na avenida Nossa Senhora de Fátima, 2.175, no bairro Carlos Prates, região Oeste de Belo Horizonte. Mesmo que não tenham certeza dos abusos, Renata frisa que é importante que as pacientes busquem a polícia. “Às vezes a mulher está fazendo o exame pela primeira vez, não sabe como é, se aquela conduta é normal. Encontramos uma única paciente que ele tinha salvado o vídeo com nome completo. Assim que fomos conversar, ela nos contou que achou o ultrassom endovaginal muito estranho. Um exame que deve durar 10, 15 minutos durou 40. E ela percebeu que ele ficou excitado durante a consulta”, reforça a delegada. 

O homem deve responder aos crimes de estupro de vulnerável, em que a pena varia de oito a 15 anos de reclusão, e violação sexual mediante fraude. A pena vai de dois a seis anos.

Posicionamentos

A reportagem tentou contato com a defesa do médico, mas não obteve resposta dele. 

Em nota, a Fhemig informou que o suspeito não faz mais parte do quadro de funcionários da rede desde dezembro de 2017, quando teve o contrato finalizado. "Ressaltamos, também, que ele não era servidor concursado, mas, sim, contratado. O vínculo com a Fundação se deu por contrato administrativo nos moldes da lei 18.185/2009", diz o texto.

Já o Conselhor Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG), afirmou, em nota, que tomou conhecimento do caso pela divulgação da imprensa e que está apurando as circunstâncias dos fatos para tomar os procedimentos necessários. O médico ainda não foi suspenso pelo CRM-MG.

"Todas as denúncias recebidas são apuradas de acordo com os trâmites estabelecidos no Código de Processo Ético Profissional (CPEP). Os procedimentos correm sob sigilo. Obedecendo ao CPEP, somente as penalidades públicas impostas aos médicos denunciados poderão ser divulgadas", informou o órgão.

(com informações de Bruno Inácio)

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