Maioria das estações de monitoramento de enchente está desligada em BH

Sara Lira - Hoje em Dia
15/12/2014 às 07:46.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:23
 (Marina Puliti Pereira/Hoje em Dia)

(Marina Puliti Pereira/Hoje em Dia)

O principal mecanismo do município para alertar a população sobre enchentes e alagamentos está praticamente inoperante. Das 59 estações de monitoramento do nível de córregos e rios, a maioria (44, ou 75%) está desligada desde maio por falta de manutenção. O contrato com a empresa responsável venceu, mas a prefeitura não renovou em tempo hábil.

No início deste mês, a Secretaria Municipal de Obras acertou, por dois anos, a prestação de serviços com a mesma empresa, a Hobeco Sudamericana Ltda, já em pleno período chuvoso. Até sexta-feira, os equipamentos continuavam sem funcionar, segundo o Instituto TempoClima PUC Minas, uma das instituições que recebem informações dos sensores.

O instituto e a Defesa Civil fazem o alerta, por meio de SMS, a 300 pessoas cadastradas. São comerciantes ou moradores das regiões mais suscetíveis a desastres, encarregadas de disseminar as informações aos vizinhos.

Relatório do TempoClima, ao qual o Hoje em Dia teve acesso com exclusividade, comprova que a população não teria como ser noticiada em caso de cheias súbitas. Na planilha, a maior parte das medições sobre o volume de água traz o resultado “s/d”, ou seja, “sem dados” – no período de novembro a 12 de dezembro.

Um dos cursos d’água mais desguarnecidos é o Arrudas, que já causou transtornos e até mortes quando transbordou ao longo da avenida Tereza Cristina. Nove dos 14 equipamentos instalados na região do Barreiro e na divisa com Contagem, na cabeceira do ribeirão, não funcionavam até sexta-feira.

Outros pontos estratégicos sem monitoramento são as avenidas Francisco Sá, no bairro Prado (região Oeste), e Prudente de Morais (Centro-Sul). Na primeira, carros chegam a ser arrastados quando o volume de água é muito grande. Na Prudente, a galeria subterrânea não suporta a cheia do córrego Leitão e costuma transbordar.

 

SOLUÇÃO

A Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), responsável pelos contratos de manutenção dos serviços, não se posicionou sobre o motivo de o sistema não ter voltado à normalidade, embora a terceirização tenha sido retomada em 2 de dezembro, conforme publicação no Diário Oficial do Município (DOM).

Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte dá a entender que há alguma pendência contratual com a Hobeco Sudamericana, mas não especifica qual. Informou que “continua empenhada em resolver os problemas contratuais referentes à manutenção das estações hidrometeo-rológicas no mais curto espaço de tempo”.

No sábado, o prefeito Marcio Lacerda foi questionado sobre o assunto. “Isso é um problema de contrato de manutenção, que vai ser resolvido rapidamente”, limitou-se a dizer.

 

Para quem foi afetado por alagamentos, fica a indignação

A notícia do desligamento das estações hidrológicas trouxe indignação a quem vive em locais costumeiramente afetados por enchentes. O sistema de alerta é um importante suporte para a tomada de decisões em caso de temporais. O imediatismo da informação garante, por exemplo, que comerciantes guardem o estoque em locais mais altos. Já moradores podem evitar ruas que transformam-se em rios. 

O comerciante Alexander Pires dos Santos, de 42 anos, proprietário de dois estabelecimentos na Bernardo Vasconcelos, no bairro Palmares (Nordeste), está preocupado. O sensor da avenida sanitária não mede o nível do córrego Cachoeirinha, que costuma transbordar após chuvas intensas, arrastando carros e deixando imóveis alagados. “Se está inoperante, é um dinheiro mal investido. Nos ajudaria muito caso funcionasse”, afirma.

Dono de uma autopeças nas imediações, Wagner Luiz Xavier, de 60 anos, não sabe qual a finalidade do equipamento. “Todo mundo acha que é radar de trânsito”

 

REGIÃO OESTE

Outro ponto crítico temido por comerciantes no período chuvoso fica na avenida Francisco Sá, no Prado (Oeste). Sob a avenida, localizada num vale, passa o córrego dos Pintos, que recebe água de vários outros bairros. Gerente de um bar , Gilson Dias, de 51 anos, já observou que o sistema de monitoramento não funciona. “Nunca nos deram um retorno de que esses sensores identificam algo”, diz.

Por mais que tente evitar prejuízos, Gilson sempre perde mercadorias ou tem equipamentos, como o freezer, estragados em enchentes. “A água sobe muito rápido e não tem como controlar”.

 

DESCONFIANÇA

Administradora de uma escola de circo na Francisco Sá, Adriana Oliveira, de 28 anos, acredita que a prefeitura não tem interesse nas estações. “O município não quer gastar com isso e faz ações paliativas, que, na verdade, não resolvem o problema”, reclama.

Adriana diz ter motivos para desconfiar das ações do poder público. Um deles seria o prejuízo de R$ 20 mil em consequência de uma enchente no ano passado. “Não vejo nada sendo feito para melhorar a situação. O que temos são só perdas”. 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por