Mais da metade dos bancos de leite que atendem UTIs neonatais em Minas funciona no limite

Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br
31/07/2018 às 20:20.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:41
Estoque da maternidade está abaixo do ideal (Maurício Vieira/Hoje Em Dia)

Estoque da maternidade está abaixo do ideal (Maurício Vieira/Hoje Em Dia)

Pelo menos oito dos 15 bancos de leite humano de Minas funcionam no limite. Em alguns casos, não há sequer estoque do alimento destinado, principalmente, a recém-nascidos internados nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs). Além disso, um espaço que funcionava em Lavras, no Sul do Estado, foi fechado há cerca de dois anos. 

Com a chegada da Semana Mundial de Aleitamento Materno, que começa hoje, especialistas alertam para a importância do estímulo à amamentação e à doação de leite. 

A maioria dos profissionais de saúde garante que a falta de incentivo é a principal razão para que o volume captado esteja abaixo do esperado. O problema se torna mais evidente nesta época do ano, com as férias escolares, viagens em família e as quedas de temperatura que desestimulam muitas lactantes. 

Em queda

Em Betim, na Grande BH, no banco de leite Maria Augusta Resende Barbosa, a média de estoque era suficiente para suprir por três meses a demanda de 35 leitos. Hoje, no entanto, os níveis despencaram. “Captamos somente a quantidade mínima necessária para as crianças. Está sendo um ano difícil”, explica a enfermeira Edina Lopes, coordenadora da unidade. 

Em Belo Horizonte, a maternidade Sofia Feldman, maior do Estado em número de partos, vive o mesmo dilema. Com cerca de 90 leitos de UTI neonatal, o hospital que já teve 150 doadoras, hoje conta apenas com 80. “Cada bebê consome em media 12 frascos com 300 ml de leite por plantão de 12 horas. Temos trabalhado todos os dias para suprir essa demanda”, diz a biomédica Luana Gomes.

Rotina

Em Passos, no Sul de Minas, a coordenadora de enfermagem da Santa Casa de Misericórdia, Alessandra Sarno, explica que mesmo indo aos postos de saúde orientar as lactantes, o volume ainda é pequeno e não há estoque. “No geral, os níveis de amamentação aqui são muito baixos. Quando saem da maternidade, 90% dos bebês estão mamando. Porém, aos seis meses, quando as mães voltam a trabalhar, esse índice cai para 20%”.

Referência

Na Maternidade Odete Valadares, em BH, que é referência nesse atendimento, a captação de leite conta com 300 doadoras na capital e em mais dez municípios. Diariamente, são atendidos 45 bebês da UTI neonatal, além de outras 55 crianças que têm, por exemplo, intolerância a outros tipos ou à chamada fórmula infantil – leite de vaca modificado com proteínas. A coordenação da unidade garante que o estoque é suficiente para suprir a demanda.

Com o filho internado há cerca de dez dias no hospital, por ter nascido prematuro, Larissa Lorrayne de Souza, de 19 anos, diz que precisa contar com o serviço. “Fico mais tranquila sabendo que ele será alimentado”, afirma.

Desafio

Apesar de a OMS recomendar que amamentação seja estendida até que a criança complete 2 anos, dados da Organização das Nações Unidas (ONU) Brasil revelam que apenas 32% das crianças alcançam esse resultado.

A consultora de amamen-tação e membro do Comitê de  Aleitamento Materno da Sociedade Mineira de Pediatria (SMP), Marina Martins, explica que a sensibilização das mulheres é o desafio mais importante para uma mudança de cenário.

“A maior parte mal dá conta de amamentar o próprio filho, portanto é ainda mais difícil estimular a ordenha para a doação. Isso sem falar que falta atualização de muitos profissionais de saúde para orientar corretamente essas mães”, avalia. 

Marina ressalta que a amamentação correta trará impactos positivos que farão toda diferença na vida adulta do bebê. “Crianças que mamam têm menos risco de desenvolver obesidade, alergias já que terão mais imunidade contra inúmeras doenças”, afirma. “Além disso, há estudos que comprovam que elas também atigem níveis maiores de Q.I.”, acrescenta a especialista.

Ação pioneira

Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde informou que a captação de leite encontra-se satisfatória na maioria dos bancos de leite. Segundo a pasta, campanhas realizadas em datas comemorativas incetivam a ação voluntária. “Destacamos também que a experiência de Minas Gerais em instalação de PCLH (Pontos de Coleta de Leite Humano) é pioneira no Brasil como prática que favorece a doação e estimula o aumento no volume”.

Ampliação

A expectativa da Secretaria Estadual de Saúde é a de aumentar a quantidade de bancos de leite humano e postos de coleta. Atualmente, Minas Gerais tem 14 casas de apoio à amamentação e outros 32 espaços para o recebimento das doações. A previsão é a de que, até o fim deste ano, uma nova unidade comece a funcionar no Hospital das Clínicas (HC) da UFMG, com capacidade para atender a até 60 crianças.

Em Itajubá, no Sul de Minas, a estrutura já está montada e aguarda a liberação da vigilância sanitária para dar início ao funcionamento. Já em Patos de Minas, no Alto Paranaíba, obras estão em andamento para a construção de mais um banco, ainda sem data para inauguração.

Considerada uma importante ação para a conscientização da amamentação, a Semana Mundial de Aleitamento Materno é comemorada na primeira semana de agosto desde 1992 e faz parte de um conjunto de ações da Organização Mundial de Saúde (OMS). Em 2018, a proposta visa resgatar a ideia da amamentação como alicerce da boa saúde em um mundo repleto de crises, desigualdades e pobreza.

Qualquer lactante que queira doar parte do leite que produz para outras crianças pode procurar a Maternidade Odete Valadares, em BH, que a referência na coleta em todo o Estado. Mais informações pelo telefone (031) 3298-6008.

(Colaborou Mariana Durães)

  

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por