Mais da metade dos jovens vítimas de acidentes de trânsito ficam com sequelas

Raul Mariano
19/10/2019 às 18:45.
Atualizado em 05/09/2021 às 22:18
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Seis de cada dez crianças ou adolescentes mineiros envolvidos em acidentes de trânsito ficam com sequelas para o resto da vida. São jovens que precisam lidar com limitações, como uma amputação ou paralisia. A maioria se machucou em ocorrências de tráfego quando estava fora dos veículos, na condição de pedestre ou ciclista.

O levantamento é do Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (Dpvat). A pesquisa ainda revela que o Estado é líder no ranking nacional de indenizações pagas às vítimas de batidas, atropelamentos e capotagens.Lucas Prates

João Pedro sofreu um acidente quando andava de bicicleta, ao ser atingido por um carro na região Leste de BH; ele perdeu os movimentos do braço esquerdo e hoje faz fisioterapia em uma unidade da prefeitura da capital

Apenas de janeiro a setembro, 1.001 reparações foram destinadas à faixa etária de 0 a 17 anos em Minas. Do total, 603 foram por invalidez permanente, ou seja, pessoas que levarão no corpo os prejuízos do trauma vivido no trânsito. Para especialistas, os dados são preocupantes.

As estatísticas do Dpvat, por tipo de veículo, mostram que as motos são as principais responsáveis pelos acidentes. De janeiro a setembro, foram mais de 5 mil indenizações por ocorrências envolvendo o veículo de duas rodas. Automóveis ocupam a segunda posição no país, concentrando 3.461 sinistros, conforme o levantamento. Caminhões e picapes aparecem na sequência, com 572 pagamentos. Já os ônibus, micro-ônibus e vans apresentam 345 seguros

O jovem João Pedro Oliveira Pinto viu a morte de perto em 31 de janeiro, dia em que completava 18 anos. Enquanto andava de bicicleta, colidiu com um veículo em um cruzamento do bairro Jonas Veiga, na zona Leste de BH. Ele teve um deslocamento de clavícula, causando o rompimento de um tendão e um corte profundo no pescoço.

“Cheguei ao hospital quase morto. Precisei receber três bolsas de sangue. Foram 11 dias internado no HPS (Hospital de Pronto-Socorro) João XXIII, oito deles na UTI. Passei por três cirurgias e, hoje, faço fisioterapia e terapia ocupacional, porque perdi o movimento do braço esquerdo”, relata. O rapaz é atendido no Centro de Reabilitação (Creab), da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA). 

“Em todo país, as crianças, na condição de passageiros de carros e motos, são as que mais se acidentam. Em Minas, no entanto, os pedestres têm predominância nessa faixa etária. O Estado lidera o ranking nacional porque, além ser muito grande territorialmente, tem a maior malha rodoviária do Brasil. De forma geral, os casos mais comuns são de crianças fora da cadeirinha nos carros e de menores de 10 anos sendo transportados em motos, muitas vezes na frente, em cima do tanque de combustível” (Arthur Fróes, superintendente de Operações da Seguradora Líder)

Para voltar a pedalar, a espera não será curta. A expectativa dos profissionais que o acompanham é que ele leve, no mínimo, sete meses para começar a mexer o braço novamente. Uma recuperação completa, se vier, demandará pelo menos dois anos de tratamento. “Morri e renasci”, reflete João Pedro. 

Alarmante

Superintendente de operações da Seguradora Líder, responsável pelo gerenciamento do Dpvat, Arthur Fróes destaca que os números registrados em Minas são “alarmantes”. “É uma quantidade grande de pessoas que vão levar essa debilidade para a vida, gerando incapacidades que podem ser laborais e ainda trazendo consequências também para o Estado, já que precisarão de mais amparo”, analisa.

Em todo país, mais de 9 mil crianças e adolescentes foram indenizados, nos nove primeiros meses deste ano, após sofrer acidentes de trânsito; a média é de 36 casos por dia, conforme dados do Seguro Dpvat

Fragilidade

As características físicas comuns à primeira infância também contribuem para aumentar a gravidade dos acidentes. Quem explica é a gerente executiva da ONG Criança Segura, Vania Schoemberner.

Ela afirma que a fragilidade do corpo fica ainda mais evidente no trânsito. “No caso de um atropelamento, o carro atingiria a cintura de um adulto, mas, numa criança, acerta a cabeça ou o abdômen, o que é muito mais grave”.

Crianças que estavam dentro do veículo durante a ocorrência concentraram cerca de 42% das indenizações pagas pelo Dpvat em todo o Brasil. Na ponta do lápis, foram 4.125 pagamentos para a faixa etária de até 14 anos. Depois de Minas, o estado de São Paulo foi o que concentrou mais indenizações, com 985, seguido pelo Ceará, que teve 717, e pelo Paraná, com 626

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