Mais de 30 anos depois, gari da SLU realiza sonho e volta a desfilar pela Cidade Jardim

Filipe Motta
fmotta@hojeemdia.com.br
14/02/2018 às 11:58.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:21

Eram dez da noite da terça-feira de Carnaval, 13. Em frente ao Palácio das Artes, na Avenida Afonso Pena, Márcio Silva se misturava aos companheiros de ala, que aguardavam para desfilar pela Cidade Jardim, pelo grupo principal das escolas de samba de Belo Horizonte. Todos  trajados de índio, plumas e penachos verdes pelo corpo.

Com o sorriso estampado no rosto, olhos brilhantes de felicidade, o homem de 40 anos se preparava para o segundo desfile da sua vida. "Da outra vez eu era deste tamaninho, assim", mostra, espalmando a mão direita na altura da cintura.

Pouco mais de 24 horas antes, gari, Márcio limpava as ruas da cidade. "Trabalho de varrição. Praça Sete, Andradas, Parque Municipal, rua da Bahia: essa é a nossa rotina. No Carnaval eu tava aí, trabalhei esses dias todos, mas trabalhei me divertindo. Tinha muitas coisas - copo, latinha. Mas tinha muitas pessoas felizes e alegres brincando 'com nós'", conta. Na última segunda-feira, enquanto varria, foi interrompido por uma jornalista da equipe de comunicação da prefeitura, que preparava minidocumentários sobre o lugar do carnaval na vida das pessoas.

Márcio contou a sua história. Menino crescido ao lado da Cidade Jardim, curtidor de samba - "Veio da raiz, o samba nasceu junto com a gente", repete, apontando o dedo indicador para as veias do braço -, passou o restante da vida querendo desfilar pela escola. Cresceu, se mudou para Santa Luzia e não teve outra oportunidade.

Sem tirar a história de Márcio da cabeça, a jornalista ligou para "Deus e o mundo", foi atrás da Belotur, insistiu. A empresa de Turismo procurou os integrantes da Cidade Jardim, que receberam Márcio de braços abertos na noite de ontem.

Márcio se despede da reportagem com um aperto firme com as duas mãos. Com o sorriso sempre estampado no rosto, agradece por contar sua história mais uma vez. A sirene do início do desfile toca e ele segue pela Afonso Pena. "A avenida hoje é minha, eu já mandei enfeitar, com pétalas de rosa para o meu amor passar. Avenida hoje é minha, eu já mandei enfeitar, para minha Cidade Jardim desfilar", canta o Samba-Enredo de Evair Rabelo e Pirulito da Vila.

Das arquibancadas, Patrícia, esposa de Márcio, com quem toca uma creche para 13 crianças na casa do casal, no bairro São Benedito, assiste o marido passar.

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