Manobra arriscada, trafegar na contramão rende 14 multas por dia na capital

Simon Nascimento
17/05/2019 às 21:20.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:43
 (RIVA MOREIRA)

(RIVA MOREIRA)

A violação é gravíssima e pode colocar em perigo a vida de pedestres, motoristas e do próprio infrator. Mas nem mesmo a punição prevista em lei e os riscos oferecidos são capazes de frear a imprudência de quem insiste em trafegar na contramão em Belo Horizonte. Por dia, 14 pessoas são multadas por ignorar o sentido único de direção nas vias.

De janeiro a março, mais de 1,2 mil motoristas cometeram a irregularidade na capital, conforme balanço do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG). O número é quase 30% maior se comparado ao mesmo período de 2018. No primeiro trimestre do ano passado foram 991 flagrantes.

Não há estatísticas sobre os locais com mais autuações, mas o Batalhão de Trânsito da Polícia Militar (BPTran) garante que a rua Rio Pomba, na região Noroeste da metrópole, é um dos pontos com mais notificações. Pela via, que corta os bairros Padre Eustáquio e Carlos Prates, 15 mil veículos circulam diariamente. Ao todo, são 18 linhas de ônibus.

Lá, o desrespeito acontece sem a menor cerimônia entre as ruas Vila Rica e Coronel Júlio Murta. Na semana passada, a equipe de reportagem do Hoje em Dia esteve no local e, em apenas 20 minutos, três carros e uma moto realizaram a manobra irregular. Moradores das imediações denunciam que a imprudência é mais comum fora do horário de pico.

“Isso aqui é toda hora, são os mesmos carros. A gente não tem tranquilidade e segurança para andar a pé nem de carro. Falta fiscalização”, reclamou o aposentado João Pereira, de 74 anos, síndico de um prédio no quarteirão.

Na rua Fernão Dias, no bairro Alto Vera Cruz, na zona Leste, os casos também são comuns. Em menos de cinco minutos, dois automóveis e duas motos foram vistos na contramão, no quarteirão entre Tebas e Astolfo Dutra. 

“Toda hora tem motorista ignorando a sinalização para chegar mais rápido. Nós que somos pedestres temos que ter atenção redobrada”, conta César Xavier, de 46 anos. Ele é o dono de uma banca de verduras no trecho.

O assessor de comunicação do BPTran, Marco Antônio Said, reforça que a conduta imprudente à frente do volante é o principal motivo para o crescimento nas estatísticas. “O condutor está com pressa e quer ganhar tempo eliminando, às vezes, um quarteirão, mas o ato coloca em risco a segurança de todos”, afirma.

A postura irresponsável sempre irá pegar alguém de surpresa, acrescenta Said. “A pessoa que está dirigindo no sentido correto da rua não está esperando um carro na direção contrária. Nem mesmo o pedestre. A possibilidade de um acidente grave é muito grande”.

Recentemente, o Hoje em Dia mostrou que, nos últimos quatro anos, 270 mudanças foram implementadas em diferentes vias, que deixaram de ser mão dupla para ter um só sentido de direção na capital

Desatenção

Uma minoria das multas ocorre por desatenção à sinalização de trânsito, diz a PM. Nos últimos três anos, 270 mudanças de sentido de circulação em ruas e avenidas foram feitas em Belo Horizonte. Vias que operavam em mão dupla passaram a ter direção única. A mudança impõe ainda mais cautela para quem trafega na cidade.

No entanto, conforme reforçam os órgãos de trânsito, informações indicando as alterações sempre estão no local para orientar os motoristas. Atualmente, conforme a legislação, andar na contramão, além de ser infração gravíssima, rende multa de R$ 293 e perda de sete pontos na carteira de habilitação.LUCAS PRATESMoto ignora sinalização na rua Fernão Dias, no Alto Vera Cruz; lá, os flagrantes também são comuns

Reivindicações

Pedestres e ciclistas são os mais vulneráveis ao risco de acidentes provocados por um veículo na contramão. Para especialistas, a ameaça à vida das pessoas mostra que a infração deveria ter punição rigorosa, sendo tratada como crime de trânsito.

“O baixo valor de uma multa é o que faz o indivíduo insistir em cometer essas barbaridades”, afirma o diretor da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), Dirceu Alves.

O perigo de atropelamentos e colisões persiste mesmo quando o infrator segue com o veículo em baixa velocidade na via. “A possibilidade de causar um dano a terceiros é muito grande. A chance de provocar mortes é alta. Imagina a batida com outro veículo?”, questiona Alves.

Professor de engenharia de transportes do Cefet, Guilherme Leiva acredita que uma fiscalização mais intensa pode ajudar a coibir as irregularidades. “Nos locais de mais registros é preciso maior acompanhamento dos agentes para reduzir as estatísticas”, avalia. 

A BHTrans informou que realiza operações programadas para combater as infrações. A autarquia responsável pelo trânsito na cidade ainda reiterou que a população pode denunciar os flagrantes pelo 156, no aplicativo ou site da administração municipal (pbh.gov.br ou APP-BH).

Já o Batalhão de Trânsito da Polícia Militar disse que há ações rotineiras e patrulhamento diário na metrópole.Editoria de Arte

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por