Matemática e português desafiam estudantes de 90% das cidades mineiras

Malú Damázio
mdamazio@hojeemdia.com.br
30/08/2018 às 20:28.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:12
 (ABr)

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Alunos de apenas 10% das 853 cidades mineiras têm média de aprendizado suficiente em matemática ao fim do ensino fundamental. Os outros 772 municípios não atingiram níveis básicos de conhecimento estipulados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Os números indicam que os estudantes não conseguem realizar atividades simples como, por exemplo, a conversão de medidas de comprimento.

Em português, a situação é semelhante. No Estado, 85% das localidades estão fora do padrão ideal para o último período do fundamental. Nesses casos, habilidades como identificar o assunto central de uma reportagem ou reconhecer opiniões diferentes sobre o mesmo tema em textos estão comprometidas.

Divulgados ontem, os dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) partem do desempenho dos alunos do 5º e 9º anos do ensino fundamental e 3º ano do médio na Prova Brasil, aplicada no fim de 2017. O levantamento revela uma profunda desigualdade no aprendizado em todo o país. Só 1,6% dos concluintes da educação básica aprenderam o suficiente em língua portuguesa.

Desigualdade

O relatório mostra que a proficiência do Brasil e de Minas vem melhorando principalmente na primeira etapa do ensino fundamental, com os alunos mais jovens. Porém, os anos finais representam um gargalo, já que o avanço das notas é baixo.

A situação é considerada preocupante. De acordo com a professora Flávia Xavier, da Faculdade de Educação da UFMG, a melhora do aprendizado das crianças de 6 a 10 anos requer maior investimento na especialização dos docentes das primeiras etapas. 

Professor de políticas educacionais da PUC Minas, Carlos Roberto Jamil Cury acrescenta que a infraestrutura, como número de salas, laboratórios e materiais didáticos, influencia diretamente na compreensão dos estudos por parte dos estudantes mais velhos.

“Muitas instituições são mais precárias. Nem sempre elas têm educadores de todas as disciplinas. Há ainda as que recebem alunos com escolaridade já insuficiente, mas que não ajustaram suas expectativas em relação a isso. A soma dos fatores acaba prejudicando o desempenho nos últimos anos do fundamental e do médio”, observa.

Soluções

Reduzir a vulnerabilidade social, aumentar a retenção de professores nas escolas e investir na carreira docente, com melhor formação, são algumas das medidas que podem mudar o cenário, conforme os especialistas. O ensino nas universidades também deve preparar profissionais capazes de lidar com diferentes perfis de alunos.

Para a presidente do Inep, Maria Inês Fini, a situação evidencia a “urgência da implantação e apoio” a programas como o Novo Ensino Médio e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Porém, os educadores Flávia Xavier e Carlos Cury afirmam que, sem a adesão dos docentes, iniciativas do tipo não têm força para transformar o atual panorama.

“A BNCC pode ajudar a melhorar, mas se ela for construída com os professores e garantisse melhores condições e infraestrutura para as escolas”, diz Cury.

Informações

O Saeb mede a proficiência em língua portuguesa e matemática, considerando todas as redes, públicas e privadas, em localidades urbanas e rurais. A participação das instituições de ensino particular é voluntária.

Minas superou os resultados estaduais de 2015 e também ficou acima da média nacional nas séries avaliadas pela prova. No 5º ano do fundamental e no 3º ano do médio, o Estado está entre os cinco brasileiros com melhores notas. Mas, nas etapas finais do ensino fundamental, os mineiros ficam entre as dez primeiras posições.

Em nota, a Secretaria de Estado de Educação (SEE) reconhece a necessidade de mais investimento no 9º ano do ensino fundamental, uma vez que houve decréscimo no rendimento dos alunos. Mudanças no currículo e capacitação de professores estão entre as iniciativas em andamento.

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