Membros do MST pressionam Justiça para marcação de júri dos réus da "Chacina de Felisburgo"

Ana Clara Otoni e Jefferson Delbem - Hoje em Dia
15/05/2013 às 09:01.
Atualizado em 21/11/2021 às 03:41

Manifestantes do Movimento dos Sem Terra (MST) esperam pressionar a Justiça para remarcar o julgamento do fazendeiro Adriano Chafik e do primo dele Calixto Luedy apontados como mandantes da "Chacina de Felisburgo", que terminou com cinco mortos e 15 feridos.

Cerca de 200 integrantes do movimento fizeram uma passeata na manhã desta quarta-feira (15) em direção ao fórum Lafayete, no Barro Preto, onde ocorrerá uma reunião com o juiz  Glauco Soares Fernandes, do II Tribunal do Júri de Belo Horizonte.

O júri foi adiado porque o depoimento de uma testemunha, que foi ouvida nessa terça-feira (14), em Jequitinhonha, no Norte de Minas, por meio de carta precatória, não poderia ser incluído em tempo hábil para o julgamento - marcado anteriormente para esta quarta-feira (15).

Esta foi a segunda fez que o júri foi adiado. Uma audiência havia sido marcada para o dia 17 de janeiro, mas foi adiada porque o juiz da comarca de Jequitinhonha, onde inicialmente ocorreria o julgamento, enviou o processo para Belo Horizonte antes que a defesa dos réus indicasse testemunhas a serem ouvidas na ocasião.

Em Brasília, também houve um ato de protesto contra o adiamento do julgamento de Chafik. Segundo o MST, cerca de 600 pessoas marcharam em direção ao Supremo Tribunal Federal (STF), na manhã desta quarta.  "Esse foi um dos maiores massacres contra trabalhadores rurais da história do Brasil. É inadmissível que, até hoje, ele esteja impune, ainda que o mandante já tenha confessado o crime. A Justiça é extremamente morosa quando os casos envolvem a morte de trabalhadores, mas é extremamente eficiente para atender o latifúndio. Este continua impune, seja pela paralisação da reforma agrária, seja pelos assassinatos contra trabalhadores", disse Francisco Moura, integrante da coordenação nacional do MST.

A reportagem do Portal Hoje em Dia tentou entrar em contato com os advogados dos réus, mas não obteve sucesso. A reunião poderá ser acompanhada pela imprensa, porém, sem uso de gravadores. O juiz não deve se manifestar após o encontro, conforme a assessoria do Fórum Lafayete.

Os manifestantes do MST em Belo Horizonte estão acampadas na Praça da Assembleia Legislativa, no bairro Santo Agostinho, região Centro-Sul, desde terça-feira (14). Segundo os protestantes, a ação só irá terminar quando uma nova data para a audiência for marcada.

Eles pretendem passar o dia em frente ao Fórum. A BHTrans informou que o trânsito ficou lento nas avenida Barbacena e Amazonas, e também na rua Gonçalves Dias.  
 
O massacre de Felisburgo

A "Chacina de Felisburgo" ocorreu no acampamento Terra Prometida, na Fazenda Nova Alegria, no município de Felisburgo, no Vale do Jequitinhonha, em 20 de novembro de 2004. Na
chacina, foram assassinados cinco trabalhadores rurais - Iraguiar Ferreira da Silva, de 23 anos, Miguel Jorge dos Santos, de 56, Francisco Nascimento Rocha, de 72, Juvenal Jorge da Silva, de 65, e Joaquim José dos Santos, de 48 - e mais 20 pessoas ficaram feridas, inclusive crianças.

As cinco vítimas foram executadas com tiros à queima-roupa. Adriano Chafik confessou ter participado do massacre, mas poucos dias depois conseguiu, por meio de habeas corpus, responder ao processo em liberdade.

As famílias de Sem Terra ocuparam o local em 2002 e tinham denunciado à Polícia Civil o recebimento de ameaças por parte dos fazendeiros. No mesmo ano, 567 dos 1.700 hectares da fazenda foram decretados pelo Instituto de Terra de Minas Gerais (ITER) como terra devoluta, que é uma área do Estado e que deveria ser devolvida para as famílias.

Nove anos depois do episódio, as famílias ainda vivem no assentamento, aguardando que parte da área seja desapropriada. Iniciado há 14 anos, o processo agora tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Atualizada às 11h14.

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