Mente blindada: exercícios físicos e alimentação saudável são apostas para evitar a demência

Marília Mesquita
17/08/2019 às 11:46.
Atualizado em 05/09/2021 às 20:02
 (Riva Moreira)

(Riva Moreira)

Dieta balanceada e exercício físico não ajudam apenas a manter o corpo esbelto. Ter estilo de vida saudável pode reduzir em até 60% o risco de demência, enfermidade que acomete 10 milhões de pessoas, a cada ano, no mundo – número que deve triplicar nas próximas três décadas. Até mesmo quem tem predisposição à doença é beneficiado com os hábitos, que também incluem evitar bebida alcoólica e cigarro.

É o que sugere estudo publicado recentemente no jornal Jama, da Associação Médica Americana. A pesquisa ainda indica que manter a mente ativa, com leitura e jogos de tabuleiro por exemplo, preserva a memória.

A demência é caracterizada pela perda das funções cerebrais, como o raciocínio, afetando o humor, a vida social e a locomoção dos pacientes. “É uma disfunção progressiva que culmina com a perda de autonomia e, na maioria das vezes, é irreversível”, pontua a geriatra Marayra França, da Clínica Penchel. Apesar de mais comum em idosos, a médica alerta que jovens também podem desenvolver o mal.

Sem parar
Não se exercitar está fora de cogitação para quem deseja ficar livre da demência, reforça o psiquiatra Paulo Roberto Repsold, cooperado da Unimed-BH e diretor da Associação Médica de Minas Gerais (AMMG). Segundo ele, a degeneração dos neurônios leva ao rompimento com as conexões cerebrais, desenvolvendo a enfermidade. 

O especialista afirma ser necessário criar estratégias que eliminem essa vulnerabilidade mental. “Quando se é jovem e se tem uma vida ativa, as tarefas que estimulam o cérebro são feitas cotidianamente. Com o avanço da idade, as pessoas param com essas atividades”, frisa. 

Não é o caso de Cacionila Santos. Aos 72 anos, ela faz questão de ter a agenda bem cheia: vai à academia, participa da programação da igreja e frequenta um grupo de terceira idade no bairro das Indústrias, na região do Barreiro, em Belo Horizonte. “Tem um ditado que fala ‘cabeça vazia, oficina do diabo’. Então, tenho a minha sempre em movimento”.

“É (a demência) um dos sintomas de doenças degenerativas, como Alzheimer e Parkinson. No entanto, pode decorrer de parada cardiorrespiratória, Acidente Vascular Cerebral (AVC) e traumas ou tumores no crânio”Marayra França - Geriatra da Clínica Penchel e do Hospital Materdei

Nem mesmo em casa a mulher fica parada. Com o marido, Ivo Leite, de 81, Cacionila lê livros, assiste televisão e joga cartas e dama. “E utilizo o celular e o computador para brincar de baralho. Tenho uma saúde muito boa e acredito que tudo o que faço ajuda a mantê-la assim, inclusive a minha memória”, conta.

Estímulo
O exercício mental dificulta o surgimento da demência, complementa Elizabeth Comini, membro da Academia Brasileira de Neurologia (ABN). “A organização do pensamento e o raciocínio precisam ser estimulados para melhorar a carga de memória”, diz.

A médica orienta criar novos hábitos, como aprender idiomas, manusear instrumentos musicais, praticar desenho e resolver equações matemáticas. Segundo ela, essas atividades retardam o quadro clínico.

Mudança no estilo de vida ajuda a melhorar quadro clínico

 Lucas PratesElenice conta que, além da mudança de hábitos, o carinho da família também ajuda o pai, José Itamar

O consumo de nutrientes combinado com atividades físicas regulares também beneficia quem já apresenta algum comprometimento cerebral. Convivendo com Alzheimer há uma década e meia, José Itamar de Sousa, de 89, apresentou melhora no quadro clínico há dois anos, após iniciar a reeducação alimentar e começar a fazer exercícios.
 
Antes, ele até sofria convulsões no período mais crítico da doença. “Começou a ter alucinações, comportamento agressivo e confusão mental”, relembra Elenice Sousa, filha do idoso, garantindo que, agora, as condições do pai estão bem melhores. 

50 milhões de pessoas têm o diagnóstico de demência no mundo, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS); número deve triplicar nos próximos 30 anos

Segundo o neurologista Paulo Caramelli, os exercícios aeróbicos, como caminhada, corrida e natação, ao menos 150 minutos por semana, dão bons resultados no tratamento. “A atividade libera uma proteína (BDNF) que impulsiona a produção de neurônios em regiões cerebrais que lidam com a memória”, explica o professor da Faculdade de Medicina da UFMG.

Dieta
A alimentação também é importante nesse processo, destaca a professora Ana Carolina Barbosa, do curso de Nutrição das Faculdades Kennedy. Segundo ela, Ômega 3, vitaminas B e gorduras benéficas são nutrientes que agem diretamente nos neurotransmissores. “Esses protetores neurais podem ser encontrados em sardinha, salmão, castanhas, amêndoas, banana, leguminosas, azeite de oliva e abacate”, diz a docente.Arte

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