Minas já tem um a cada 4 casos de dengue no país

Simon Nascimento
22/04/2019 às 08:14.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:20
 (Maurício Vieira/Hoje em Dia)

(Maurício Vieira/Hoje em Dia)

Com o maior número de casos prováveis de dengue nos últimos três anos em Minas, 2019 coloca autoridades de saúde em alerta diante da quantidade de doentes e da pulverização deles pelo Estado. São pelo menos 121.699 registros em 548 cidades. Na ponta do lápis, está em território mineiro uma em cada quatro pessoas no país que sucumbiram ao Aedes aegypti. Quadro que tende a se agravar hoje, quando sai o novo balanço da doença.

Desde 1º de janeiro, foram 14 óbitos. Betim, na Grande BH, é a cidade que concentra a maioria das mortes por causa do vírus: seis. Mais de sete mil diagnósticos foram confirmados por lá. 

Para tentar amenizar a superlotação das unidades de saúde em virtude da dengue, a Prefeitura de Betim criou um comitê de enfrentamento à doença. O grupo determinou a abertura de dois serviços de hidratação venosa em hospitais e Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) da cidade. Cinco médicos foram contratados. 

Situação semelhante ocorre em Uberlândia, no Triângulo Mineiro. O município registrou dois óbitos por dengue e mais de 2 mil casos prováveis da enfermidade. Procurado, o Executivo municipal não informou quais ações estão sendo adotadas para atender à população.
Em Ibirité, na Grande BH, uma pessoa também morreu em decorrência da doença. Por lá, são 2.100 notificações. A prefeitura informou que reforçou o atendimento nos centros de saúde e intensificou a aplicação de inseticida por meio do fumacê, em áreas críticas da cidade.

Dificuldades

Ex-diretor da Sociedade Mineira de Infectologia (SMI), Antônio Carlos de Castro explica que localidades do interior tendem a ter mais dificuldade no atendimento aos pacientes pela incapacidade de estrutura e recursos. 

Para ele, o Estado não se preparou de maneira correta para enfrentar a epidemia neste ano. “A tendência é a de que daqui três semanas o número de casos diminua. Então há uma necessidade de recursos financeiros e humanos muito grande para um curto período. Infelizmente nossos processos são burocráticos, e quando estes recursos chegarem, provavelmente a situação de crise terá passado”, avalia. 

Questionada, a Secretaria de Estado e Saúde (SES) informou ter destinado R$ 4,1 milhões para 93 municípios que estão com alta incidência de dengue. A pasta informou ainda que um decreto de emergência está sendo elaborado. Apesar de não ter data para ser publicado, o documento, garante o órgão, vai facilitar e viabilizar ações e procedimentos de assistência à saúde das pessoas doentes por conta do Aedes aegypti nas cidades mais afetadas.
 

Segundo a SES, 99 municípios do Estado estão com alta incidência de casos prováveis de dengue. Até o momento, conforme a secretaria, 2019 segue a tendência de anos epidêmicos com a circulação do vírus sorotipo 2

 Maurício Vieira/Hoje em Dia / N/A

“A gente fica sentado com dor, mal-estar e não é chamado”, reclamou Liliane da Silva, que foi à UPA Barreiro



​Peregrinação para atendimento nas unidades de saúde de BH 


A escalada de casos de dengue no Estado também assusta aos moradores da capital. Segundo a Secretaria de Saúde de Belo Horizonte, são 4.185 casos confirmados e 14.271 pessoas aguardando resultado de exames laboratoriais. Há duas semanas, a PBH tem aberto centros de saúde nos fins de semana para atender aos pacientes com suspeita da doença. 

No último sábado, quatro unidades prestaram assistência nas regionais Pampulha, Barreiro, Venda Nova e Nordeste. Com a demanda em alta, o Conselho Municipal de Saúde defende, além da abertura de alguns postos nos fins de semana, que a PBH estenda a medida aos domingos e reforce a equipe médica. 

Outra ação que o órgão pede é a abertura das Unidades de Reposição Volêmica (URVs) – consultórios para atendimento exclusivo a pacientes com dengue. Gerente de Urgência da Secretaria Municipal de Saúde, Alex Sander Pena informou que o executivo abriu chamamento para contratar mais de 200 profissionais da área médica. 

Além disso, conforme o gestor, a pasta estuda abrir os centros de saúde aos domingos. “Estamos avaliando muitas possibilidades. No caso da Reposição Volêmica, a abertura de unidades está relacionada ao número de notificações que ainda é baixo na cidade, de 18 mil, se comparado com a epidemia de 2016, quando foram mais 100 mil”, explica. 

Enquanto isso, quem busca socorro nas Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) têm enfrentado uma verdadeira peregrinação. Com os espaços lotados, a espera por uma consulta pode passar de cinco horas.

Isolamento

Na última semana, a reportagem do Hoje em Dia visitou alguns locais e constatou o problema. Na UPA Barreiro, a PBH, inclusive, isolou uma área no saguão para hidratação de pessoas com sintomas da enfermidade. “A gente fica sentado com dor, mal-estar e não é chamado”, reclamou a dona de casa Liliane da Silva, de 33 anos, moradora da Vila Ecológica, no Barreiro. 

Em Venda Nova, a técnica em limpeza e impermeabilização Natália Ribeiro, de 27, esperou por mais de quatro horas para ser atendida. “Estou com muitas manchas no corpo, febre alta, dores, mas o atendimento é muito demorado”, disse. 

Sobre a espera para ser avaliado por um médico, Alex Sander Pena explicou que ela está relacionada ao enfrentamento dos surtos de dengue e síndrome respiratória. “Há uma sobrecarga nas unidades de urgência e, por isso, pedimos que as pessoas procurem as UPAs apenas em casos de emergência, priorizando o atendimento nos centros de saúde”, explicou. 

Além disso

Virologista do laboratório de microbiologia da UFMG, Flávio Fonseca explica que a vacina existente contra a dengue é insuficiente para resolver o problema. A dose, segundo ele, não é adaptada para os quatro tipos de vírus da doença. “Ela pode manter a pessoa imune ao sorotipo um, mas pode complicar a infecção do sorotipo dois, por exemplo”, diz. 

O especialista também acredita que a criação de uma imunização para prevenir a doença é um desafio às autoridades e pesquisadores. “A febre amarela é um vírus só. Você consegue atingi-lo e quebra a cadeia de transmissão. Mas no caso da dengue são quatro ciclos diferentes”, pontua. 

Para além das ações do poder público, Flávio Fonseca é enfático ao comentar sobre as obrigações da população na prevenção da enfermidade. “Já que não existe uma vacina totalmente eficiente, a população precisa fazer a parte dela no combate ao vetor. O governo tem a responsabilidade de promover campanhas educativas, mas se as pessoas não adotarem os devidos cuidados, os focos do mosquito não serão eliminados”, orienta. 

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