Minas tem 24 pessoas desaparecidas a cada dia

Malú Damázio
mdamazio@hojeemdia.com.br
21/11/2018 às 20:22.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:56
 (MAURÍCIO VIEIRA)

(MAURÍCIO VIEIRA)

Vinte e quatro mineiros desaparecem por dia, deixando família, amigos e colegas de trabalho sem pistas sobre o paradeiro. Só até outubro deste ano, o Estado contabilizou 7.267 homens e mulheres, incluindo idosos e crianças, nessa condição. Na tentativa de otimizar as buscas, um novo site da Polícia Civil com fotos e informações dessas pessoas foi lançado ontem.

Vários são os motivos para o sumiço. As razões vão desde conflitos dentro de casa, rebeldia, doenças psiquiátricas e até dívidas financeiras. A suspeita deixa de ser uma hipótese e deve ser comunicada quando há quebra na rotina, conforme afirma a delegada Maria Alice Faria, chefe da Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida. 

“Se uma filha que mora em uma cidade diferente dos pais tem o costume de conversar com eles por telefone uma vez por semana e, passado esse prazo, a família não consegue contato, é preciso ficar atento e procurar a delegacia imediatamente”, explica.

Essa busca por socorro deve ser feita o mais rápido possível. Os responsáveis devem narrar com exatidão os últimos acontecimentos. “É muito comum os parentes esconderem algo ou não falar tudo de primeira. Em seguida, devem autorizar a divulgação da imagem”, acrescenta a policial.

Com os dados, é produzido um cartaz padronizado para ser distribuído por cidades mineiras e de outros estados, além de projetos sociais e organizações que acolhem andarilhos. A ajuda da família para divulgar o caso é bem-vinda, mas é preciso cuidado.

As pessoas devem utilizar, apenas, o canal de comunicação oficial da Polícia Civil. Telefones e endereços nunca devem ser apresentados. “Não é seguro, porque eles podem ser alvo de extorsão ou de indivíduos que queiram tirar proveito da situação de vulnerabilidade”, reforça a chefe da Divisão de Desaparecidos.

Agonia

Em Belo Horizonte, 1.171 queixas de desaparecidos foram registrados nos primeiros dez meses deste ano. Uma família do Barreiro vive na pele esse drama. O aposentado Luiz Fernandes Gomes Cosso, que iria celebrar ontem 78 anos, sofre de Alzheimer e foi visto pela última vez em 23 de outubro. Ele morava com a esposa, Maria Helena Cosso, de 73, na capital.

A mulher conta que, no dia do desaparecimento, o marido estava muito agressivo e não conseguiu re-conhecê-la devido à doença degenerativa. Não é a primeira vez que Luiz desaparece. Em um episódio anterior, foi encontrado em Betim, na região metropolitana, pela filha. “Estamos tristes e temos rezado muito para que ele apareça. A preocupação é maior porque ele toma remédios controlados e está sem os medicamentos durante esse tempo”, diz Maria Helena.

Há dois meses, a família do auxiliar de transportes José Paulista Siqueira, de 43 anos, o procura. Segundo a empresária Marlúcia Siqueira, irmã dele, o tormento cresce a cada dia quando pensa que José pode ter morrido. “Não tenho mais esperanças de achá-lo vivo. Mas se nós soubéssemos que estava morto, poderíamos enterrar o corpo e acabar com essa agonia. Tem dias que não dormimos, fico pensando se ele está com fome. É horrível”, diz. 

José saiu de Ribeirão das Neves, na Grande BH, para levar uma carga em Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Na volta para casa, o caminhão em que estava estragou perto do município de Ibiá, na região. Enquanto o motorista foi buscar socorro, ele deveria vigiar o veículo. Quando o reboque chegou, porém, o mineiro havia desaparecido. 

Na noite do dia seguinte, o caminhoneiro avisou a família sobre o sumiço de José. Além de comunicar a Polícia Civil, parentes chegaram a viajar até a cidade para procurar por ele. “Nós colamos cartazes, fomos a hospitais, avisamos os órgãos públicos, espalhamos fotos. Os investigadores procuraram nas matas próximas ao local do acidente e em um rio que corta o município, mas não encontraram nada”, conta a irmã. 

No ar

O novo site da Polícia Civil foi lançado ontem e já está no ar. O endereço eletrônico é desaparecidos.mg.gov.br. O portal conta com recursos multimídia e novas ferramentas. Áudios, fotos e vídeos poderão ser divulgados pela corporação após a autorização dos familiares.

Segundo o investigador Bráulio Renato de Oliveira, os recursos vão ajudar na resolução dos casos. “Agora temos a possibilidade de ampliar essas imagens, colocar informações completas dos desaparecidos, incluindo a idade atualizada, a data do fato e a cidade”.

A chefe da divisão, Maria Alice Farias, no entanto, reforça que as pessoas devem procurar, sempre, as delegacias para reportar a ocorrência, tanto do desaparecimento quanto da localização.Editoria de Arte

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