Mineiros tentam montar rede de apoio nos EUA para resgatar crianças de Cuparaque

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
25/06/2018 às 16:34.
Atualizado em 10/11/2021 às 00:58
 (SPENCER PLATT / GETTY IMAGES NORTH AMERICA)

(SPENCER PLATT / GETTY IMAGES NORTH AMERICA)

Entre as 51 crianças e adolescentes brasileiros que permanecem separadas dos pais, em abrigos dos Estados Unidos, estão quatro moradores de Cuparaque, pequena cidade do Vale do Rio Doce. Três deles, de 16, 10 e 8 anos, tentararam atravessar a fronteira do México com a mãe, há cerca de quatro semanas, quando foram separados por causa da política de tolerância zero imposta pelo presidente Donald Trump aos imigrantes ilegais. Outro caso refere-se a um menino de 9 anos, que está em um abrigo perto de Houston, enquanto sua mãe teve liberdade condicional concedida no estado de Massachusetts.

De acordo com Wanderley Faustino, vereador do município, os moradores de Cuparaque têm movimentado seus contatos nos Estados Unidos para conseguir ajudar uma das mães a rever os três filhos. “Muitas vezes, as pessoas viajam para os Estados Unidos em completo sigilo. Só ficamos sabendo quando a pessoa já está lá. Assim que souberam desse caso, os moradores se mobilizaram para tentar conseguir um advogado para essa mãe”, conta o vereador.

O Hoje em Dia conversou com uma cunhada da mãe das três crianças, que pediu para não ter o nome publicado. Ela relatou que os parentes que estão nos Estados Unidos estão trabalhando para levantar a documentação necessária para tirar os pequenos do abrigo. Uma tia deve abrigá-los em Boston, cidade que agrega uma grande comunidade brasileira. 

Já o menino de 9 anos que se encontra em um abrigo em Houston deve se reencontrar com a mãe ainda nesta semana. Segundo o cônsul-geral adjunto do Brasil em Houston, Felipe Santarosa,  a assistente social do abrigo está providenciando os papéis para poder promover o reencontro da família. A mãe, que está em liberdade condicional em cidade de Massachussetts, aguarda o processo que definirá se ela deve ser deportada. 

De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, 51 brasileiros menores de idade estão em abrigos norte-americanos, mas não é possível saber quantos deles são de Minas Gerais, já que não há uma diferenciação por naturalidade. A assessoria de imprensa do ministério informa que três crianças estariam na iminência de sair do abrigo, pois a mãe teria conseguido a permissão para que eles fiquem na casa de uma tia em Tucson, no Estado do Arizona. A pasta, porém, não confirma se esse caso se refere a crianças de Cuparaque.

Cultura da imigração

Com menos de 5 mil habitantes e com uma economia voltada para o agronegócio, Cuparaque fica em uma região onde muitos moradores imigram para viver o “sonho americano”. Cidades vizinhas, como Conselheiro Pena (terra natal de três mineiros que morreram ano passado tentando fazer a travessia do deserto mexicano até a fronteira) e Mantenópolis (ES), vivem a mesma realidade.

“Cada família tem pelo menos um membro nos Estados Unidos. Normalmente, as pessoas conseguem entrar no país. Mesmo quando são presas, pagam fiança e esperam pelo processo. Esse foi o primeiro caso de história triste com moradores da cidade que tentaram imigrar”, diz a prefeita de Cuparaque, Mônica Balbino.

Ela conta que conhece bem a família das três crianças que estão vivendo o drama da separação nos EUA e que convivia diariamente com a mãe das crianças no ambiente da paróquia Sagrado Coração de Jesus. “Ela não nos contou nada. Quando ficamos sabendo, eles já tinham viajado. Acreditávamos que estavam presos juntos, mas soubemos pela imprensa que a mãe ficou separada quilômetros dos filhos”,relata a prefeita. “Esperamos que haja uma atitude por parte do governo americano, porque a gente imagina que as crianças, especialmente as menores, estão vivendo um grande sofrimento”.

Para o vereador Wanderley Faustino, o presidente Donald Trump conseguiu atingir o ponto fraco das famílias que fazem a travessia. “As pessoas saem daqui para enfrentar grandes perigos na fronteira. Mas agora, ao separar as crianças das mães, o governo americano atingiu um ponto fraco das famílias, para amedrontar quem pensa em imigrar”.Paul Ratje / AFP / N/A

No Texas, moradores protestaram contra a política de Trump

Tolerância zero

Desde abril deste ano, milhares de famílias que tentaram entrar ilegalmente nos Estados Unidos acabaram afastadas de seus filhos. Estima-se que mais de 2 mil crianças foram afetadas pela medida adotada pelo governo Trump, que, diante de críticas oriundas de vários países e do Escritório de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, ordenou, na última quinta-feira (21), que as famílias fossem reunidas.

A questão deve ser um dos assuntos debatidos entre o presidente Michel Temer e o vice-presidente norte-americano, Mike Pence, que visita Brasília nesta terça-feira (26).

Segundo o Ministério das Relações Exteriores – Itamaraty, o governo brasileiro acompanha com muita preocupação o aumento de casos de menores brasileiros separados de seus pais ou responsáveis que se encontram sob custódia em abrigos nos Estados Unidos, “o que configura uma prática cruel e em clara dissonância com instrumentos internacionais de proteção aos direitos da criança”.

O Itamaraty orientou os consulados do Brasil nos Estados Unidos a reforçarem as medidas que já vêm sendo adotadas nos últimos anos para a proteção consular aos menores de nacionalidade brasileira, entre as quais: mapeamento de todos os abrigos ao redor do país para a identificação de novos casos; intensificação do monitoramento e da assistência consular aos menores, com visitas regulares; orientação a pais ou responsáveis de ações legais que podem ser impetradas com vistas à recuperação da guarda e reunificação familiar; realização de campanhas de esclarecimento, em coordenação com os conselhos de cidadãos brasileiros nos Estados Unidos, sobre os riscos da travessia pela fronteira, em especial com menores de idade; coordenação e intercâmbio de informações com as repartições consulares dos demais países emissores de emigrantes. (Com informações da Agência Brasil)

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