Mobilidade urbana é entrave para que BH se destaque em ranking de bem-estar

Ernesto Braga e Malu Damázio
horizontes@hojeemdia.com.br
27/09/2016 às 20:25.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:00
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

O deslocamento de casa para o trabalho continua sendo um martírio para quem mora em Belo Horizonte. Gasta-se mais de uma hora na ida e volta, tempo máximo aceitável, e a metrópole aparece na 23ª posição do ranking da mobilidade urbana entre as 26 capitais e o Distrito Federal.

Esse é o principal motivo para que a capital mineira apareça apenas em 4º lugar na avaliação do bem-estar da população. A mobilidade urbana foi um dos cinco indicadores analisados.

BH se destaca em relação à infraestrutura urbana, a serviços como fornecimento de água e coleta de esgoto e às condições ambientais, mas também deixa a desejar no quesito habitação.

“Fica evidente a fragilidade na mobilidade, que mostra um desequilíbrio do tecido urbano, com as pessoas morando cada vez mais distantes de onde trabalham”, destaca o arquiteto e urbanista Sérgio Myssior.

O especialista, que faz parte do Conselho Estadual de Arquitetura e Urbanismo de Minas Gerais, analisou o Índice de bem-estar urbano dos municípios brasileiros (Ibeu Municipal). A pesquisa feita pelo Observatório das Metrópoles conceitua BH como nível médio na mobilidade.

A cidade também é considerada nível “médio” na infraestrutura urbana. “Há regiões contempladas com boa qualidade de todos os elementos (iluminação pública, pavimentação e calçadas), como a Centro-Sul, mas outras partes da cidade não têm a mesma condição”, aponta Myssior.

Déficit

Embora BH seja conceituada como “nível bom” nas condições habitacionais, o urbanista aponta uma falha que, se corrigida, faria com que a capital mineira desse um salto neste ranking. “O 7º lugar neste indicativo, para mim, é negativo. E essa posição se deve muito ao déficit de 140 mil habitações”, diz.

Mesmo com as ocupações irregulares desprovidas de coleta e tratamento de esgoto, BH aparece com nível “muito bom” nos serviços coletivos urbanos. A coleta e tratamento de esgoto, por exemplo, atinge 87,8% dos quase 1,5 milhão de moradores. A cidade também se destaca pela arborização e coleta de lixo.
 Lucas Prates

INFRAESTRUTURA – Falta de pavimentação e lixo são alguns dos problemas encontrados em BH

Deslocamento é gargalo na maioria das capitais brasileiras

Como em Belo Horizonte, a mobilidade urbana foi o calcanhar de aquiles da maioria das capitais, segundo o Ibeu Municipal. “Na avaliação do tempo de deslocamento, só quatro capitais tiveram índices menores (que uma hora na ida e volta entre a casa e o trabalho): Manaus, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo”, ressalta Marcelo Gomes Ribeiro, coordenador da pesquisa.

Professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ele afirma que a proposta do estudo é “monitorar as condições urbanas, verificar os pontos mais problemáticos e ajudar o poder público a traçar políticas que priorizem essas questões que ainda dificultam viver em cidade”.

Foram avaliados os 5.565 municípios brasileiros, usando dados do último censo demográfico do IBGE, de 2010. As notas são de 0 a 1 – quanto mais próximo de 1, melhor é o índice da cidade. 

O Boulevard Arrudas, o Move e a Via 210 foram feitos para melhorar a mobilidade urbana em BH

De acordo com Ribeiro, também foram avaliados índices da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, de 2014, que não apresentaram avanços em relação ao censo. “Nacionalmente, os dados mostram que ainda há muita desigualdade no país. As regiões Sul e Sudeste tiveram os melhores desempenhos, enquanto o Norte e o Nordeste ocuparam as piores posições. O Centro-Oeste ficou em uma zona de transição. Isso reflete uma grande necessidade de políticas urbanas nacionais que possam minimizar as diferenças regionais do Brasil”, diz Ribeiro.

Intervenções

Por meio de nota, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) listou uma série de intervenções feitas para melhorar a mobilidade urbana na cidade: o Boulevard Arrudas, o Move, o Centro de Operações e o Complexo Via 210 são os principais. Também está em andamento a ampliação do Complexo da Lagoinha.

“A frota de veículos da capital aumentou 149% de 1999 a 2014, passando de 655.227 para 1.632.215. Em função disso, a mobilidade urbana foi destacada como um dos principais desafios a serem superados para a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento urbano no Plano Estratégico de BH”, diz a nota.

Em relação à infraestrutura urbana, a PBH destaca a parceria público-privada para revitalização da iluminação pública. Também é executado um programa contínuo de recapeamento de vias.Editoria de Arte

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