Morador de abrigo em BH vai cursar Engenharia e serve de exemplo para outros acolhidos

Da Redação
17/04/2019 às 15:59.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:16
 (Reprodução G1)

(Reprodução G1)

O fato de morar em um abrigo público de Belo Horizonte não foi empecilho para que o técnico em mecânica Cassimiro Gonçalves dos Santos Neto, de 39 anos, conseguisse realizar o sonho de entrar para uma grande universidade. Após um bom resultado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ele passou para o curso de engenharia mecânica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) pelo sistema de cotas. Agora, seu sucesso é comemorado pelos outros 36 moradores do abrigo e serve como exemplo de superação e perseverança.

Segundo a coordenadora da unidade de acolhimento Professor Fábio Alves, no bairro Carlos Prates, região Noroeste de Belo Horizonte, Raquel Jannuzzi, o clima no abrigo é de celebração. "Essa conquista foi muito legal para todos. Fizemos uma atividade entre os abrigados e todos brincaram com o amigo que virou celebridade e reforçaram suas conquistas. Um celebrou que tirou a carteira de habilitação, outro comemorou ter conseguido um emprego", conta a coordenadora. 

Cassimiro mergulhou no universo dos estudos após perder emprego, casa, família e noiva. Quando viu a vida desmoronar, ele procurou ajuda à assistência social da Prefeitura de Belo Horizonte e foi incentivado a retomar os estudos, finalizando o Ensino Médio por meio do programa de Ensino de Jovens e Adultos (EJA).

O técnico em mecânica tomou gosto pelos estudos e, no ano passado, usou seu tempo livre para estudar na Biblioteca Pública Estadual Luis de Bessa, na Praça da Liberdade. A dedicação foi recompensada. Além do processo seletivo da UFMG, ele também passou em um concurso público do governo de Minas Gerais para uma vaga de camareiro hospitalar e aguarda a convocação. Espera conseguir emprego para conseguir se sustentar durante os cinco anos de graduação.

Vendedor de balas sonha em cursar Medicina

A entrada de Cassimiro na universidade pública serve de inspiração para que outras pessoas busquem a tão sonhada vaga, superando as dificuldades financeiras. O jovem Lucas Santos Paiva, de 18 anos, tem mostrado seu desejo de estudar Medicina na UFMG e conseguido apoio de pessoas que não o conhecem.  Arquivo pessoal / N/A

Lucas trabalha das 6h às 11h

“Me ajude a realizar meu sonho que é cursar Medicina. Você pode me ajudar, adquirindo essas balas com o valor que sentir no seu coração” é o recadinho que Lucas entrega aos motoristas que passam pela avenida Silviano Brandão pela manhã, junto a um pacotinho de balas. Com o dinheiro arrecadado, ele paga as contas e consegue reservar um bom tempo do dia para estudar para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Nascido em Ribeirão Preto, Lucas se mudou para Minas Gerais depois de se apaixonar por uma moça mineira. O relacionamento acabou, mas ele decidiu não voltar para casa e buscar uma vaga dentro do curso de Medicina da UFMG.

O rapaz mora em uma pensão no bairro Concórdia e vende balas das 6h às 11h em um semáforo da avenida Silviano Brandão, bem próximo ao cruzamento com avenida Cristiano Machado. Seu segredo, segundo ele, está em pedir uma contribuição espontânea. “O cliente fica mais confortável para comprar. Tem gente que tem maldade e não dá um bom valor, mas tem outras pessoas que são mais generosas e fazem tudo compensar”, diz o rapaz.

Assim que chegou a Belo Horizonte, Lucas começou a vender brigadeiros, mas percebeu que o comércio de balas nos semáforos oferece um ganho maior. “Nos dias ruins, ganho R$ 45, mas nos dias bons o ganho chega a R$ 120. E trabalho sempre pela manhã. Já fiz testes em outros horários e vi que as pessoas estão mais dispostas a comprar pela manhã”.

A partir das 16h, Lucas se dedica aos estudos, refazendo questões de provas do Enem anteriores. Estudo que pode ganhar mais qualidade em breve. “Um motorista me ofereceu as apostilas de cursinho do filho dele”, lembra.

E por que Medicina? “Sempre gostei de ajudar as pessoas e admiro muito essa profissão. Se não conseguir passar na UFMG, espero conseguir uma bolsa numa faculdade particular”, conta.

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