Moradores da Pampulha sugerem volta de bebida alcoólica no Mineirão pelo fim de transtornos

Hoje em Dia*
03/12/2014 às 20:56.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:15
 (Ricardo Bastos - Hoje em Dia)

(Ricardo Bastos - Hoje em Dia)

Enquanto as polícias Militar e Civil admitem não conseguir resolver os problemas no entorno do Mineirão, em dias de jogos, a solução apontada para os transtornos é a volta da bebidas alcoólicas no estádio e a proibição de churrasqueiras em passeios, na região da Pampulha, em Belo Horizonte. O tema foi debatido nesta quarta-feira (3), em audiência pública, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).   Os problemas denunciados por moradores do entorno do Mineirão são carros estacionados nas portas de garagens, barulho excessivo, sujeira, torcedores urinando em vias públicas ou em muros de residências, churrascos feitos em cima da grama, extorsão de flanelinhas, agressões verbais e físicas. Os transtornos, já mostrados em reportagens pelo Hoje em Dia, também foram tema recente de uma reunião na Câmara Municipal de BH.   Durante a reunião, o comandante da 17ª Companhia da Polícia Militar, capitão Ronaldo Sanglard Bastos, admitiu que a PM não consegue resolver os problemas e precisa conter trágedias. “Faltando meia hora para o jogo, todo mundo quer entrar ao mesmo tempo, aí precisar ir lá conter a tragédia anunciada”, afirmou. Ele ainda disse que foram realizadas cerca de 100 reuniões com a comunidade local, sendo 48 para tratar apenas das questões relacionadas ao Mineirão, em uma tentativa de encontrar soluções.   Já o delegado da Polícia Civil Felipe Dias Falles reconheceu a impossibilidade de tomar medidas contra os flanelinhas. Segundo ele, o ato não é tipificado no Código Penal, e para que eles fossem punidos seria necessário que uma vítima os denunciasse por extorsão, que é tipificada como crime. Assim, as prisões são inócuas.   O delegado salientou, ainda, que a delegacia especializada nunca recebeu uma ocorrência relativa a atentado violento ao pudor – crime no qual deveriam ser enquadrados aqueles que urinam em vias públicas. Ele reforçou que a delegacia do bairro São Luiz é a mais bem equipada de Minas Gerais e destina-se a cuidar dos eventos realizados no Mineirão, inclusive como uma ramificação dentro do estádio durante esses eventos. Citou também outra delegacia, localizada no bairro Ouro Preto, para cuidar das ocorrências envolvendo os eventos no estádio.   Soluções   A volta da venda de bebidas alcoólicas no Mineirão e o retorno dos vendedores ambulantes à esplanada do estádio foram algumas das sugestões apresentadas para amenizar os problemas enfrentados pelos moradores da região.   Os participantes da reunião salientaram que no passado, o Mineirão recebia um número bem maior de torcedores do que atualmente é permitido e, ainda assim, não havia transtornos. A reforma feita para que o estádio recebesse jogos da Copa do Mundo reduziu o número de vagas de estacionamento, o que levou os torcedores para o interior dos bairros próximos.   Eles lembraram que os problemas não aconteceram durante o evento internacional e reivindicaram a continuidade do “Padrão Fifa”, com a venda de bebidas alcoólicas dentro do estádio e a proibição de circulação nas ruas do entorno durante os eventos. De acordo com os moradores que se manifestaram, as medidas tomadas até agora pelo poder público foram insuficientes.   Para o capitão Ronaldo Sanglard Bastos, é preciso atacar a causa do problema: a proibição de venda de bebidas alcoólicas no interior do estádio. Acabar com essa proibição poderia, para o capitão, atrair os torcedores mais cedo para dentro do Mineirão e reduzir o problema no entorno.   “Por que antes o estádio recebia 100 mil torcedores e esses problemas não aconteciam e, agora, com metade dos torcedores, acontece tudo isso?”, questionou. Segundo o comandante, ao longo deste ano foram presos 168 flanelinhas durante os eventos e mais de 500 notificações foram encaminhadas ao Departamento de Trânsito (Detran). Foram realizadas também cerca de 100 reuniões com a comunidade local, 48 das quais para tratar apenas das questões relacionadas ao Mineirão, em uma tentativa de encontrar soluções.   O deputado Sargento Rodrigues (PDT), autor do requerimento para a realização da reunião, afirmou que todos os problemas relatados pelos moradores se constituem como crimes, contravenções penais ou infrações de trânsito, e precisam ser inibidos. Ele mostrou também fotos e um vídeo produzido pela equipe da ALMG a requerimento do parlamentar durante o último jogo entre Cruzeiro e Atlético, para que ficassem claros os motivos da reclamação.   O deputado questionou também a razão para, em dias de jogos, o estacionamento ser proibido ao longo de avenidas como a Abrahão Caram, onde é permitido estacionar em outros dias. “Para o torcedor, todas as providências já foram tomadas – para garantir a fluidez do trânsito, a segurança no estádio, tudo. Mas e o morador? Eles estão pagando toda a conta”, disse.   O vereador de Belo Horizonte Edvaldo Piccinini ressaltou outro risco, relacionado a um posto de gasolina próximo, no qual é vendida bebida alcoólica e há grande aglomeração de torcedores. Ele considerou que há um grande risco de explosão no local.   O deputado Alencar da Silveira Jr (PDT) disse que foi favorável à proibição de bebidas alcoólicas no Mineirão há alguns anos e, apesar disso, apoia o retorno da venda agora. Ele sugeriu que as vendas fossem permitidas até o início do segundo tempo dos jogos, pois assim os torcedores teriam 45 minutos de festa sem acesso a álcool antes de saírem do estádio.   Prefeitura apresenta medidas que já estão sendo tomadas   Os representantes da Prefeitura de Belo Horizonte afirmaram que medidas já estão sendo estudadas, e algumas já teriam começado a ser implantadas, para amenizar os problemas. De acordo com o secretário municipal de Serviços Urbanos Pier Giorgio Filho, será lançada ainda este mês uma licitação para que sejam instaladas feiras de alimentos e bebidas em dias de jogo. Dessa forma, ele acredita que os torcedores ficariam mais concentrados nesses locais, e não espalhados pelos bairros.   Filho disse, ainda, que já foi encaminhada uma proposta de proibição do uso de churrasqueiras nas vias públicas. “Infelizmente não temos em nossa legislação norma que proíba o consumo de bebidas alcoólicas em vias públicas e as pessoas usam isso em sua defesa: dizem que têm o direito de estar ali”, afirmou. Ele disse ainda que todas as ações no sentido de buscar soluções para as questões apresentadas estão sendo tomadas.   A instituição de uma comissão com representantes de várias entidades para discutir soluções foi apontada pelo secretário regional da Pampulha, Humberto Pereira de Abreu Lima, como demonstração de interesse da prefeitura em resolver as questões. Ele disse, ainda, que está sendo estudada a possibilidade de um convênio com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para a utilização de alguns espaços da instituição de ensino para o estacionamento de veículos em dias de eventos. “Com o término do Campeonato Brasileiro, teremos mais tempo para pensar em soluções para o próximo ano”, disse.   Para BHTrans, solução é incentivar o transporte público   A recente instalação, no dia 2 de novembro, de uma linha de ônibus que acessa o Mineirão por faixas exclusivas em dias de jogos foi apontada pela gerente de ação regional Noroeste/Pampulha, Maria Inês de Oliveira Franco, como ação mais significativa da BHTrans para resolver os problemas apontados. “As vagas de estacionamento serão sempre limitadas; o objetivo é incentivar o uso do transporte público”, disse. Ela afirmou também que será instalada a sinalização definitiva nas ruas do entorno do estádio, já que atualmente as faixas são móveis e muitas vezes acabam sendo retiradas pelos flanelinhas, o que acaba dificultando a fiscalização.   Sobre a proibição de estacionamento nas avenidas Abrahão Caram e Carlos Luz, a representante da BHTrans lembrou que uma das faixas nessas avenidas é exclusiva para ônibus em dias de jogos, e que são necessárias as duas outras faixas para garantir a fluidez do trânsito. Nas ruas do interior dos bairros do entorno, ela disse estar ciente do problema, agravado pelo fato de essas ruas serem estreitas.   Segundo Franco, já foi publicada portaria proibindo o estacionamento de vans e ônibus nessas ruas, e deseja-se também implantar estacionamento apenas em uma das faces dessas vias, respeitadas as garagens, para facilitar as manobras dos moradores e o acesso de carros de reboque. Ela afirmou que no último jogo no Mineirão foram rebocados 23 carros na região.   Ricardo Henriques, assessor de inteligência empresarial e análise de risco do consórcio Minas Arena, que administra o Mineirão, disse que o planejamento contempla a abertura antecipada do estádio e que está sendo feito estudo para buscar uma esplanada mais atrativa no sentido de levar os torcedores para o campo o mais cedo possível. Ele disse, ainda, que estão abertos ao diálogo com os órgãos públicos e os moradores para ajudar a achar soluções para o problema.   Requerimentos    O deputado Sargento Rodrigues apresentou vários requerimentos para tentar resolver o assunto. Ele pede, por exemplo, que a Polícia MIlitar faça policiamento velado nas ruas dos bairros próximos no jogo a ser realizado no próximo domingo (7). Outro requerimento é para que a BHTrans coloque fiscais também nas ruas dos bairros, e não apenas nas vias principais.   O deputado Alencar da Silveira Jr, por sua vez, fez requerimento para que seja realizada outra audiência pública para tratar do tema e que, dessa vez, sejam convidados os representantes dos barraqueiros do Mineirão. Os requerimentos devem ser votados em reuniões futuras da comissão.

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