Moradores desafiam o perigo nas áreas de risco em BH

Alessandra Mendes e Patrícia Santos Dumont - Hoje em Dia
19/11/2013 às 08:32.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:13
 (Carlos Rhienck)

(Carlos Rhienck)

Apesar de a Prefeitura de Belo Horizonte destacar a forte redução do número de moradias em áreas de risco de desabamento, a reportagem do Hoje em Dia constatou uma realidade diferente. Em uma visita ao maior aglomerado da cidade, o da Serra, na região Centro-Sul, é flagrante a construção de barracos em pirambeiras, em pleno período chuvoso.

Embora a Companhia Urbanizadora e de Habitação (Urbel) ressalte também a intensificação das ações nos últimos nove anos, há quem viva à beira de córregos, como no bairro Novo Aarão Reis (Norte), há mais de dez.

Sem cerimônia ou temor do que o aguardará quando “fixar residência”, Alexandre Alves, de 28 anos, ergue, sozinho, seu novo lar. O local “eleito” por ele, que faz “bicos” como servente de pedreiro e carpinteiro, é uma das encostas mais íngremes do aglomerado da Serra, onde, há cerca de dois meses, começaram a surgir dezenas de barracões feitos de madeira, alumínio e zinco.

“Ninguém está aqui porque quer, mas porque precisa. É gente que, como eu, não tem como pagar aluguel. Se vieram pra me tirar, vou lutar. Morar debaixo da ponte e na rua eu não vou”, justifica.

Vizinha do terreno de Alexandre, Dayse Fernandes Serra, de 33 anos, divide com os dois filhos, de 3 e 4, um modesto barraco construído com a ajuda de um amigo. O medo de ter a casa carregada pela chuva é grande, mas a necessidade, maior. “Tinha um aluguel de R$ 250, mas perdi o emprego e não tive mais como pagar. A saída foi vir para cá”, comenta.

Em outro ponto da cidade, em meio a centenas de casas localizadas em uma área invadida do bairro Novo Aarão Reis, não é raro encontrar quem resida no local há pelo menos uma década. É o caso da faxineira Glaucilene Andrade Pires, de 28 anos, que vive com os filhos gêmeos de 4 anos às margens do córrego do Onça.

“Quando chove, temos que ficar vigiando o nível da água. Quando começa a sair do leito já é hora de sair de casa e deixar tudo pra trás”, lembra. Glaucilene nem se dá conta de quantas vezes perdeu móveis e roupas nos 14 anos em que mora no local. Ainda assim, não pensa em se mudar de lá, a menos que seja indenizada pela prefeitura.

Um sonho que ainda parece muito distante para todos que têm o desejo em comum, como a dona de casa Tânia Soares, de 24 anos. O local onde vive com a mãe e os três filhos pequenos fica dependurado em um barranco, às margens do Onça. “A última vez que recebemos visitas de técnicos da prefeitura, na semana passada, falaram que a casa aguentava mais um ano. A ideia da indenização ficou mesmo só na promessa”, alega.
 

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