Moradores são removidos de casas sob risco de rompimento de barragem de água, na Zona da Mata

José Vítor Camilo
16/03/2019 às 10:10.
Atualizado em 05/09/2021 às 17:49
 (REPRODUÇÃO / LICENCIAMENTO AMBIENTAL)

(REPRODUÇÃO / LICENCIAMENTO AMBIENTAL)

Os 29 moradores que vivem na região da Pequena Central Hidrelétrica Mello, estrutura da Vale localizada na zona rural de Rio Preto, na Zona da Mata Mineira, passaram por momentos de apreensão na madrugada deste sábado (16). Em função da chuva forte, que elevou o risco de rompimento da estrutura que armazena água, as famílias tiveram que deixar o local, conforme informou a Polícia Militar da cidade. A evacuação aconteceu nesta manhã após contato telefônico de funcionários da mineradora. Dez imóveis foram esvaziados.

Coordenador-adjunto da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), o tenente-coronel Flávio Godinho explica que não se trata de uma barragem de rejeitos de minério, mas de uma hidrelétrica. "Trata-se da Central Hidrelétrica Mello, que tem 14 metros de altura e comporta 4,5 milhões de m³ de água. A estrutura teve o nível de risco elevado para 2, em função das grandes chuvas que atingiram a região nesta madrugada, como forma de precaução", detalhou.

Ao todo, foram removidas 19 famílias que viviam logo abaixo da barragem. Os moradores estão sendo encaminhados para hotéis da região, conforme a Defesa Civil. "Todo apoio está sendo dado. A PM já está no local bloqueando o acesso para evitar inclusive saques às residências. Estamos fazendo a evacuação de forma tranquila, calma e cautelosa e determinamos que a Vale adote todas as posturas necessárias, inclusive o recolhimento de animais", completou o tenente-coronel Godinho.

Licenciamento ambiental

A barragem tem 56,98 hectares de lâmina d’água no nível normal da estrutura e 68 hectares no nível de máximo, conforme consta no licenciamento concedido pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad) em 2013. A estrutura foi construída sobre o leito do Ribeirão Santana em 1996. "Foi construída toda em concreto compactado a rolo (CCR) e possui uma crista de 100 metros de extensão, 19 metros de altura máxima com crista de 4 metros de largura, situada na cota de elevação de 600 m, não possuindo estrutura de extravasamento de fundo", detalha o documento.

Contatos telefônicos

De acordo com a PM, a corporação recebeu diversas ligações de moradores durante a madrugada. As pessoas informavam sobre o risco da barragem se romper. Um funcionário da Vale teria sido procurado pelos militares e informado que uma manutenção era realizada na estrutura. Pela manhã, outro funcionário da mineradora, de Belo Horizonte, teria procurado a corporação para comunicar que deveria ser feita a evacuação do local, uma vez que havia risco de rompimento caso a chuva continuasse por 48h. 

Entre os imóveis que serão esvaziados estão casas, sítios e fazendas, algumas delas com grandes criações de gado e outros animais, conforme informaram PM e Defesa Civil. A prefeitura do município foi comunicada e também participa da operação de evacuação, por meio da Defesa Civil municipal, que está providenciando o transporte das pessoas. 

Posicionamento

O Hoje em Dia tentou contato com a prefeitura de Rio Preto, mas ninguém foi localizado por telefone. Ainda conforme a PM da cidade, a barragem fica a cerca de 10 quilômetros do centro do município - na divisa com Santa Bárbara do Monte Verde. A informação, no entanto, é de que caso haja um rompimento, somente Rio Preto seria atingida. 

Já a Vale divulgou nota sobre o assunto. Confira texto na íntegra:

"A Vale informa que acionou o nível 2 do plano de emergência da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Mello, em Rio Preto, Minas Gerais. O acionamento se deve à elevação do nível de água no reservatório da hidrelétrica, causado pelas chuvas intensas na região. 

Desde novembro do ano passado, a barragem passa por obras visando o aumento da segurança e foi estabelecido um gatilho para o acionamento do plano de realocação de pessoas para fora da Zona de Autossalvamento (ZAS) relacionado ao nível de água do reservatório.

A Vale acionou os moradores e disponibilizou hospedagem. São 10 propriedades rurais na ZAS e 29 pessoas mapeadas, sendo que algumas possuem residências em área urbana e não são moradores fixos. A Vale reitera que está prestando toda a assistência aos moradores.

A Vale está monitorando a situação. A barragem e o nível de água encontram-se estáveis. Ainda não há previsão de retirada de alerta"

Evacuações

De acordo com dados atualizados da Vale, além das 272 pessoas evacuadas em Macacos, foram retiradas de casa 344 moradores de comunidades de Barão de Cocais (MG), na madrugada de 8 de fevereiro. A medida foi adotada devido a riscos com a barragem Sul Superior da Mina do Gongo Soco. Além disso, a reavaliação da situação das barragens Vargem Grande, Forquilha I, Forquilha II e Forquilha III levou à retirada de mais 38 pessoas em 20 de fevereiro, nos municípios de Nova Lima e Ouro Preto. Já em Brumadinho, após a tragédia de 25 de janeiro, 271 moradores deixaram os locais onde moravam.

Além da Vale, outras mineradoras também realizaram evacuações. No mesmo dia em que a sirene soou em Barão de Cocais, moradores de Itatiaiuçu (MG) também foram pegos de surpresa. No município, cerca de 200 pessoas tiveram que deixar as casas onde viviam devido aos riscos de rompimento da barragem Serra Azul, da Arcellor Mittal. A última barragem em que o nível 2 foi acionado fica em Rio Acima (MG). A estrutura pertence à empresa Minérios Nacional.

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