Mortes em acidentes nas estradas provocados por motoristas que ignoram a lei crescem 50%

Simon Nascimento
scruz@hojeemdia.com.br
30/10/2018 às 20:32.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:31
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Utrapassar em local proibido, exceder o limite de velocidade, usar o celular ao volante e dirigir embriagado, só para ficar em alguns exemplos. O atropelo à lei nas estradas federais que cortam Minas resultou em um salto de 50% nas mortes em apenas nove meses.

Relatório da Polícia Rodoviária Federal (PRF) aponta vários acidentes provocados por motoristas ao cometer mais de uma infração ao mesmo tempo. O mapeamento atribui 57 óbitos em decorrência do desrespeito às normas de trânsito, de janeiro a setembro de 2018. Em todo o ano passado foram 38.

A dinâmica da colisão, o relato dos envolvidos e o monitoramento por câmeras são alguns dos fatores observados para se chegar à causa presumível. O estudo demonstra que as ultrapassagens indevidas são mais frequentes nas rodovias de pista simples. Já nas duplicadas, os riscos ficam por conta do excesso de velocidade.

O cenário reforça o alerta para o feriado prolongado de Finados, na próxima sexta-feira. O fluxo de veículos, porém, já deve aumentar a partir de quinta, devido aos recessos nas repartições públicas do Estado. Além disso, a previsão é de chuva no fim de semana em todo o território mineiro.Maurício Vieira Motorista de caminhonete ultrapassa veículos em local proibido e próximo a uma curva acentuada, no trecho conhecido como Rodovia da Morte

De janeiro a setembro deste ano, 549 mortes foram registradas nas rodovias federais de Minas, segundo a PRF

Imprudência

Em um rápido giro pela BR-381, entre a capital e Caeté, na região metropolitana, a equipe de reportagem do Hoje em Dia flagrou abusos em sequência. No bairro Capitão Eduardo, em Sabará, também na Grande BH, um motociclista foi visto, sem a menor cerimônia ultrapassando carros pelo acostamento e mexendo no celular.

“Tem imprudência de todos os lados. Mas nas estradas percebemos pessoas sem muita experiência, se arriscando com manobras perigosas”, afirma o presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga (Sindtac), Antônio Reis. Para ele, a maioria das infrações é resultado de uma fiscalização falha. “Os radares não resolvem muito. A gente faz longos trajetos toda semana e quase não vê viaturas nas estradas”, diz. 

Já para o presidente da Federação dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Minas Gerais, Geraldo Mascarenhas, o estresse dos motoristas causado pelas jornadas de trabalho e as más condições das vias são agravantes.

“Nós nos preocupamos com esse crescimento do número de mortes. O risco é grande para todos. Enfrentamos estradas ruins e atos de imprudência diários”, afirma Mascarenhas. Para ele, que foi motorista de ônibus por 20 anos, entidades que gerenciam o trânsito no país devem promover campanhas permanentes para educar os condutores.Maurício VieiraCaminhoneiro usa acostamento para passar na frente de outros automóveis

Patrulha

A PRF não disponibilizou fonte para comentar o relatório. Em nota, informou que realiza “policiamento e patrulhamento diuturno de todas as rodovias sob a sua circunscrição”. A corporação ainda disse que uma equipe pode ser acionada, em caso de acidente, por meio do telefone 191.

Conforme a PRF, o trabalho de educação para o trânsito é prioridade. Ações são desenvolvidas junto a condutores e estudantes. Dentre as iniciativas, está o “Cinema rodoviário”, em que as pessoas são convidadas a assistir vídeos e participar de um bate-papo com os policiais. “A PRF atua diariamente, em qualquer abordagem realizada, de maneira a conscientizar o motorista em seu importante papel para um trânsito mais seguro”.

Motoristas podem consultar as condições das estradas nos sites deer.mg.gov.br e dnit.gov.br

Condições das pistas

Não bastasse o abuso constante dos motoristas que insistem em desrespeitar a lei, as condições das rodovias também reservam armadilhas para quem vai pegar estrada no feriado. Sinalização precária, desvios, queda de barreiras, buracos e até erosões são alguns dos problemas constatados nas vias estaduais e federais.

Na malha sob a responsabilidade da União, segundo consulta feita no site do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit), há pelo menos 60 locais que demandam cuidado e atenção por parte dos condutores. Na BR-116, por exemplo, que serve como rota entre o Vale do Jequitinhonha e a Zona da Mata, são nove trechos.

A mesma pesquisa também poder ser feita no portal do Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DEER). Lá, existem 23 pontos com restrições de tráfego. Na MG-342, em Teófilo Otoni, também na região do Jequitinhonha, a circulação de veículos ocorre em meia pista devido a uma erosão.

O Dnit informou que ações de manutenção são realizadas regularmente. O órgão diz que, neste ano, mais de R$ 564 milhões foram investidos em intervenções nas rodovias federais que cortam o Estado.

Já o DEER garante que obras de manutenção e reparação de danos são feitas com frequência nas estradas estaduais. “Para o exercício de 2018, estima-se investimentos da ordem de R$ 700 milhões”.

Chuva

Quem irá viajar deve enfrentar fortes chuvas com rajadas de vento. Segundo Cléber Souza, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), uma frente fria que atua no Sul do país pode chegar em Minas amanhã, passando primeiro pelo Triângulo. 

A partir de sexta-feira há previsão de temporais em todo o território. “Os motoristas devem estar bem atentos, porque deve chover muito durante o feriado”, frisou o meteorologista.

(Colaborou Renata Galdino)Editoria de Arte

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