Motos estão em metade dos acidentes registrados nas estradas

Bruno Inácio
16/02/2019 às 14:45.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:35
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

De cada dois acidentes nas estradas mineiras, um envolve motociclistas. De janeiro a novembro do ano passado, dado mais atual disponível, foram 10.859 batidas, capotagens e atropelamentos, dentre outras ocorrências. Em exatos 5.352 havia a presença de pelo menos uma moto. Conforme as autoridades, o número causa ainda mais preocupação pelo fato de os veículos de duas rodas serem os que menos trafegam em rodovias.

O levantamento é da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) e envolve vias públicas e privatizadas, estaduais e federais. Dentre os motivos para o elevado índice estão a imprudência e o descaso com equipamentos de proteção individual, mesmo que não sejam obrigatórios. Cidades do interior, cortadas por estradas, concentram os casos.

Porém, os abusos são comuns em muitas pistas. A equipe de reportagem do Hoje em Dia percorreu a BR-381, no trecho entre BH e Caeté, na região metropolitana. Em um intervalo de quatro horas, foram flagradas 15 infrações, a maioria por ultrapassagens indevidas. A violação é gravíssima e rende multa de R$ 1.467,35, além de sete pontos na carteira. 

Motoristas relatam que o desrespeito é cometido “a torto e a direito”. Até mesmo quem anda de moto admite as falhas. “É o que mais se vê. Se o motociclista pega um congestionamento, ou um caminhão em baixa velocidade, com certeza vai ultrapassar, independente de onde estiver”, conta o comerciante Rodrigo Paiva Filho, de 32 anos.

nas estradas mineiras em 2018

Velocidade

Coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende explica que o maior problema para o motociclista nas estradas é a velocidade permitida. “O condutor está acostumado a trafegar em vias com de até 40 quilômetros por hora (km) e, na rodovia, o limite passa de 60 km. O impacto de um acidente é muito maior”.

Agmar Bento, professor de segurança viária do Cefet-MG, explica que, por estar em uma condição de maior vulnerabilidade, o motociclista é o que mais deve estar atento à segurança. “A moto é o menor veículo, num local de trânsito rápido e intenso. Normalmente, esses acidentes serão fatais”, disse.

O motorista de ônibus Francisco Damião Oliveira, de 58 anos, percorre diariamente o trajeto entre o distrito de Ravena, em Sabará, na Grande BH, até a capital. Ele diz já ter flagrado diversas colisões envolvendo motos. “A gente assusta com o motoqueiro ultrapassando pela direita, em curva. Se não estiver muito atento, é pior para ele”, garante.

Segundo o inspetor Aristides Júnior, da Polícia Rodoviária Federal (PRF), não é preciso muito para reverter o quadro nas estradas. “Basta prudência e respeito às normas. As regras são feitas porque a via é de todos e o motociclista precisa colaborar para não ser vilão da própria má sorte”.Lucas Prates

Proteção

Motociclistas estão mais vulneráveis a acidentes fatais, reforça a Polícia Militar Rodoviária (PMRv). Além do desrespeito às leis de trânsito, muitas vezes, os pilotos trafegam sem equipamentos de proteção.

O especialista em trânsito Osias Baptista Neto explica que, nas estradas, o uso de luvas e sapatos fechados deveria ser obrigatório, pois são itens de “segurança mínima”. 

“Na velocidade em que o motociclista está na via, quando o acidente acontece, ele tem contato direto com o asfalto, provocando o atrito do corpo na via. Jaquetas e calças de material resistente com proteções para as arestas, como joelhos e cotovelos, são essenciais, assim como a capa de chuva”.

Mesmo assim, a proteção não é garantia de total segurança. “O máximo que podem fazer é amenizar o impacto de uma queda. Mas, quando falamos de motos, os pilotos estão tão expostos que os médicos e socorristas já sabem: se tem motocicleta envolvida, é no mínimo uma fratura e, não raro, morte”, diz o diretor da seção Minas Gerais da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet-MG), Arilson de Sousa Carvalho Junior.

O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) não especifica quais roupas os motociclistas devem usar. Apenas o capacete e “vestuário de proteção de acordo com especificações do Contram (Conselho Nacional de Trânsito)” são obrigatórios. Contudo, o órgão apenas regulamentou o uso de coletes para profissionais, como motoboys.

“O resto é de uso livre. Sempre orientamos o aluno a usar um sapato firme, em vez de chinelos, por exemplo, mas ele não pode ser multado por isso”, explicou o instrutor de autoescola Geraldo de Deus Alves, que há 21 anos atua no ramo.

Tanto a PMRv quanto a PRF garantem realizar operações de rotina e blitze educativas para instruir condutores a respeitar as regras de trânsito com o objetivo de diminuir os índices de acidentes.

Estradas menores

Apesar de acontecerem em rodovias, os acidentes envolvendo motos podem ser maiores por estarem concentrados em áreas que dão acesso a municípios. O tenente Edinei Ferreira, da Polícia Militar Rodoviária (PMRv), explicou que, principalmente no interior, é comum os registros ocorrerem mais. 

“Toda cidade pequena é cortada por uma rodovia e ainda temos as estradas menores, que dão acessos a distritos e locais mais distantes. Nesses trechos é mais comum que o motociclista trafegue sem usar os equipamentos de segurança ou se sinta mais seguro, por estar em um lugar conhecido”, afirma.

Dentre os destaques, segundo ele, estão as pistas que acabam se tornando “avenidas urbanas”. “Em Juiz de Fora, por exemplo, a rodovia para o Rio passa dentro da cidade. É como o Anel Rodoviário em Belo Horizonte. O número de motos que passa por lá é grande”, acrescenta Edinei Ferreira. 

Para o especialista em trânsito Paulo Resende, nesses casos, seria mais eficiente que a gestão do trânsito compartilhada entre PMRv, PRF e guardas municipais.

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