MP investiga rede de comércio ilegal de obras do Barroco Mineiro

Letícia Alves - Hoje em Dia
12/11/2014 às 07:53.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:58
 (FOTOS ALEX LANZA/MPMG)

(FOTOS ALEX LANZA/MPMG)

O Ministério Público de Minas Gerais investiga a existência de uma rede de comércio ilegal de peças e obras históricas do barroco mineiro, cuja receptação dos trabalhos se daria em Belo Horizonte. Nessa terça-feira (11), foram apreendidos um sino do século XIX, um forro de madeira de uma capela, um armário de sacristia, elementos de altares e um balaús-tre. O material estava em um galpão de 600 m2, no bairro Cachoeirinha, região Noroeste de Belo Horizonte.    Há indícios de que o negócio ilegal tinha mais de quatro décadas de existência. Isso porque, no galpão, foram encontradas cerca de 500 fotos de esculturas e imagens. Algumas, ainda em preto e branco, são da década de 1970. Nos versos, havia informações das obras e marcações como vendido, encaminhado e resolvido. Foram encontrados também documentos e recibos, inclusive com nomes de colecionadores de renome nacional.    Nas fotos, há imagens de obras famosas, como o São Francisco de Paula, de Aleijadinho, e outras feitas por Francisco Xavier de Brito, entalhador e escultor. Há indícios de que elas estejam com dois colecionadores de São Paulo.    Segundo o promotor de Justiça e coordenador da Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais, Marcos Paulo de Souza Miranda, há evidências de que o galpão funcionava como uma rede receptora com ramificações nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco e cidades de Minas. “Além de materiais com origem no Estado, encontramos peças de outras unidades da federação. Existia uma seleção das obras por pessoas que entendiam. Tínhamos aqui uma rede de receptação e distribuição”, informou.    No local, ainda há pilhas de tábuas, onde poderão ser identificadas outras peças. O MP acredita que o material foi retirado de imóveis tombados pelo patrimônio no Norte de Minas e na Bahia. Outros quatro galpões também estão sendo investigados.   Ninguém foi preso nessa terça, mas foi aberto inquérito por receptação contra o proprietário do galpão e outras três pessoas.  A superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Minas, Michele Arroyo, avalia que, provavelmente, o material era utilizado na fabricação de móveis rústicos e ornamentação de espaços. Há, inclusive, tintas e outros produtos que sugerem a adaptação dos materiais. “Pessoas que fazem restaurações podem estar envolvidas”, afirmou.    Investigação teve início em Pernambuco   A investigação de obras retiradas ilegalmente de uma capela tombada pelo patrimônio histórico na Fazenda Engenho Morojó, em Nazaré da Mata (PE), foi o ponto de partida para a descoberta do galpão em Belo Horizonte, em setembro de 2013.    Além das peças da fazenda, foram encontrados outros materiais, possivelmente retirados de imóveis tombados. O galpão estava lacrado até nessa terça-feira para os trabalhos da Polícia Federal. As peças da fazenda foram devolvidas para a capela. Outras obras também estavam em um apartamento na capital. 

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