Mulher morre esfaqueada pelo companheiro ao lado do filho de 1 ano em Uberaba após denúncia de abuso

José Vítor Camilo
10/07/2019 às 17:02.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:28
 (REPRODUÇÃO / REDES SOCIAIS)

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"Estou cansada, exausta e em um relacionamento abusivo". Assim Carolina Lemos da Silva, de 25 anos, reagiu a uma publicação em uma rede social que pedia que as pessoas fizessem um desabafo. A mensagem foi escrita três semanas antes dela ser esfaqueada pelo companheiro e deixada para morrer ao lado do filho do casal, de apenas 1 ano, na madrugada da última segunda-feira (10), em Uberaba, no Triângulo Mineiro. O suspeito, de 28 anos, fugiu após o crime e ainda não foi localizado. 

O crime só foi descoberto na manhã seguinte, após a outra filha da vítima, de 6 anos, encontrar a mãe morta e pedir ajuda. De acordo com a Polícia Militar (PM), quem chamou a corporação foi a vizinha de frente e amiga da mulher assassinada. Ela relatou que, na noite anterior, o casal teve uma briga por motivos desconhecidos e Carolina teria ido para sua casa. Enquanto ela esteve no imóvel, o marido da vizinha ficou conversando com o suspeito, tentando acalmá-lo. 

Ainda no relato da amiga da vítima, pouco tempo depois Carolina resolveu que iria embora para casa, dizendo que estava cansada e precisava dormir. Nesse momento, o companheiro da mulher teria falado para a vizinha que iria matá-la "para ter uma vida tranquila", chegando a sorrir após fazer a ameaça. 

Conforme a PM, por volta das 2h30 de segunda a vizinha do casal escutou gritos da vítima, tendo chegado a subir no muro e chamar pela amiga. Foi então que a vítima abriu a janela e disse que estava tudo bem. A moradora da casa em frente ainda alertou que, se ouvisse algum outro barulho, chamaria a polícia, momento em que a mulher voltou a fechar a janela. 

Já na manhã seguinte, a vizinha de Carolina tentou contato com a amiga várias vezes, sem sucesso, e acabou indo trabalhar. Até que, por volta das 7h, uma outra moradora da rua contou que a menina de 6 anos havia ido até sua casa afirmando que estava trancada para fora após o portão bater e trancar. A criança disse ainda que estava com fome e queria leite, pois teria ido até o quarto da mãe e que ela estava "com cara de velha e toda vermelha", não respondendo aos seus chamados. 

Desesperada, a amiga de Carolina deixou o trabalho e foi até a casa, tendo pulado o muro e entrado no quarto da mulher, encontrando-a toda ensanguentada e já morta. Ao lado do corpo, estava o menino de 1 ano. Após retirar o garotinho dali, ela acionou a polícia. 

O Corpo de Bombeiros foi chamado e constatou o óbito, assim como a perícia técnica da Polícia Civil (PC), que identificou cinco perfurações aparentemente feitas com uma faca no corpo da mulher. Os filhos da vítima foram entregues para a avó materna. A polícia segue em busca do suspeito do feminicídio. 

Ajuda de internautas

Após fazer o desabafo na publicação da página "Te vi no ônibus - Uberaba", Carolina recebeu dezenas de mensagens de apoio e conselhos, algumas delas inclusive recomendando que ela procurasse a polícia e denunciasse o companheiro, o que não teria acontecido. REPRODUÇÃO / REDES SOCIAIS / N/A
Vítima fez desabafo em publicação nas redes

A página aproveitou, após saber do assassinato, para se posicionar contra todo tipo de violência de gênero. "Esperamos profundamente que as autoridades competentes investiguem e tragam a punição merecida para o autor dessa tragédia. Não temos palavras para expressar o quanto estamos abalados e tristes. Nossos sentimentos à família e que Deus traga forças e conforte vocês nesse momento de dor", disse a publicação. 

Em seguida, a página disse repudiar todo tipo de violência contra as mulheres e chamou atenção para a importância do fortalecimento de políticas integradas que construam uma sociedade "mais segura e igualitária para nossas mulheres". 

Minas representa 34% dos feminicídios de todo país

Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) apontam que Minas Gerais é o Estado com mais feminicídios em todo o Brasil. Foram 1.534 casos em 2018, enquanto em todo o país aconteceram 4.461 registros do crime, fazendo com que o Estado sozinho tivesse 34% do total.

Para se ter ideia, o segundo lugar no ranking de feminicídios ficou com o Rio Grande do Sul, que teve 571 casos no ano passado, quase mil registros a menos que Minas.

Os números de casos pendentes de violência doméstica e de medidas protetivas nos 853 municípios mineiros também impressiona. Foram 95.583 casos de violência contra mulher e outras 27.681 pediram medidas para impedir as agressões.

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