Mulheres contam sobre o cotidiano de serviços religiosos e o motivo de terem feito essa escolha

Iêva Tatiana - Hoje em Dia
11/01/2015 às 09:22.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:38
 (André Brant/Hoje em Dia)

(André Brant/Hoje em Dia)

Enquanto muitas jovens chegam à adolescência pensando em faculdade, namoro e festas – planos comuns nessa faixa etária –, outras começam a definir a trajetória religiosa que vão seguir. A escolha implica vida em comunidade, celibato, devoção e muita disciplina. Embora o caminho seja facultativo, nem sempre é fácil permanecer nele.    A freira Verônica Paula Ferreira, de 33 anos, chegou a fazer as malas para voltar para casa depois dos primeiros votos na congregação Pequenas Missionárias de Irmã Imaculada. Segundo ela, ao conhecer a realidade da missão da qual fazia parte, houve um choque de realidade que a levou a questionar a própria coragem. “Mas fui amadurecendo a ideia e relatei aos meus superiores o que era dificultoso para mim. Isso me ajudou a permanecer e ajuda até hoje. Em cada situação difícil existe um aprendizado”, conta.   Atividades   Natural de São José dos Campos, em São Paulo, irmã Verônica, como é chamada, vive em Belo Horizonte há cinco anos, trabalha na Pastoral da Saúde do Hospital Madre Teresa – onde também presta auxílio no pronto-atendimento – e se prepara para dar início ao último período da faculdade de Enfermagem.   A rotina dela começa cedo. Pela manhã, irmã Verônica e as outras freiras da congregação têm um momento de oração coletiva seguido da oração individual. Na sequência, elas tomam café e vão para os respectivos setores de atuação no hospital.    Estudante, ela faz estágio curricular à tarde, participa da missa na capela do hospital, janta e vai para a faculdade à noite. Em alguns dias, emenda com o plantão noturno na unidade de saúde.    Vocação   A trajetória religiosa teve início aos 20 anos, quando ela começou a participar de um grupo de orações nos intervalos das aulas, a convite de uma colega do ensino médio. “Sempre fui católica. Fui batizada e fiz primeira comunhão, mas, naquela época, não era muito assídua na igreja. No grupo, tive uma experiência de Deus que nunca tinha tido”, relembra.   A partir daí, a decisão de entrar para o convento surgiu naturalmente, apesar da resistência que encontrou em casa, principalmente, por parte do pai e da irmã mais nova, que não aceitavam a separação. Hoje, ela visita a família durante as férias anuais, quando dá uma pausa na rotina corrida, e revela que ainda existe certa pressão para que ela volte para casa.    Vida religiosa é em comunidade, então, corremos o risco de sermos infelizes e de infelicitarmos a vida do outro. Temos que trabalhar e resolver isso dentro da gente”, conclui.     Vida de desapego iniciada por “chamado” de Deus   Há quase duas décadas, Menzia Maria da Silva, de 44 anos, ingressou na comunidade Shalon. Leiga consagrada – como são chamadas as integrantes da comunidade –, Menzia saiu de Mossoró, no Rio Grande do Norte, para seguir em missão Brasil afora.    Desde que decidiu viver em comunidade, em 1997, ela já morou em, pelo menos, seis estados diferentes. Formada em pedagogia, Menzia acumulava dez anos de profissão quando decidiu dar um novo rumo à vida, deixando para trás família, amigos e namorado.    “O apelo de Deus dentro de mim foi muito forte, então, resolvi largar tudo. Para tudo isso existe um processo no qual fui me encontrando e no qual sou muito feliz”, ressalta.      Rotina   A exemplo da irmã Verônica, Menzia começa o dia cedo na comunidade mista em que vive com outros 18 irmãos – homens, mulheres, padres, casais, pessoas em processo de discernimento e celibatários. A primeira tarefa é a faxina da casa, depois, o café da manhã juntos. A primeira oração do dia vem na sequência e é coletiva, seguida da individual. Depois, todos os membros da comunidade unem-se para uma reunião de discussão de assuntos variados, como formação humana, espiritual, vocacional e economia doméstica. Ao final, eles seguem para uma missa, o almoço e, mais tarde, o trabalho na missão.    Motivação   De acordo com Menzia, os valores encontrados na dedicação à religiosidade nutrem a vontade de fazer parte desse movimento todos os dias. “Aqui, chegam jovens de todos os jeitos, com vida bem desregrada, marcados pelo mundo e pelo pecado. Quando eles encontram as coisas que buscavam lá fora para preencher o vazio que havia dentro deles, encontram, também, sentido à vida. Assim, são capazes, como eu, de deixar tudo para trás”.   Renunciar faz parte da escolha das religiosas    A história da freira Roberta Carla Ferreira, de 31 anos, começou a ser desenhada aos 19, quando ela conheceu a congregação Irmãs Paulinas, da qual faz parte. Aos 21, ela deu início à primeira experiência e não deixou mais a vida religiosa.   Nascida em Itabira, região Central de Minas, e criada no Espírito Santo, hoje irmã Roberta vive em comunidade junto a outras seis irmãs e a uma noviça, em uma rotina totalmente voltada à religiosidade.   Estudo   Pela manhã, ela cursa faculdade de teologia e, à tarde, trabalha na pastoral vocacional, acompanhando jovens que desejam conhecer a congregação – que dispensa o uso do hábito, vestimenta que consiste de um cocar feito de uma touca rígida e que emoldura o rosto.    Ao longo do dia, ainda são reservados horários para as orações. Durante o período de férias escolares, ela ajuda nos trabalhos da livraria Irmãs Paulinas.    Sem dúvidas   Embora a rotina soe natural atualmente, houve certo estranhamento, no início, quando irmã Roberta comunicou à família e aos amigos a decisão de dedicar-se à religiosidade – ela abandonou a função de professora particular e adiou o sonho de fazer um curso superior.   “A princípio, as pessoas perguntaram: mas será? Porém, as que eram mais próximas disseram que já esperavam essa escolha, pelo jeito como eu me comportava”, afirma, lembrando que houve, sim, momentos difíceis nessa jornada.   “Na vida, as coisas vão clareando com o tempo. Vamos fazendo nosso discernimento”, afirma.

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