Mulheres protestam contra violência doméstica; por dia, são 50 ataques em BH

Renata Evangelista
06/12/2019 às 06:00.
Atualizado em 05/09/2021 às 22:56
 (Lucas Prates/Hoje em Dia	)

(Lucas Prates/Hoje em Dia )

Mais do que um grito por socorro. Mulheres vão clamar por respeito, segurança e justiça em 27 cidades, incluindo Belo Horizonte. Um ato contra a violência doméstica visa a chamar a atenção para as covardias cometidas dentro e fora de casa. Até outubro, mais de 15 mil ataques – como agressões, assédios e feminicídios – ocorreram na capital. Para especialistas, a conscientização é essencial, mas é preciso quebrar o silêncio e punir quem pratica os crimes.

Liderada pela ONG Mulheres Unidas pelo Brasil e com apoio da ONU, a ação acontece na Praça da Liberdade, na região Centro-Sul. Uma das organizadoras do evento, a executiva Eliana Tameirão, declara que já passou da hora de o público feminino se unir para mudar o próprio destino. “Basta, chega. Não podemos continuar com esses números. As culturas machista e do estupro têm que acabar. Não podemos aceitar essa realidade”.

Vítima de violência moral por mais de seis anos, a contadora Karina Santos, de 43 anos, participará do movimento. Para ela, os homens também deveriam aderir à iniciativa. “A causa não é só das mulheres, mas sobretudo deles, que precisam aprender a nos respeitar e amar. Eles têm papel fundamental nesse processo”, afirma.

A consultora de imagens Joyce Oliveira, de 33 anos, também marcará presença. Com um histórico de agressões sofridas pelo ex-marido, a jovem acredita que, quanto mais mobilização, maior a chance de dar fim a relacionamentos abusivos. “É fundamental dar força para que essas mulheres tenham coragem de denunciar a violência sofrida”.

Mais de 15 mil agressões físicas, psicológicas, sexuais e patrimoniais ocorreram em BH, de janeiro a outubro

DENUNCIE

A violência doméstica na metrópole escancara uma média de 50 ataques por dia contra o público feminino. Delegada de Mulheres em BH, Isabella Franca destaca que todos os órgãos de segurança estão empenhados na luta contra os agressores. No entanto, a investigadora reforça a importância de se buscar auxílio denunciando maridos e ex-companheiros.

“Hoje, podemos solicitar a medida protetiva. Caso o infrator não cumpra, temos o recurso do encarceramento. Em qualquer situação, temos medidas eficazes para responsabilizar o agressor. Ele não ficará impune”, garante a delegada, que ainda acrescentou: “qualquer mulher pode ser vítima e, infelizmente, a violência atinge todos os setores. Não tem raça, nem religião nem classe social”.Riva Moreira/Hoje em Dia

PARA TODOS – “A causa não é só das mulheres, mas sobretudo dos homens, que precisam aprender a nos respeitar e amar”, reforça Karina, que também participará do evento

ALÉM DISSO

A marcha de domingo foi batizada de “Dia Laranja”. A cor representa luz e inspiração, diz Eliana Tameirão, da ONG Mulheres Unidas pelo Brasil. “Por isso, pedimos que todas vistam uma camisa ou coloquem um lenço laranja para se juntar a nós nesta causa tão importante”. Trezentas blusas do evento foram distribuídas gratuitamente.

A concentração está prevista para 9h30 no Coreto da Praça da Liberdade. De lá, o grupo seguirá pelas avenidas João Pinheiro e Afonso Pena, próximo à Feira Hippie. Conforme os organizadores, centenas de pessoas são esperadas. 

No Brasil, a passeata acontece simultaneamente em mais 26 cidades. Dentre elas, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília, Salvador, João Pessoa, Pernambuco e Vitória. Em Minas, além da capital, Juiz de Fora (Zona da Mata) e Caratinga (Leste de Minas). 

O “Dia Laranja” também será realizado em 16 países. “Se a gente não se mexer, essa luta não sai do lugar. Por isso, é tão importante participar”, destaca Eliana.

SERVIÇO
Dia Laranja: 8 de dezembro, 10h (concentração a partir das 9h30)
Saindo da Praça da Liberdade, percorrendo a avenida João Pinheiro até a Afonso Pena


Depoimento

Fui casada por 11 meses e, durante o período, vítima de violência verbal e física. As agressões começaram de maneira muito sutil. Muitas vezes, nem percebemos. No início, era proibida de visitar meus parentes. Quando era permitido ir, tinha horário para voltar. Achava que aquilo era normal, que talvez pudesse ser ciúmes. Até que as agressões físicas começaram. Por causa desse relacionamento abusivo, tive síndrome do pânico e depressão. Acho importante que as mulheres se conscientizem, principalmente as meninas mais novas. Percebo que cada vez mais as jovens estão dentro de relacionamentos tóxicos e não se dão conta.
Joyce OliveiraConsultora de imagem

  

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