Mulheres são apenas 9% do Corpo de Bombeiros de Minas; conheça a trajetória de uma delas

Juliana Baeta
08/03/2019 às 18:32.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:53
 (Gil Leonardi/Imprensa MG)

(Gil Leonardi/Imprensa MG)

Do total de 5.950 bombeiros militares de Minas Gerais, apenas 549 são mulheres. Isso representa 9% do contingente total da corporação, que conta com 5.401 homens. Mas, o primeiro rosto a ficar conhecido no noticiário nacional e estrangeiro sobre a tragédia em Brumadinho foi justamente o de uma das poucas militares mulheres que integram o Corpo de Bombeiros do Estado. 

A major Karla Lessa Alvarenga Leal era quem pilotava o helicóptero determinante nos primeiros resgates no dia 25 de janeiro, quando a barragem se rompeu. Naquele dia, ela e a equipe da aeronave foram responsáveis pelo salvamento de duas mulheres que estavam na lama. A precisão de Karla ao calcular de forma exata a distância segura entre o helicóptero e a lama afim de resguardar a equipe e, ao mesmo tempo, permitir os resgates, chamaram a atenção. 

A militar, que tem 36 anos, é uma das duas mulheres dentre os 30 pilotos de helicóptero da corporação mineira. A proporção desigual entre os gêneros dos militares começa ainda na academia, já que apenas cerca de 10% das vagas nos concursos para bombeiro militar são destinadas a mulheres. Gil Leonardi/Imprensa MGA Major Karla Lessa integra a corporação há 18 anos e é uma das duas únicas mulheres pilotas 

E, há cerca de 18 anos, a major Karla figurava nesta porcentagem limitada, quando prestou concurso para contribuir na corporação. "Eu estava no Ensino Médio e, na época, com 18 anos, prestei concurso para o Corpo de Bombeiros e para Engenharia Química na UFMG, e fui aprovada nos dois. Mas, como era incompatível exercer as duas atividades por causa dos horários, decidi por ser bombeiro, e não me arrependo", conta. 

Ela acredita que uma proporção maior de mulheres nos espaços poderia fornecer também mais possibilidades de soluções para os problemas. "Eu acho que nós mulheres temos uma criação diferente pelo fato de sermos mulheres. Isso nos dá algumas habilidades distintas, formas diferentes de lidar com algumas situações, por exemplo. Na corporação e de um modo geral eu acho que a diversidade enriquece, possibilita visões diferentes para um mesmo problema e, portanto, mais soluções", explica. 

Hoje, além de pilotar os helicópteros da corporação, ela também atua na Secretaria de Estado de Saúde sendo o elo entre a corporação e o órgão para os assuntos correlacionados. 

Precisão e inteligência na pilotagem

Além de inteligência emocional e precisão para pilotar um helicóptero, os salvamentos conduzidos pela major Karla em Brumadinho demandaram uma série de habilidades e experiência acumuladas pela militar. Especialmente no primeiro dia do rompimento, quando as dúvidas eram muitas e a lama, fluída, os vôos baixos tinham que ser calculados de forma a assegurar que o helicóptero não encostasse na lama correndo o risco de "atolar" ou afundar e, ao mesmo tempo, dar alcance para os resgates. 

"Exige muito treinamento, estudo e preparação intelectual, mas também coordenação motora e sinergia entre a equipe. Porque todos precisam saber a função de cada um e confiar no trabalho do outro. Além disso, é necessária muita concentração para evitar que o lado emocional não interfira no trabalho. Naquele momento dos primeiros resgates aéreos em Brumadinho foi preciso ter prudência e ciência dos limites da aeronave, mas ao mesmo tempo fazer de tudo para salvar vidas", lembra.   

Quando não está no ar, pilotando helicópteros e salvando vidas, a major Karla atua na coordenação das operações aéreas. "Mais do que voar, é necessário também estabelecer o fluxo das operações para que os voos aconteçam de forma inteligente e lógica, garantir a segurança dos vôos, eliminar os riscos de colisão entre as aeronaves e pessoas. Tudo isso são questões que precisam ser avaliadas e bem gerenciadas na área de coordenação e comunicação", conclui. 

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