Não é só tratamento; SUS também controla endemias, produz vacinas e forma médicos

Bruno Inácio e Malú Damázio
horizontes@hojeemdia.com.br
07/11/2018 às 07:00.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:38
 (Riva Moreira)

(Riva Moreira)

No rótulo dos alimentos, nos produtos expostos nas prateleiras do supermercado e até na embalagem do cigarro. Muita gente acredita que o Sistema Único de Saúde (SUS) atua somente em hospitais. Mas a abrangência vai além. Mesmo sem ser atendido nas unidades públicas, é impossível que algum dos 208 milhões de brasileiros não dependa do serviço.

Controle sanitário, produção de vacinas, mapeamento de epidemias e formação de médicos são atividades realizadas pela rede. Na segunda reportagem da série sobre os 30 anos dos SUS, o Hoje em Dia mostra que a qualidade de vida depende dessas ações rotineiras.

Se no âmbito da assistência hospitalar o atendimento é de 75% dos habitantes, outras áreas do SUS acolhem a totalidade da população. É o caso da vigilância sanitária, que monitora a qualidade de produtos consumidos no país. 

“Verifica, por exemplo, o medicamento comercializado na farmácia, se está armazenado adequadamente, se está dentro do prazo de validade. É o braço do SUS menos percebido pelas pessoas”, destaca a superintendente do Hospital das Clínicas da UFMG, Andréa Silveira.

Proteção

A imunização também passa pelo sistema público. Com a política de vacinação, o Brasil é considerado um dos países que mais contribuíram para a redução da mortalidade infantil, afirma a Organização Mundial de Saúde. 

Na avaliação do coordenador de Prospecção de Vacinas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Carlos Gadelha, esse é um dos acertos da rede. “As pessoas costumam apontar só as falhas do sistema, mas a produção de imunizantes e a distribuição é um dos maiores sucessos”, avalia.

Em Minas, a Fundação Ezequiel Dias (Funed) também se destaca. O laboratório é o único fornecedor da proteção contra a meningite C para o Ministério da Saúde. Braço da Funed, o Instituto Otávio Magalhães é o retrato da importância do controle de doenças e surtos no Estado, a chamada vigilância epidemiológica. O laboratório teve papel fundamental no mapeamento da epidemia de febre amarela no território. 

A partir das análises feitas pelos técnicos, o poder público é alertado sobre ações para conter as enfermidades, explica a diretora do órgão, Marluce Assunção Oliveira. “É um trabalho de monitoramento constante de patologias consideradas estratégicas, como dengue, tuberculose, zika, dentre outras”.

“As pessoas pensam em hospitais cheios e ruins, mas não sabem que o sistema é pioneiro em vários serviços”Jairnilson PaimAutor do livro “O que é o SUS”

Os inúmeros serviços ligados ao SUS são essenciais para que o sistema funcione de forma eficaz, afirma o professor Jairnilson Paim, especialista no assunto. “Existem as redes de transplantes de órgãos, o controle do uso de cigarros, o saneamento em cidades pequenas e até os bancos de leites”, acrescenta.

Confira vídeo:



Programa de residência compõe rede de atendimento

Seja por meio dos hospitais públicos ou de instituições parceiras, a formação de novos profissionais também está entre as atribuições executadas pelo Ministério da Saúde, graças ao SUS. Desde 2009, a pasta financia um programa para que residentes possam trabalhar.Flávio Tavares

Oftalmologista Érica Borges foi residente na Fundação Hilton Rocha e hoje integra o corpo clínico do hospital

No caso de epidemias em uma região do país, por exemplo, o órgão pode incentivar a especialização de médicos nesta área específica. O apoio é dado por meio de bolsas e de estímulo às unidades de saúde, abrindo espaço para a oferta de vagas.

Em Belo Horizonte, a Fundação Hilton Rocha, especializada em oftalmologia, associa o sistema público de saúde ao ensino. No Hospital de Olhos da instituição, cerca de 730 pacientes são atendidos, diariamente, por meio de parceria entre as Faculdades Integradas do Norte de Minas (Funorte) e a União.

Diretora da unidade, a oftalmologista Ariadna Muniz avalia ser essencial a cooperação entre os hospitais e governo. Essas iniciativas agregam valor tanto à rede de assistência quanto aos residentes, ressalta a gestora.

Segundo ela, o volume de atendimentos na Fundação contribui significativamente para a especialização do profissional. “Ele tem sempre o auxílio de um preceptor, um médico mais graduado que dá apoio e tira as dúvidas. O paciente é atendido com qualidade”, garante.

Vivência

Quem passou por esse processo foi a oftalmologista Érica Borges. Antes residente na Fundação Hilton Rocha, hoje ela integra o corpo clínico do hospital. “A experiência que temos aqui é de grande importância para a nossa formação como médico, como pessoa. Nos sensibilizamos com os problemas dos pacientes. Foi um aprendizado que agregou muito para a minha vida”, diz.

Assistência

Na UFMG, principal universidade pública de Minas, a formação dos residentes contempla atendimentos de média e alta complexidades, como transplantes, implantação de dispositivos cardíacos e atendimentos a pessoas com doenças raras. 

“No caso do Hospital das Clínicas (HC), que é um universitário, são formados profissionais de saúde para todo o SUS, mas também oferecida assistência focada nas complexidades”, frisa Andréa Silveira, superintendente da unidade.Editoria de Arte

Clique na imagem para ampliar

Leia mais:

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por