'Não existe a possibilidade da perda do título da Pampulha', diz Gustavo Mendicino

Mariana Durães
mduraes@hojeemdia.com.br
14/08/2017 às 07:44.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:04
 (Maurício Vieira/Arquivo HD)

(Maurício Vieira/Arquivo HD)

Maurício Vieira / N/AGustavo Mendicino está no comando do Conjunto Arquitetônico da Pampulha há um ano


Mesmo com o atraso no início de reformas e adequações em pontos turísticos, a Pampulha não corre o risco de ficar sem o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, conquistado há pouco mais de um ano. É o que garante o diretor do Conjunto Moderno da Pampulha, Gustavo Mendicino. Segundo ele, intervenções serão iniciadas em 2018. Enquanto as atrações estiverem fechadas para as obras, o gestor assegura ações para aproximar ainda mais o belo-horizontino do principal cartão-postal da cidade. Nesta entrevista, Mendicino comenta os desafios a serem enfrentados até 2019, quando termina o prazo para atender às recomendações da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Há o que se comemorar após um ano da conquista do título de Patrimônio Cultural da Humanidade?
Temos muitas coisas, inclusive o fato em si. Além disso, estamos dentro do limite estabelecido para indicar as soluções e trabalhos que serão feitos, criar cronogramas, prazos e metas, conforme recomendado pela Unesco. A única questão é em relação ao Iate Tênis Clube.

O Iate é o maior entrave?
Não vou chamar de entrave. Estamos em uma negociação entre as partes, o que difere de estar parado. Não vou dar um prazo, mas acredito que nos próximos meses teremos o cronograma detalhando as responsabilidades de cada um. A obrigação é demolir o anexo e restaurar o Salão Portinari, mas é preciso definir se será o Iate ou a prefeitura que fará a demolição, que custa dinheiro. Se será cedido um terreno público, quem vai construir nesse novo espaço? Tudo está em negociação para que se chegue a um denominador comum.

E os demais itens da lista de recomendação?
Eles ainda não estão visíveis ao público porque não foram iniciados. Na Casa do Baile, restaurada em 2013, só falta retirar uma guarita. Para a Praça Dino Barbieri temos o projeto de restauração do conceito original que será enviado à Unesco no fim do ano. O plano inclui retirar o coreto central. Dentro de quatro a cinco meses, a Igrejinha da Pampulha será fechada para a restauração. As obras no MAP (Museu de Arte da Pampulha) devem começar em agosto de 2018. Até lá, o museu terá uma nova temporada de exposições e, em dezembro, inaugura uma programação em comemoração aos 60 anos do espaço. Depois, ficará fechado por um ano e meio.Nesse período, faremos readequações em relação ao conceito original. Mesmo com a estrutura fechada, propomos continuar com as atividades.

Como as atividades seriam mantidas? 
Estamos pensando em um portal da Pampulha, que reúna a história, informações e até um acervo e visitas virtuais ao museu e Igrejinha. Existe também uma proposta de, durante a restauração do MAP, fazer um ateliê aberto. Dessa forma, arquitetos, conservadores, restauradores e interessados em acompanhar os trabalhos poderão ter acesso ao espaço, mediante agendamento.

Já existia um projeto de restauração da igreja, de 2014, mas casamentos marcados até novembro deste ano atrapalharam o início das obras. Agora vai recomeçar o período chuvoso e o risco de mais danos por infiltração. Essa é uma preocupação?
A principal questão da igreja, de fato, são as infiltrações, o que comprometeu parcialmente cinco quadros da Via Sacra, que terão que ser restaurados. Para isso, ela ficará fechada um ano.

O que tem sido feito para evitar ações de vândalos e pichações na Igrejinha? Há conversas com a Guarda Municipal?
A questão de depredação, vandalismo e população de rua temos trabalhado tanto com a Guarda quanto com a Secretaria de Políticas Sociais. Assim como a igreja, a praça Dalva Simão é alvo de pichações e é tão patrimônio histórico quanto.

O título de Patrimônio Histórico estimulou a visitação? O que mais influenciou? 
Não tenho dúvida. O fato de ser Patrimônio Cultural da Humanidade traz muitas responsabilidades. Um dos itens da Unesco antes de o título ser concedido, inclusive, é o envolvimento da população com o bem, se há sensação de pertencimento. Para estimular isso, por exemplo, neste ano ampliamos o horário de visitação aos espaços da Pampulha nas terças-feiras à noite. O projeto está sendo um sucesso! O nosso empenho está em manter uma ocupação regular e não apenas em levar para lá grandes eventos. Queremos envolvimento com o patrimônio.

Esse projeto de visitação noturna vai até quando?
Não tem previsão de término. O projeto surgiu de um horário de visitação estendido, mas para chamar mais a atenção temos trabalhado ações culturais, como shows. Está tendo público, a ocupação regular está acontecendo.

Como ficou definida a questão de passeios guiados e gratuitos?
A jardineira já circula todas as terças-feiras à noite, fins de semana e feriados. Temos outros projetos para promover visitações guiadas e subsidiadas pela prefeitura ou alguma outra empresa, mas sem data definida.

Ainda existe a ideia de um táxi aquático para ligar os equipamentos?
Esse é um sonho que está muito perto de ser realizado. Ele vai passar pela regulamentação de uso da água, porque ali vamos ter prática de esportes, lazer e uso comercial, que seria o táxi aquático. Vamos ter que conciliar tudo isso, separar os espaços, conversar com federações, orientar a população e licitar para o uso comercial. Não posso dar um prazo.

A Pampulha é, também, um local que mistura lazer, esporte e cultura. Como isso é visto por vocês?
A gente busca estimular qualquer tipo de ocupação que una essas coisas. Existe um projeto, de iniciativa privada, que faz visitações ligadas ao esporte. Então, capacitamos instrutores de uma academia da região que tem grupos de corrida e bicicleta, com três roteiros que passam por todos os equipamentos e dão informações turísticas.

Como é a formação dos guias turísticos? Eles estão preparados para atender inclusive a estrangeiros?
Não é de agora que temos nos preocupado com isso. Ano passado fizemos capacitações na Belotur. A maioria dos guias fala outras línguas, mas não são todos. Isso é uma preocupação, mas também uma deficiência do serviço turístico de toda BH. Ainda estamos nos entendendo como uma cidade turística em relação a serviços, atendimento e sinalização.

A sinalização turística na Pampulha é adequada?
Ela é relativamente nova, em outra língua também. Foi feita para a Copa do Mundo, em 2014, e tem manutenção da Belotur. Existe uma sinalização indicada pela Unesco, mas não é uma imposição. Isso exige uma verba mais significativa. Então, ainda não vamos trocar.

O que pode acontecer que leve à perda do título? 
Não existe a possibilidade da perda do título da Pampulha. O que pode acontecer é entrar na lista de patrimônio em risco, o que significa voltar a atenção do mundo para a falta de cuidado com um bem que é de todos, tirando do município a autonomia e o protagonismo. Mas isso não vai acontecer com a Pampulha. Estamos cumprindo todas as etapas dentro dos prazos.

O Iate é a única obra que tem o prazo específico de três anos?
Foi um prazo estabelecido pela Unesco para indicar as soluções, e não para finalizar completamente. Mas será resolvida antes disso.

Você consegue dar um prazo de finalização de todas as obras e intervenções que precisam ser feitas?
Para tudo estar pronto, exceto o Iate, diria o fim dessa gestão. O clube é mais complexo, porque envolve demolição e restauração. O cronograma estará disponível nesse tempo.

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