Número de brasileiros presos fora do país ultrapassa três mil

Alessandra Mendes - Do Hoje em Dia
27/07/2012 às 07:46.
Atualizado em 21/11/2021 às 23:53
 (Facebook/Reprodução)

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O Brasil tem hoje mais cidadãos presos no estrangeiro do que “gringos” vivendo situação semelhante no país. De acordo com o Itamaraty, 3.437 brasileiros estão detidos, cumprindo pena ou aguardando julgamento e deportação em outras nações, número superior ao de estrangeiros encarcerados em território nacional (3.367). A maioria dos brasileiros está na Espanha (945), seguida de Japão (391) e Estados Unidos (382).

Entre todos os cidadãos incriminados fora do país, três estão na Indonésia, em situação mais delicada. Eles foram flagrados por tráfico internacional de drogas, cujo delito, segundo as leis daquele país, é punido com a pena de morte. Um dos réus foi detido no primeiro semestre, e outro já foi julgado e condenado e o processo está em fase de apelação. O terceiro não tem direito a mais recurso algum e só pode escapar da pena de morte se receber o perdão do presidente indonésio. Graças a intervenções diplomáticas do governo brasileiro, o detento ainda está vivo, mas sem definição do que pode ocorrer no futuro.

Mais comuns

Além dos casos de pena de morte, há ainda nove brasileiros condenados a prisão perpétua em outros países. O tráfico de drogas é um dos principais motivos para a prisão de brasileiros no exterior, seguido de homicídio e roubo.

Entre tantas histórias, a do carioca Ronald Soares, de 61 anos, ganhou as manchetes internacionais. Ele chegou a ser conhecido em Londres, no fim dos anos 90, como “the economist”, pois fazia a contabilidade de uma quadrilha que movimentou três toneladas de cocaína na Inglaterra, em um valor estimado de 60 milhões de libras, algo em torno de R$ 180 milhões. Ele também ajudava a coordenar as rotas marítimas por onde a droga passava, do Caribe à Inglaterra, graças à sua habilidade como velejador. A cocaína, de origem colombiana, seguia de avião até águas caribenhas, onde os pacotes eram jogados no mar e recolhidos em barcos e lanchas.

O brasileiro, que se formou em economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e chegou a ser usuário de drogas, foi preso no dia 12 de fevereiro de 1999, em um quarto de hotel em Londres. Ele soube depois que estava sendo investigado há meses pela Interpol. “O julgamento durou 14 meses, o mais longo da história da Inglaterra por causa do volume do processo: 300 mil páginas.

O brasileiro foi condenado a 24 anos de prisão por associação ao tráfico e ao pagamento de uma multa de 76 milhões de libras (cerca de R$ 228 milhões), além de ter todos os bens apreendidos pelo governo inglês. Durante os cinco primeiros anos na cadeia, Soares ficou na solitária, depois que descobriram que tinha arquitetado um plano de fuga usando, inclusive, um helicóptero. “Faziam tortura psicológica o tempo todo, não me deixando dormir. De 40 em 40 minutos, vinha um guarda e acendia a luz para evitar que eu descansasse”, lembra o brasileiro.

Apesar disso, ele afirma que o presídio inglês tinha condições muito superiores às da unidade brasileira para a qual foi transferido, após uma luta judicial de dois anos. “Lá, era tratado apenas como preso, sem problema com nacionalidade. A qualidade dos presídios nem se comparam com as cadeias brasileiras. Fui transferido de lá para Bangu (Rio de Janeiro) e sei do que estou falando”, esclarece o economista.

Depois de passar 12 anos na prisão (oito em Londres e quatro no Rio de Janeiro), o carioca Ronald Soares, que fala cinco idiomas, ganha a vida como representante de uma empresa que vende peças de navios. Seu passado foi registrado em livro. “É um enredo tão inverossímil que, se fosse ficção, as pessoas achariam exagerada. É minha história e não tenho vergonha dela”.
 

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