Número de cidades mineiras em racionamento cresce quase 50% em apenas dez dias

Raul Mariano e Mariana Durães
horizontes@hojeemdia.com.br
22/09/2017 às 20:25.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:41
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

A seca que assola o território mineiro atinge cada vez mais municípios. A situação é tão grave que, em um intervalo de dez dias, o número de cidades que adotaram o sistema de racionamento no interior do Estado saltou de 25 para 37. Um aumento de 48% que pode impactar a vida de mais de 1,2 milhão de pessoas. Na Grande BH, apesar de o risco de desabastecimento estar descartado, a seca já é a pior dos últimos 100 anos, segundo a Copasa.

O cenário é motivado por um período extenso de estiagem que acabou reduzindo drasticamente o nível dos principais reservatórios que abastecem o Estado. Por consequência, as unidades de produção e distribuição de água para várias regiões foram afetadas. Em todo o Estado, as medidas para minimizar o impacto da falta de chuvas têm envolvido a perfuração de poços, melhorias no sistema de abastecimento e o apoio de caminhões-pipa, como é o caso de Varzelândia, no Norte de Minas. 

O município, com quase 20 mil habitantes, conta apenas com dois veículos para realizar o abastecimento. Segundo a prefeita Valquíria Cardoso, o esforço não tem sido suficiente, já que poços artesianos da região começaram a secar. “Nos que ainda têm água, a vazão está baixa, e a água começa a sair barrenta. O caminhão de dez mil litros que era enchido em 15 minutos agora demora duas horas”, relata.

A prefeita afirma que a liberação para mais veículos já foi solicitada ao Estado e, enquanto isso, o município vive uma situação desesperadora. “Precisa ser feita alguma coisa para a gente não passar mais por isso. Todo dia atendo pessoas reclamando, com sede. É muito grave a situação, mas eu infelizmente não consigo fazer água”, lamenta.

Prazo

A solução para o problema, no entanto, não será imediata. A Defesa Civil estadual ainda trabalha em um plano de seca que precisará ser discutido com vários órgãos antes de ser colocado em prática. 

De acordo com o tenente Paulo Souza, da assessoria de comunicação da Defesa Civil, reuniões de alinhamento e levantamento de demanda estão sendo feitas no momento, mas ainda não há informações concretas sobre ações efetivas. “Vai ser articulado para que não seja uma ação isolada. Queremos que o plano entre em ação o mais rápido possível”, explica. 

Crise

Hoje, dentre os vários pontos estratégicos monitorados pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) nas bacias de Minas, apenas dois estão funcionando dentro da normalidade. Seis estações estão em estado de atenção, sete em alerta e oito já com restrição de uso. 

Para criar esses parâmetros, o Igam leva em conta as condições dos rios por sete dias consecutivos. Dessa forma, a classificação é dada quando as vazões ficam abaixo do valor estipulado como referência, que considera a série histórica de dez anos. 

Queda no volume de chuvas da Grande BH bate recorde

Se no interior de Minas a seca tem causado grandes prejuízos, a situação da região metropolitana da capital também é preocupante. De janeiro a setembro, choveram apenas 448 milímetros na Grande BH, volume muito abaixo da média dos últimos 65 anos, que é de 798 milímetros. Apesar do cenário de estiagem, a Copasa descarta o racionamento, já que há possibilidade de transferência entre os sistemas que abastecem as cidades no entorno da capital. 

Na prática, isso permite que haja um aumento no volume de água tratada pelo sistema da bacia do Paraopeba – formada pelas represas Rio Manso, Serra Azul e Vargem das Flores – se for necessária redução de vazão no rio das Velhas. “Hoje, nos lagos, temos 140 milhões de metros cúbicos de água acumulados, o que atende o consumo da Grande BH pelo período de dez meses. Como em novembro vamos entrar no período chuvoso, acreditamos que a situação será normalizada”, afirma o diretor de Operação da Região Metropolitana da Copasa, Rômulo Perilli. 

Nas proximidades do bairro Roças Grandes, em Sabará, a situação chama a atenção. A moradora Jennie Cristina, de 26 anos, confirma que o nível do Velhas baixou muito. “Atravesso o rio quase todos os dias para buscar lenha do outro lado. Antes era bem fundo, a água batia acima da minha cintura, e agora já está abaixo do joelho”.

O período prolongado de estiagem que já ultrapassa cem dias na Grande BH é considerado por especialistas como “um ponto fora da curva”. A expectativa é a de que, a partir de novembro, todos os rios tenham o volume normalizado dentro das médias históricas. Caso contrário, o cenário poderá ser caótico. “Temos condições de suportar uma seca como essa por mais dois anos. Depois disso, iríamos viver na região Sudeste do país uma tragédia. A repetição disso por dois ou três anos implicaria em medidas emergenciais”, alerta Perilli.Editoria de Arte

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