Número de leitos psiquiátricos no SUS diminuiu 40%

Agência Brasil
22/08/2015 às 10:13.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:27
 (Reprodução / TV Brasil)

(Reprodução / TV Brasil)

Em nove anos, o número de leitos psiquiátricos no Sistema Único de Saúde (SUS) diminuiu quase 40%. Em 2006, havia 40.942 leitos em 228 hospitais psiquiátricos. Atualmente, existem aproximadamente 25 mil leitos psiquiátricos do SUS em 166 hospitais no país.

Essa redução vem ocorrendo desde 2001, com a aprovação da reforma psiquiátrica no Congresso Nacional. A lei determina a extinção progressiva dos leitos para internação de longa permanência em hospitais psiquiátricos.

O autor do texto, o ex-deputado Paulo Delgado, afirma que essa legislação reflete uma vontade da sociedade. “O que as pessoas desejam é que os médicos atendam em liberdade, que não isolem, que encontrem um caminho. Se não for possível a cura, que seja um tratamento mais humano, que possa dar conforto ao paciente e tranquilidade à sua família”, esclarece Delgado.

Para o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva, o ideal é fazer o tratamento no seio da família, mas existem casos que exigem internação. "Como dizer que não precisamos internar em hospitais psiquiátricos? Claro que precisamos. Não se acaba com uma doença por decreto. Há os quadros mais graves", defende Antônio Geraldo.

Outro desafio da saída dos pacientes dos hospitais é a retomada do convívio familiar. José Horácio, que não sabe ao certo a idade que tem, tenta a reaproximação com os parentes desde 2013, quando saiu da internação em Barbacena (MG). Primeiro, ele foi morar com a mãe em Araçuai, também em Minas Gerais, e continuou o tratamento no Centro de Atenção Psicossocial (CAPs), estrutura criada para atender a pessoas com transtorno mental e substituir a internação.

Barbacena

No alto da serra, na fria e bucólica cidade de Barbacena, em Minas Gerais, pessoas com transtornos mentais passeiam diariamente nos quintais dos prédios onde funcionava o maior hospício do Brasil, o Colônia. Hoje, o local abriga o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena e conta com 171 pacientes em regime de internação de longa permanência. Mesmo com o fim do manicômio, eles continuaram internados porque não tinham vínculo familiar nem para onde ir.

Chama a atenção no hospital a quantidade de pessoas que aproveitam o passeio no quintal para fumar. O vício é uma marca do passado no antigo hospício. O cigarro era usado como moeda de troca no Colônia. O paciente que se comportasse ganhava o fumo para enrolar e tragar. Na época, dizia-se que o vício era um poderoso remédio para acalmar. Outra herança do manicômio é o hábito de ficar horas se arrastando pelo chão. Para eles é muito difícil perder esse costume depois de passar grande parte da vida em um lugar onde não havia cadeiras nem camas suficientes para todos.

Ao contrário do que acontecia na época do hospício, quando os pacientes passavam o dia todo vagando nos pátios, hoje cada um tem uma atividade. As preferidas são os trabalhos artesanais, principalmente de costura, tapeçaria e desenho. Todos os dias, dona Eunice dos Santos vai ao Centro de Atendimento ao Paciente Asilar para fazer peças de tapeçaria. Aos 56 anos, ela se orgulha em dizer que acorda antes das 6h para trabalhar. “A minha vida é essa, só bordar”.

O resultado dos trabalhos mostra que pessoas com transtornos mentais não são incapazes, mesmo quando existem ainda mais obstáculos a serem enfrentados. Aparecida Silva é cega, surda e muda. Internada desde 1967, provavelmente sem distúrbios mentais, ela faz o maior sucesso com sua habilidade em costurar colchas de retalhos. As peças são disputadas entre funcionários e visitantes do local.

Em 1989, teve início o projeto dos módulos residenciais. O lugar recebe pacientes que se preparam para sair da internação. No próprio terreno do hospital, cinco módulos que parecem casas abrigam hoje pouco mais de 100 pacientes.

Wanda Darlu, que trabalha como assistente social no projeto, explica que os pacientes voltam, pouco a pouco, ao convívio social. “Nessa preparação estão passeios na rua para se acostumarem com a população, porque eles perderam o vínculo com a comunidade. Vamos ao shopping, à pastelaria, ao mercado e compramos roupas”, explica Darlu.

Donizete Silva, 65 anos, sai do hospital, com acompanhamento, para comprar os CDs e DVDs preferidos. Também gosta de dar umas voltinhas pela rua e ajudar o padre. “Eu vou à missa e balanço o sino do padre, eu ajudo mesmo”, conta, todo orgulhoso, o senhor grisalho que não lembra quantos anos tem, mas já está internado há 34 anos.

Muitos deles já têm condições de morar em residências terapêuticas, casas para pessoas com transtorno mental que ficam no meio da cidade.Nesses equipamentos, as pessoas têm acompanhamento de diversos profissionais.

De acordo com o diretor do hospital psiquiátrico, Wander Lopes, o processo de alugar as casas, equipá-las, contratar os cuidadores, assistentes sociais e psicólogos é lento. “Os municípios são responsáveis pelas residências terapêuticas. Os pacientes só saem do hospital se as prefeituras fornecerem a estrutura necessária”, afirma Lopes.
 

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