Números estratosféricos de um caso intrigante

Thaís Mota - Do Portal HD
14/11/2012 às 12:54.
Atualizado em 21/11/2021 às 18:17

Quase dez mil páginas de processo, mais de 50 advogados envolvidos no caso e 80 pedidos de habeas corpus impetrados nas várias instâncias do judiciário brasileiro. Estratosféricos, esses números são parte do processo pelo qual o ex-goleiro Bruno Fernandes de Souza e outros seis réus respondem na Justiça mineira. Um julgamento que promete durar três semanas.

Acusados do desaparecimento e suposta morte da ex-modelo e ex-amante do goleiro, Eliza Samudio, o julgamento foi desmembrado e cinco réus vão a júri popular no próximo dia 19 de novembro, no Fórum de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

O goleiro Bruno Fernandes e Luiz Henrique Ferreira Romão, o "Macarrão" serão julgados pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, sequestro, cárcere privado e ocultação de cadáver. Já o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o "Bola", responderá por homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáver. Além deles, Dayane Rodrigues e Fernanda Gomes, que respondem por sequestro e cárcere privado, também vão a julgamento. Os demais réus, Elenilson Vitor da Silva e Wemerson Marques de Souza, o Coxinha, conseguiram o desmembramento do processo e serão julgados em outra ocasião.

A ausência de corpo, a repercussão nacional que o caso tomou e as muitas e diferentes versões para o crime tornaram o processo ainda mais complexo. Em função dessas dificuldades, muitos defensores já passaram pelo caso e várias estratégias utilizadas para tentar desvincular a participação dos acusados no sumiço da ex-modelo. Ao todo, pelo menos 50 advogados assumiram a defesa dos envolvidos em algum momento do processo.

Segundo o advogado criminalista e professor universitário, Ronaldo Garcia Dias, o fato de vários advogados estarem à frente do caso atualmente não é incomum já que as defesas dos réus são conflitantes. Porém, o troca-troca de advogados impressiona bastante. "A mim pareceu que há uma balbúrdia em termos de passagem de advogados pelo caso. Pode ter sido uma estratégia da defesa, mas a mim parece que só prejudica, não só o processo, mas o próprio réu", explica.

Para o criminalista, o apelo midiático do caso atraiu muitos defensores interessados em fama e sucesso. "Um dos advogados inclusive concedeu uma entrevista dizendo que não recebia honorários, que atuava no caso apenas pela publicidade", destaca.

Advogados do goleiro

Quando a prisão do goleiro Bruno foi decretada, em julho de 2010, a defesa do jogador era comandada por Ércio Quaresma. Mas o advogado deixou o caso em meio a um polêmico vídeo divulgado pela TV Alterosa onde ele aparecia fumando crack em uma boca de fumo de Belo Horizonte. Por causa do vídeo, Quaresma chegou a ser suspenso da Ordem de Advogados do Brasil (OAB) por 90 dias. Além disso, o defensor já tinha sido flagrado dormindo e até mesmo roncando em uma audiência de seu cliente e teria chantageado o goleiro para permanecer à frente do caso.

Em seguida, Cláudio Dalledone Júnior assumiu a defesa de Bruno Fernandes. Pouco mais de um ano à frente do caso, Dalledone deixou o caso em dezembro do ano passado alegando incompatibilidade entre sua tese e a autodefesa de Bruno. Segundo o defensor, o ex-goleiro queria sustentar a tese de que se não há corpo não há crime, o que segundo o advogado, não seria a melhor maneira de conduzir a defesa do réu.

Dalledone ressaltou ainda que durante o período que atuou em defesa de Bruno, fez o trabalho com seriedade e, apesar de ter deixado o caso, ele acredita na inocência do ex-atleta e acredita em sua absolvição. "Eu espero que Deus abençoe o julgamento e acho que o Bruno pode ser absolvido. Ele é um ídolo e será julgado por um tribunal popular, o que pode ajudá-lo", disse.

Desde a saída de Dalledone, a defesa do goleiro ficou a cargo dos advogados Rui Pimenta e Francisco Simim. Convicto da absolvição de seu cliente, Pimenta disse que sua estratégia no julgamento será de conversar com os jurados mostrando a eles que não há provas contra Bruno Fernandes. "O que existem são apenas suposições e não se pode condenar ninguém com base em suposições", disse. "Eu estou doido pra terminar logo o julgamento e acabar tudo isso. Assim a gente já sai de lá com o alvará de soltura nos braços", completou o advogado.

Diferentes versões

Em função das defesas conflitantes e dos inúmeros advogados que passaram pelo caso, conduzindo o processo cada um a sua maneira, várias versões para o sumiço e possível morte de Eliza Samudio surgiram, muitas delas desmentidas logo em seguida.

As primeiras informações sobre o desaparecimento da ex-modelo foram de uma entrevista dada por um motorista de ônibus do Rio de Janeiro sobre o envolvimento do filho de sua sobrinha no sumiço de Eliza Samudio. A partir daí, a polícia iniciou as investigações sobre o jovem, que acabou apreendido.

O então adolescente e primo do ex-goleiro, Jorge Luiz Rosa, peça chave para a denúncia que culminou na prisão dos acusados de envolvimento no caso, mudou toda sua versão sobre o crime. Inicialmente, Jorge afirmou que a ex-modelo foi morta a mando de Bruno e disse ter visto Eliza ser estrangulada. Em seguida, de acordo com o depoimento do jovem, ela teria sido esquartejada e os pedaços do corpo dados para cães pelo ex-policial Marcos Antônio Aparecido, o Bola. Mas durante as audiências do processo, o adolescente desmentiu os depoimentos anteriores e alegou ter sido torturado para confessar participação em um crime que não teria acontecido.

Outra testemunha importante do caso teve sua versão alterada durante as audiências. Sérgio Rosa Sales, também primo do jogador, havia confirmado a presença de Eliza Samudio no sítio do goleiro Bruno bem como dado informações sobre o local onde a ex-modelo teria sido morta. Mas, também sob alegação de tortura, desmentiu os depoimentos. Em agosto deste ano, Sérgio Rosa Sales acabou assassinado no bairro Minaslândia, onde morava em Belo Horizonte. O jovem respondia em liberdade pelos crimes de sequestro e cárcere privado, homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver e a suspeita de queima de arquivo foi descartada pela polícia.
 

Várias estratégias

As estratégias utilizadas pelos advogados ao longo do processo também foram inúmeras e segundo o criminalista, Ronaldo Garcia Dias, acabam por tumultuar o processo. "Colocaram até o homossexualismo na história. Isso deixa o processo imprevisível e acaba por prejudicar o próprio julgamento", destaca.

Garcia Dias se referiu ao advogado Rui Pimenta, que atualmente defende o goleiro de Bruno Fernandes, e que disse em julho deste ano que seu cliente tinha um relacionamento homossexual com Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão. A estratégia do defensor, além de não não acrescentar quase nada ao processo, culminou em um processo por danos morais no valor de R$ 1 milhão movido por Macarrão contra as afirmações de Pimenta.

Já no julgamento a defesa deve ser concentrar na falta de provas e na ausência de corpo, teses desconstruídas pelo criminalista Ronaldo Garcia Dias. Para o advogado, o argumento de que de que não há corpo e por isso não há crime é muito frágil para pleitear a liberdade do ex-goleiro e mais ainda para conseguir sua absolvição no tribunal do júri.

O defensor lembra ainda que o processo tem outras provas importantes e, por isso, mesmo há um risco de condenação. "As investigações apontaram que havia manchas de sangue de Eliza Samudio no carro do Bruno. Além disso, há outros fatos graves a serem considerados como as agressões e a tentativa de aborto", destaca.

 


 

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