No Dia da Avó, netos escancaram a cumplicidade de uma relação que dura para sempre

Patrícia Santos Dumont - Hoje em Dia
26/07/2014 às 09:33.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:31
 (Arquivo pessoal)

(Arquivo pessoal)

Sabe aquela figura fofa, que tem sempre à mesa um bolo fresquinho e café quente esperando pela primeira visita? Que guarda na memória milhares de histórias interessantes e tem sempre um conselho sábio para cada situação? Este sábado (26) é o dia dela: mãe duas vezes, mãe com açúcar. Dia da Avó (ou dos Avós). Mas quem abre o coração são os netos. Apaixonados, escancaram a cumplicidade e o afeto que alimentam uma relação quase sempre muito mais do que maternal. Histórias de amor recheadas de afeição, intimidade e porções generosas de amizade e carinho.    No Brasil todo, ele ficou conhecido como o neto que virou pai, abandonou a própria vida para cuidar de outra. Entre janeiro e dezembro do ano passado, então com 21 anos, o gaúcho Fernando Aguzzolli passou uma borracha nos planos pessoais para se dedicar aos cuidados da “vovó Nilva”. Trocou de lugar, literalmente.    Levado pelas circunstâncias, deixou aflorar o sentimento que sempre carregou consigo: de gratidão e amor incondicional pela avó materna, uma espécie de mãe postiça. Foi morar no apartamento dela, no mesmo prédio em que vivia com os pais, e dona Nilva, por sua vez, acomodou-se no quarto do neto.    E a mudança toda não parou por aí. Aos 79 anos e com um avançado quadro de Mal de Alzheimer, a simpática vovó passou a necessitar de cuidados integrais. Da hora em que abria os olhos ao se deitar, era com o neto que partilhava todos os momentos do dia. “Esperava ela acordar para que não houvesse risco de queda. Preparava o café da manhã e passava praticamente todo o dia ao lado dela, enquanto ela fazia tricô”, relembra.    Pelo acúmulo de funções, executadas com prazer, Fernando abriu mão de seus próprios momentos. “Deixei de ir a festas com amigos para ficar com ela, mas isso não foi nenhum sacrifício. Fiz tudo com muito amor. As horas ao lado dela eram prazerosas, divertidas”, conta Fernando.    Há sete meses, porém, a vida se encarregou, da forma mais natural possível, de pôr um ponto final na história deles. Com bom humor e delicadeza, os casos, apesar de lembrados com facilidade, se eternizaram no livro “Quem, eu? Uma avó. Um neto. Uma lição de vida”, que será lançado nesta terça-feira, na livraria Leitura do BH Shopping, na capital. “Fiz tudo levado pelas circunstâncias, mas para retribuir o que ela já havia feito por mim”.   Os textos misturam autobiografia, curiosidades sobre o Alzheimer e histórias cômicas da convivência, por vezes, turbulenta por causa da doença. “Sempre fomos extremamente ligados, bem próximos e amigos. De morar no mesmo bairro, na mesma rua, e até no mesmo prédio. Nossa história não termina aqui. Vai ficar para sempre”, diz.    GERAÇÕES   Relações diferentes, mas sob uma mesma premissa, à do amor de verdade, que atravessa gerações. É assim entre Vinícius Tanure, de 10 anos, e a avó materna, Maria Beatriz. “Adoro estudar para as provas com ela e também gostamos de música, ela toca piano, e eu flauta. E quando ela viaja, sinto muita saudade”, comenta Vinícius.    Sobre o apego, a vovó coruja assina embaixo. “Logo que ele nasceu, passamos bastante tempo muito próximos e, de certa forma, acho que isso contribuiu para que nos tornássemos bons amigos”.   Mãe de Vinícius, a advogada Gláucia Tanure, de 32 anos, tem outra explicação para o amor da dupla. “Acho que por ver minha relação sempre carinhosa com minha avó, Olga, o Vi acabou ficando também muito apegado à minha mãe. Estão sempre juntos e são muito amigos”, conta ela, referindo-se à bisa do primogênito, de 93 anos.      Uma relação de amor que dura para sempre   A advogada Karlla Luiza Martins de Toledo, de 30 anos, e a designer Roberta Magalhães, de 31, nem se conhecem, mas compartilham relatos muito parecidos quando o assunto é o convívio com os avós. Típicas “meninas criadas com vó”, como costuma ser chamado quem cresce sob as asas das matriarcas, nasceram e cresceram ao lado delas.   “Meu melhor relacionamento é com minha avó, para quem conto minhas intimidades e com quem me aconselho. Sair de casa, por exemplo, só depois de avisá-la e saber como está. Com minha mãe, na verdade, a relação é até meio difícil. Às vezes, parecemos duas irmãs, que brigam o tempo todo”, conta Roberta, neta coruja da avó Zinha, como é conhecida, de 82 anos.   No dia a dia, todos os mimos e o chamego são dedicados à dona Conceição. “Ela tomou completamente o lugar de mãe, na verdade, é mãe duas vezes. Apesar de diferentes fisicamente, temos um temperamento muito parecido e afinidades que não consigo ter com mais ninguém”, resume Roberta.    Quanto aos planos de “voar” e formar seu próprio lar, ela adia, temendo ficar órfã do ninho que a acolheu desde muito pequena. “Se ainda estou em casa é por causa dela. Temos uma ligação muito intensa e terna. Por enquanto, não penso em deixá-la”, assume.   Karlla, em contrapartida, que aos 2 anos passou a viver sob o mesmo teto de dona Edith, de 87, casou e mudou. Apesar da distância física, como num ritual sagrado, não deixa de visitar a “segunda mãe” sempre aos fins de semana. “Mesmo agora, tendo o meu lar, todos os domingos nos reunimos. Também conversamos todos os dias por telefone e estou sempre por perto para ajudar. Eles são meus pais de coração e de alma”, explica a advogada. 

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