O medo acorda cedo: BH registrou 1.627 roubos entre 6h e 6h59 em 2016; número dobrou em dois anos

Bruno Moreno
bmoreno@hojeemdia.com.br
28/03/2017 às 20:07.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:55

Como faz diariamente, a cozinheira Alenir Menezes, de 56 anos, moradora do bairro Santa Maria, na região Oeste da capital, levantou cedo em uma manhã de janeiro deste ano e foi para o ponto de ônibus. Aquele dia, porém, seria diferente de todos os outros. Pouco antes de o ônibus chegar, às 6h15, ela e outros passageiros que estavam no local foram surpreendidos por um motoqueiro que levou dinheiro e diversos pertences de todos eles. 

“Só não levou a minha aliança porque custei a tirá-la, o dedo fica inchado pela manhã. Então, ele foi embora”, relembra.

Roubos no início da manhã no bairro em que Alenir mora, muitas vezes com práticas violentas, têm sido cada vez mais frequente. Os relatos são de que motoqueiros seguem a rota dos ônibus, fazendo arrastões em quem espera o transporte coletivo. Às vezes carregam malas e roubam tudo, inclusive as bolsas e mochilas das vítimas. Mas, na maioria das vezes, pegam dinheiro, celulares e joias. 

A situação do Santa Maria se repete em outros locais da cidade, comprovando o que os órgãos de segurança pública têm constatado: nos últimos três anos, o fim da madrugada e início da manhã são os períodos em que mais está se registrando aumento no número de roubos na capital.

No comparativo de 2014 a 2016, o aumento foi de 48%, entre 5h e 8h59, saltando de 2.887 ocorrências para 4.268, de acordo com a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp). No entanto, nesse período, o maior crescimento foi justamente das 6h às 6h59, quando o número de registros mais que dobrou. 

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Em 2014, nesse horário, foram reportados 723 casos, contra 1.627 no ano passado. A diferença (904) representa um acréscimo de 125% no período.

As ações de repressão ao crime no início da manhã são concentradas nos grandes corredores de tráfego da capital

A tendência de aumento das ocorrências no fim da madrugada e início continua a se confirmar em 2017. Segundo a Polícia Civil, no comparativo entre janeiro e fevereiro de 2016 e deste ano, os mesmos horários apresentam alta, enquanto nos outros as ocorrências têm diminuído.

Nos dois primeiros meses de 2017, houve maior acréscimo de roubos das 6h às 6h59, quando foram anotados 40 casos a mais. No geral, na comparação de janeiro e fevereiro de 2016 e deste ano, o número de crimes do tipo reduziu 7,76%, caindo de 8.322 para 7.676.

Criminoso mudou estratégia a partir do reforço no policiamento

 os roubos na capital estavam concentrados nesse período.

le conhece histórias de vizinhos que foram alvo de ladrões)

A partir daquele ano, no entanto, os bandidos passaram a atuar mais no fim da madrugada e no início da manhã. “Eles estão mudando a estratégia, migrando”, avalia o chefe do 1º Departamento de Polícia Civil em Belo Horizonte, Rafael de Souza Horácio.

Por meio da assessoria de comunicação, o Comando de Policiamento da Capital (CPC), da PM, informou que tem direcionado táticas operacionais para prevenir e coibir crimes violentos - contra pessoa e patrimônio -, sobretudo nos locais de maior concentração e fluxo de público. 

Em nota, a corporação informou que é seguido um roteiro de policiamento nos pontos de ônibus, com base no mapeamento desse tipo de ocorrência criminal. As áreas mais problemáticas, no entanto, não foram informadas.

A assessoria informou, ainda, que tinha limitado o policiamento nos pontos de ônibus depois de a Guarda Municipal começar a fazer a segurança dos usuários do sistema de transporte coletivo de Belo Horizonte, em janeiro deste ano. Porém, a PM decidiu retornar a prevenção não só no trajeto dos veículos, mas também desencadeado operações contra o crime.

Subnotificação

A subnotificação dos crimes, conhecida como “cifra negra”, é um dos maiores desafios das polícias Militar e Civil, que querem estimular a população a fazer os boletins de ocorrência quando for vítima de um roubo. Com o documento registrado, as corporações afirmam ser possível um melhor planejamento das estratégias de combate aos bandidos.

De acordo com o delegado Rafael de Souza Horácio, a falta do registro oficial interfere nas estatísticas, maquiando zonas “quentes” e atrapalhando as políticas de repressão qualificada na cidade.

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