Uma grande festa para 200 moradores de comunidades quilombolas vizinhas celebrou o início da esperada ocupação cultural da Fazendo Boa Esperança. Com direito a iguarias pouco ou nada conhecidas nos centros urbanos – como o cubu, bolinho cozido na folha de bananeira –, o banquete foi o primeiro passo para uma série de atividades com gestão compartilhada entre poder público e comunidade.
A ação faz parte do projeto Refazenda, parceria entre Iepha (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais) e Instituto Inhotim para investigar formas de uso do espaço tombado há 45 anos [/TEXTO]e localizado em Belo Vale, região Central do Estado.
Na festa – ocorrida no último dia 28 – para 200 pessoas, os quilombolas de Boa Morte e Chacrinha dos Pretos serviram delícias que tiveram broto de bambu e umbigo de bananeira como alguns dos ingredientes mais usados.
O cardápio foi resultado de uma residência artística realizada pela cozinheira Patrícia Brito junto às comunidades. O objetivo foi trabalhar a memória gustativa dos quilombolas e todo o estudo foi documentado. “Fiquei preocupada porque muitas dessas comidas estão se perdendo. Essa comida está localizada na memória dos mais antigos”, diz Patricia.
Além do banquete, os quilombolas apresentaram reisado de Nossa Senhora do Rosário, cantos, teatro e capoeira. Toda a programação foi definida pelos próprios moradores.
“Recebemos muito bem o projeto porque havia um sonho da comunidade de fazer algo nessa fazenda, que só alguns conheciam. Pudemos mostrar nossa cultura”, diz a cozinheira Maria Aparecida Dias, moradora do quilombo do Chacrinha.
Gestão
Segundo a presidente do Iepha, Michele Arroyo, a intenção é que a fazenda continue a ser ocupada pela comunidade, por meio de uma gestão que será ainda planejada junto ao município.
“Nossa intenção é fazer com que essas comunidades se sintam parte da história da fazenda e que no modelo de gestão as comunidades estejam presentes para ocupar o casarão com atividades permanentes. Pode ser por meio de oficinas que passam pela cultura alimentar ou de outros saberes que essas comunidades detêm”, afirma Michele, acrescentando que o Inhotim realizou também um mapeamento do acervo ecológico da fazenda. É o primeiro passo para que o espaço seja transformado futuramente em um parque.