Operário relembra dois milagres que o salvaram da morte em Córrego do Feijão

Lucas Eduardo Soares
30/01/2019 às 20:41.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:19
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

 Seis dias internado não foram suficientes para Antônio França, de 55 anos, o “Toninho”, compreender a tragédia em Brumadinho. Auxiliar de montagem em uma empresa terceirizada da Vale, foi por pouco que o homem conseguiu escapar da morte após o rompimento da barragem da Mina do Feijão, na última sexta-feira. Ele estava no alto de um andaime localizado a 900 metros da estrutura que ruiu. Com o trabalhador, outros oito operários. Ao menos um outro também se salvou. Dos demais colegas, não têm qualquer notícia até hoje.

Nesta quarta-feira (30), ao receber alta do Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII, na capital, Antônio não escondia a ansiedade para chegar em casa, no bairro Tejuco, em Brumadinho. Tanta inquietação tem nome: Davi Lucas, o filho de 4 anos. A vontade é dar novamente um abraço apertado no menino. 

O auxiliar de montagem nem imaginava que não precisaria esperar tanto para rever ao menos parte da família. A esposa, Rosilene França, foi buscá-lo no hospital.

Questionado sobre a sexta-feira da qual dificilmente se esquecerá, o operário lembra que o dia começou, aparentemente, como outro qualquer. Mas Antônio saiu do refeitório da mineradora, onde muitos colegas perderam a vida, 30 minutos antes da tragédia. O primeiro milagre do dia? Certamente, diz ele. 

Do restaurante, seguiu para a área de processamento do minério de ferro, onde outros colegas trabalhavam em um andaime a sete metros de altura. A tarefa, naquele dia, era fazer suportes para iluminação e placas.

Instantes após chegar ao local, a estrutura metálica desabou. A força da lama fez tremer o chão. Foi o momento do segundo milagre. “Caí de pé. Fiquei prensado nas ferragens. Conseguia movimentar o pescoço e o braço esquerdo”, relembra, emocionado. O medo tomou conta, diz Antônio. “Meu telefone começou a tocar, mas não conseguia me mover”.

Ele começou a gritar pelos colegas. Silêncio. Somente duas horas depois, uma voz de alento. Um funcionário da Vale pedia que, se alguém estivesse ali, que se manifestasse. “Eu dizia: pelo amor de Deus, me ajuda, porque não estou aguentando mais de tanta dor!”.

“Naquele momento, eu não sabia que o estrago seria tão grande. Só fui ter dimensão da tragédia quando fui socorrido. Hoje, a sensação é de alívio, né?” (Antônio França, 55, auxiliar de montagem)

Resgate

Antônio lembra de ter sido levado de helicóptero ao local onde até hoje está montada a base das operações de resgate em Brumadinho. De lá, foi de ambulância para o HPS. Diagnóstico imediato: três costelas quebradas, hemorragia no pulmão e fratura no braço direito. 

Sessões de fisioterapia serão necessárias para que Antônio recupere movimentos dos dedos da mão.Mas isso é preocupação para depois. Por ora, ele só quer aproveitar o convívio novamente com a família. Segundo a esposa, o filho só pergunta pelo pai. Quer saber quando ele volta para fazer a mamadeira e colocá-lo para dormir.

Aliviado por estar vivo, Antônio não esconde a angústia. “Fico triste pelos que se foram. É lamentável”.

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