Pai de garotas que afogaram em Itaverava não quer voltar para casa

Alessandra Mendes - Do Hoje em Dia
09/01/2013 às 06:58.
Atualizado em 21/11/2021 às 20:26
 (Ricardo Bastos)

(Ricardo Bastos)

ITAVERAVA – As cruzes artesanais, feitas de madeira e papel de seda branca, estão espalhadas por todas as casas dos vilarejos que circundam a cidade de Itaverava, na região Central de Minas. Uma tradição religiosa que passou a ter outro sentido para os moradores de uma delas, no distrito de Carnaúba. Ao lado de portas e janelas de uma humilde casa verde, isolada em meio à mata, as cruzes agora representam o luto de uma família despedaçada. O local deixou de ser moradia de três jovens irmãs, vítimas de afogamento no domingo.

Tudo está fechado desde o enterro das jovens, na noite de segunda-feira, e ainda não é certo que a casa voltará a ser habitada depois da tragédia. “Minha ideia é sair de lá. Nunca mais vou conseguir chegar ao leito do rio e não sei se aguento ficar no meio de tantas lembranças”, desabafou o pai, Ailton dos Santos, de 54 anos. O sonho do lavrador sempre foi morar em um local tranquilo, como o que escolheu para criar sua família há mais de 20 anos, à beira do rio Piranga.

Aline Maria dos Santos, de 20 anos, Alice Efigênia dos Santos, de 13, e Ana Flávia Rosa dos Santos, de 11, morreram afogadas no domingo, a pouco mais de oito minutos de caminhada de casa.

Nenhuma delas sabia nadar mas, mesmo assim, as duas mais velhas pularam na água para tentar salvar a caçula, que afundou depois de escorregar em uma pedra. O irmão delas, de 8 anos, tentou ajudar e quase se afogou.

O garoto foi retirado da água pelo namorado de Aline, Rafael Vane Santos Cunha, de 17 anos, único do grupo que sabia nadar. “Coloquei ele em uma pedra e tentei pegar as meninas. Estavam desesperadas e me arranharam muito, até comecei a afogar e desmaiei, mas não consegui ajudar”, contou o rapaz, que ainda usa a aliança de compromisso no anelar direito. O casal já planejava o casamento para 2014.

Apesar da pouca idade, e com apenas oito meses de relacionamento, Rafael tem noção exata do tamanho da perda. “Ela era a mulher da minha vida e não sei como vou fazer para seguir daqui pra frente”, disse. O mesmo sentimento é compartilhado pela família das vítimas, hospedada na casa de Rafael, em Conselheiro Lafaiete, para retardar o reencontro com os cômodos vazios da casa em Carnaúba.

“Minha mulher está tomando remédios e meu filho me pergunta o tempo todo ‘como é que vou fazer agora, pai?’”, contou o lavrador. Pergunta para a qual não tem resposta. O futuro ainda parece distante em meio a tantas recordações do passado. “A mais velha estava encaminhada, a Alice gostava da vida simples e a menor queria ser doutora. Como é que ficam os sonhos agora?”, perguntava o pai, emocionado, uma questão que só será respondida com o tempo.

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