Pais adotivos solteiros são exceção à regra

Renato Fonseca - Hoje em Dia
15/08/2014 às 07:59.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:48
 (Ricardo Bastos)

(Ricardo Bastos)

De uma trajetória de desafetos e maus-tratos para o carinho e acolhimento do novo lar. Há quatro anos, o menino Y., de 10 anos, deixou o abrigo onde morava para viver ao lado do pai adotivo, o administrador de empresas Edvaldo Zerlin, de 41. Com a união, dois sonhos se realizaram: o do garoto, de ganhar uma família, e o do homem, de ter um filho.

No Dia dos Solteiros, comemorado nesta sexta-feira (15), a história de Y. e de Edvaldo Zerlin ilustra um seleto grupo de mineiros. Dos 3.821 pretendentes a adoção no Estado, apenas 62 são homens solteiros – menos de 2%. No topo da lista estão os casais, 3.077. Mulheres solteiras são 218. Minas acompanha a média nacional.

Os números estão no Cadastro Nacional da Adoção (CNA), do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Falta de informação e principalmente desinteresse justificam o número reduzido. Não há nada nos tramites legais que impeça a adoção de crianças por homens solteiros, garante a psicóloga Rosilene Miranda Barroso da Cruz. Técnica da Vara Cível da Infância e Juventude de Belo Horizonte, ela atua na área há 20 anos.

Apesar do número reduzido, Rosilene avalia que a situação já foi pior e melhorou consideravelmente nos últimos anos. A psicóloga observa que o modelo de família tradicional, composto por pai, mãe e filhos, tem mudado na sociedade e os tribunais têm levado isso em conta. “O que vale é o bem-estar da criança e se o pretendente tem condições de assumir o importante papel de uma nova família”.

Igual

A avaliação dela é a mesma do diretor-geral da Faculdade de Ciências Humanas, Sociais e da Saúde (FCH), da
Universidade Fumec, Antônio Marcos Nohmi. Advogado especialista em questões familiares, ele diz que o processo de adoção por solteiros é o mesmo para os casais. Primeiro, os interessados preenchem formulários e assistem a palestras sobre o tema.

Em seguida, o processo de triagem envolve entrevistas psicossociais e qual o perfil da criança que o pretendente que adotar. Se habilitada, a pessoa fará parte de uma lista, junto ao Cadastro Nacional de Adoção. “Ser solteiro é irrelevante do ponto de vista legal. O juiz avaliará, na verdade, a disposição do pretendentes e a capacidade de acolher a criança”, afirma.

O que diz a lei

Adultos com mais de 21 anos, independentemente do estado civil, podem tentar a adoção. É preciso ser 16 anos mais velho que a criança. Para ser adotados, meninos e meninas precisam ter até 18 anos. Antes, a Justiça precisa concluir o processo de “destituição de poder familiar” dos pais biológicos.

Para dar entrada na habilitação, os pretendentes podem ir ao fórum da cidade onde vivem. Vários documentos são necessários, como identidade, comprovantes de residência e de renda, atestado de antecedentes criminais, dentre outros. Em BH, o telefone da Vara da Infância é o (31) 3207-8100.
Inf.: www.tjmg.jus.br

Maioria dos pretendentes não tem filho biológico

Entre os poucos solteiros que buscam o sonho de ser pai, a maioria tem de 31 a 50 anos e não tem filhos adotivos nem biológicos. São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas e Paraná são os estados com maior número de pretendentes.
O processo pela guarda definitiva varia de acordo com o perfil da criança escolhida. Mas, na maioria dos casos, o trâmite é demorado. “A análise deve ser muito criteriosa para evitar qualquer tipo de risco”, diz a psicóloga Rosilene Miranda Barroso da Cruz.

Critérios esses que não foram empecilhos para Edvaldo Zerlin. Morador do bairro Gutierrez, na zona Sul de Belo
Horizonte, ele iniciou a tentativa de adoção em julho de 2009. Mas a guarda de Y. só foi definida quase um ano e meio depois, em dezembro de 2010.

Hoje, os dois têm uma bela relação, recheada de carinho, respeito e admiração. “Sempre quis adotar uma criança. A chegada dele mudou a minha vida. Ele me chama de pai e a família toda o acolheu bastante”, conta Edvaldo.

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