Pandemia do novo coronavírus deve provocar prejuízos a 99% das empresas de BH

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
24/03/2020 às 18:18.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:04
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

O fechamento compulsório de lojas, salões de beleza, bares e restaurantes, desde sexta-feira (20), por tempo indeterminado, vai provocar um grande impacto em 99% dos estabelecimentos da capital mineira. É o que indica uma pesquisa feita pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) com 413 empresários.

O levantamento mostrou que 63,4% dos entrevistados terão um prejuízo muito alto nos próximos meses, enquanto 16,9% afirmaram prever um nivel alto de perdas. Apenas 0,2% dos entrevistados esperam não amargar perdas durante o período de isolamento social para combater a epidemia do novo coronavírus e 0,7% disseram não saber avaliar no momento. O prejuízo será baixo ou moderado para 14,5%. Existem cerca de 18 mil estabelecimentos comerciais em Belo Horizonte, de acordo com a CDL.

Segundo uma estimativa da entidade, o faturamento dos setores de comércio e serviços para o mês de março chegaria a R$ 4,6 bilhões. Com as medidas de enfrentamento à Covid-19, a entidade estima uma queda na receita de R$ 2,09 bilhões. A situação só não é pior porque supermercados e drogarias devem continuar a ter faturamento alto durante a vigência da situação de emergência na cidade.

O percentual médio de prejuízo entre os entrevistados pela pesquisa é de 65%. Quase 19% dos empresários disseram que esperam um prejuízo de 96 a 100% - já que estão com as portas fechadas. 

Setor mais abalado

O setor que relatou o maior percentual médio de perda nas vendas foi de bares e restaurantes: 81,6% de queda. Em seguida, aparece o setor de vestuário e calçados, com perda de 76,5%.

A Autêntica, casa noturna localizada na Savassi, é um exemplo entre as muitas empresas do setor de bares que estão sofrendo imensamente com o fechamento das portas por tempo indeterminado. O empreendimento está fazendo uma vaquinha virtual entre seus clientes para conseguir pagar os salários dos funcionários no próximo quinto dia útil.

“Pagamos no dia 20 o adiantamento do salário dos funcionários, mas não temos mais recursos. No nosso ramo, é muito difícil ter gordura para queimar em um momento como esse. Dependendo do tempo que durar essa obrigação de manter as portas fechadas, corremos o risco de não conseguir reabrir”, afirma Leo Moraes, um dos sócios da casa.

A solução tem sido negociar o valor do aluguel com os proprietários do imóvel e com fornecedores. “Ficamos isentos do imposto do Simples, mas já não teríamos faturamento mesmo, não há como tirar imposto disso. Precisamos que os governantes ofereçam medidas que realmente possam ajudar quem está fechado”, conclui.

Preocupações

De acordo com a pesquisa da CDL, as principais preocupações relatadas pelos empresários são: queda no volume de vendas (79,4% dos entrevistados); redução no faturamento da empresa (68,8%); redução do fluxo de clientes (67,3%); falta de funcionário (24,7%); aumento no preço dos fornecedores (22,8%); redução do insumo necessário para a atividade (11,6%); redução do estoque (10,2%) e perda de mercadoria (7,3%).

Para Patrícia Martins, dona da Madeiraria, empresa especializada em projetos paisagísticos em madeira, a prioridade máxima é conseguir pagar os salários dos funcionários durante esse período excepcional. “Mesmo que o presidente Bolsonaro tenha lançado medidas que flexibilizam as relações de trabalho, a minha maior preocupação é com a folha de pagamento. Porque eles são pais de família e se esforçam muito durante o trabalho”, afirma a empresária.

Segundo ela, é fundamental que todo mundo valorize os trabalhadores, para que a economia consiga se recuperar quando as lojas forem reabertas. “Se a população não recebe salário, ela não consome. Não é somente as empresas que devem ter capital, mas também as famílias que vão às compras”, explica.

Como neste momento muitas contas estão sendo renegociadas ou postergadas, Patrícia está com dificuldade em receber pagamentos de parcelas de serviços executados. Mas ela já esperava por esse impacto. “Há alguns meses eu vinha acompanhando a situação no mundo e vi que era preciso fazer uma reserva para esse momento”, diz a empresária, que também está negociando com fornecedores e o dono do imóvel onde fica seu show-room, no Estoril.Patrícia Martins

As portas do show-room da Madeiraria estão fechadas desde sexta

Mantendo contato

Para que o comércio consiga sobreviver ao impacto do enfrentamento ao novo coronavírus, a CDL faz algumas recomendações como abrir canais de vendas online, reduzir custos, negociar com fornecedores e manter a confiança do cliente. A ideia é que, mesmo de portas fechadas, o empreendedor continue, de alguma forma, em contato com seu cliente.

Na área dos salões de beleza, que estão fechados desde sexta-feira, o relacionamento é fundamental. O cabeleireiro Alexandre Moreira, dono do salão Alexandre+Co, no Belvedere, tem mantido o contato com as clientes pelo WhatsApp e pelas redes sociais.

Ele sabe da importância da fidelidade em sua área. Abriu o salão há oito meses, após trabalhar por 14 anos em outro estabelecimento. “Tenho uma clientela de longa data, frequente no salão, e temos acompanhado o feedback das clientes pelas redes sociais”, afirma Alexandre, que emprega oito funcionários via CLT e conta com 15 parceiros.

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