Pandemia já fez 49 cidades recuarem na flexibilização em Minas

Renata Evangelista e Renato Fonseca
portal@hojeemdia.com.br
23/06/2020 às 08:37.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:50
 (Mauricio Vieira)

(Mauricio Vieira)

Pelo menos 49 cidades já recuaram na flexibilização social em Minas. Após liberar o comércio não essencial, os municípios se viram obrigados a fechar as portas de alguns estabelecimentos diante do avanço do novo coronavírus. Especialistas da área da saúde afirmam que tal postura deve se tornar ainda mais constante nas próximas semanas.

Aumento do número de casos e ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) são os principais fatores avaliados para suspender as atividades econômicas. Vale lembrar que um estudo prevê o esgotamento das UTIs nesta quinta-feira e, diante desse risco de colapso, o próprio Estado recomenda apenas que supermercados, padarias e farmácias sigam em funcionamento.

Das 49 prefeituras que precisaram fechar lojas pelo menos uma vez nos últimos três meses, 42 integram o programa Minas Consciente, do governo do Estado. O levantamento foi feito com base em relatórios da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sede). A decisão foi tomada após análises do comitê estadual que avalia indicadores dos serviços de saúde e propagação da doença.

As outras sete cidades não aderiram ao plano que setoriza as atividades econômicas em quatro “ondas” (verde, branca, amarela e vermelha), mas também assistiram ao avanço da Covid-19. Santa Luzia, na Grande BH, é uma delas. Lá, a nova restrição ao comércio – onde até mesmo academias receberam aval para reabrir – começou ontem.

Para médicos, existe uma pressão para reabrir os estabelecimentos antes da hora. Tal decisão, acrescentam, deveria levar em conta um aumento nos testes para diagnosticar a doença nos moradores.

“Vejo que muitos prefeitos tiveram ansiedade de reabrir por causa da questão socioeconômica e política. Talvez, tenha tido alguma precipitação, também, porque no momento o cenário de Minas não era perigoso. Mas o vírus é traiçoeiro e se comporta de uma forma imprevisível”, analisou o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia (SMI), Estevão Urbano.

Conforme o médico, o abre e fecha poderia ter sido evitado se critérios científicos tivessem sido analisados. “Às vezes, se segura a cidade fechada por mais um tempo, mesmo que sem muitos casos. Mas, reabrindo sem parâmetros científicos, se perde o controle da situação dos leitos de UTI e enfermaria. Assim, se volta à estaca anterior já quase que no desespero”, declarou.

Sem apoio

O infectologista Sidnei Rodrigues endossa o discurso e afirma que é um erro afrouxar o isolamento social antes da queda da curva de transmissão do vírus. O médico reconhece, porém, que os municípios sofrem pressão dos empresários e até mesmo do governo federal. “Muito difícil a prefeitura agir sozinha”, lamentou. “Sem garantir renda às famílias, é muito difícil exigir que as pessoas fiquem em casa”.

Presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM) e prefeito de Moema, Julvan Lacerda reforça que é complicado combater a pandemia diante do que considera um “jogo de empurra” dos governantes. Para ele, o governo federal está sendo omisso, o estadual joga a responsabilidade nas mãos das prefeituras e, quando o Executivo toma uma decisão, a Justiça proíbe. “Sem comando, quem paga o preço é o povo”, critica.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por