Pandemia: UFMG cobra reavaliação da luta contra a 'maior crise humanitária e sanitária da história'

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
09/08/2020 às 09:04.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:14
 (Reprodução/Pixabay)

(Reprodução/Pixabay)

No boletim semanal publicado neste domingo (9) pela Faculdade de Medicina da UFMG, uma carta conjunta afirma que, desde a chegada dos portugueses ao Brasil, a pandemia de Covid-19 é a maior tragédia humanitária e sanitária vivida no Brasil. Em cinco meses, o país registrou mais de 3 milhões de infectados e 100 mil mortos.

“Somos 3% da população mundial, mas 14% de todos os óbitos estão no Brasil. Falhamos! Nossa política de enfrentamento à pandemia tem que ser reavaliada urgentemente para tentar reverter uma tragédia ainda maior. Ainda há tempo”, afirmou a carta de apresentação do boletim, que é realizado por alunos da UFMG sob orientação dos professores da instituição.

De acordo com o infectologista Unaí Tupinambás, professor da Faculdade de Medicina da UFMG, o governo federal poderia ter se preparado melhor para o enfrentamento da pandemia, evitando um número tão grande de vítimas da Covid-19. "Tivemos dois meses meses para nos preparar, poderíamos ter aprendido com a experiência dos países que foram atingidos antes do Brasil. Não nos preparamos para aumentar a capacidade de testes, para a ampliação da assistência de leitos, para reduzir os danos provocados pelo isolamento. Demorou muito para sair um programa de renda mínima (Auxílio Emergencial), que provocou impacto no isolamento social. Além disso, estamos há três meses com um ministro interino no Ministério de Saúde", afirmou. 

Veja a carta do Boletim Matinal da Faculdade de Medicina da UFMG na íntegra:

“Há 5 meses tivemos nosso primeiro óbito, hoje são 3 milhões de pessoas diagnosticadas com COVID-19 e mais de 100 mil mortes! Somos 3% da população mundial, mas 14% de todos os óbitos estão no Brasil.

Falhamos! Nossa política de enfrentamento à pandemia tem que ser reavaliada urgentemente para tentar reverter uma tragédia ainda maior. Ainda há tempo!

Desde a invasão dos colonizadores, passando pelo tráfico de pessoas escravizadas, esta é a maior tragédia humanitária e sanitária que já vivemos!

Falhamos! Ao não saber aproveitar o tempo que nos foi dado para nos preparar e por não instrumentalizar adequadamente o SUS, que vem sendo sistematicamente atacado nos últimos quatro anos.

Falhamos em não proteger nossa população, amparando e cuidando dos mais vulneráveis!

Falhamos em não denunciar curas milagrosas e em desprezar a ciência. Vamos pagar um preço alto por este descaso por parte de uma parcela de quem deveria ser o defensor de seus princípios!

Falhamos em aceitar que, em meio à tragédia, não tenhamos um Ministro da Saúde à altura do cargo!

Falhamos em não denunciar a política deliberada do dissenso e da discórdia levando ainda mais insegurança e desalento para sociedade!

Falhamos em permitir ataques de fascistas aos trabalhadores e trabalhadoras da saúde, bem como aos pesquisadores e pesquisadoras!

Pedimos perdão a todos brasileiros e brasileiras vítimas desta tragédia anunciada. Não podemos e não iremos banalizar estas mortes!

Para a equipe do Boletim Matinal, ‘Luto’ é um substantivo que designa nosso sentimento atual, mas também um verbo! Juntamo-nos à FrentePelaVida, reafirmando nosso compromisso nesta luta!

Ainda dá tempo de juntos revertermos parte desta história!”

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