Patrimônio sacro na Igreja São José revelado sob camadas de tinta

Renato Fonseca - Hoje em Dia
16/04/2014 às 07:28.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:08
 (Lucas Prates/Hoje em Dia)

(Lucas Prates/Hoje em Dia)

Um segredo encoberto por três camadas de tinta começa a ser revelado no interior da centenária igreja São José, no Centro de Belo Horizonte. As cores originais da capela de um convento, no fundos do templo religioso, estão sendo restauradas. Datada de 1932, a pintura oculta sofreu várias agressões ao longo dos últimos anos, como a perda da policromia e reformas para instalação da parte elétrica.
O primeiro revestimento foi descoberto casualmente, durante uma seleção de fotos antigas para o restauro da fachada da igreja. Em meio ao vasto acervo histórico da Congregação Redentorista – da qual pertence a paróquia –, o vigário Flávio Leonardo Campos procurava por imagens da entrada principal, de frente para a avenida Afonso Pena.

“Para a nossa surpresa encontramos um retrato preto e branco do oratório (capela do convento) com pinturas em toda a lateral, muito bem ornamentadas. Mesmo os padres mais antigos desconheciam esse fato, pois o que se via eram apenas paredes pintadas com um tom verde claro”, conta o religioso.

Apesar de o restauro ainda não estar finalizado, já é possível vislumbrar, com nitidez, símbolos eucarísticos como o pão e o cálice. Frases em grego e em latim, em louvor como “Nós te adoramos, ó Cristo e te bendizemos”. O brasão da ordem redentorista também está estampado em uma das paredes.

A capela tem 36 metros quadrados e as paredes medem seis de altura. Na busca por informações, soube-se que a pintura original surgiu a partir de um esboço do artista italiano Carlos Oswald (1882-1971). “Outros pintores, conhecidos como irmãos Goretti, executaram a obra”, acrescenta padre Flávio Leonardo.

Iniciado em fevereiro, o delicado trabalho de restauração é executado pelo Grupo Oficina de Restauro. Atuando na área há quase 30 anos, a responsável pela intervenção, Maria Regina Ramos, afirma que a retirada das três camadas de tinta (verde, branca e cinza) já foi finalizada.

Agora, os quatro profissionais envolvidos estão empenhados no nivelamento das superfícies danificadas com a colocação de uma massa própria. Em seguida, a policromia passará por um processo de hidratação e fixação. Somente depois, os técnicos farão a reintegração dos desenhos e cores faltantes.

“A pintura tem elementos neoclássicos e art-nouveau. Todo o processo é meticuloso e requer muito cuidado, pois temos muitas áreas que precisam ser reintegradas”, afirma Maria Regina. “É a valorização de um patrimônio tombado e o resgate de um belo trabalho dos artistas que o fizeram”. A restauração custará R$ 110 mil e será concluída em agosto.

 
 

Congregação em busca de recursos

Tombada pela municipalidade, a Matriz da Paróquia São José, ou simplesmente igreja São José, começou a ser erguida em 1902. A imponente escadaria principal foi construída em 1910 e a pintura do interior, dois anos depois. O templo passou por ampla reforma que durou 20 meses e foi concluída em dezembro de 2013. Foram gastos R$ 2 milhões. Agora, a Congregação Redentorista está em busca de patrocínio para restaurar a fachada, orçada em R$ 1,3 milhão.

Localização estratégica favorece visitação

Instalada a um quarteirão da Praça 7, a igreja São José é um dos mais notáveis monumentos construídos no Centro de Belo Horizonte. É o segundo templo religioso mais antigo da cidade, atrás apenas da capela do Rosário – na rua São Paulo, erguida em 1819, na época do Curral del Rei.

A matriz tem 60 metros de comprimento e 19 de largura. Foi construída em estilo manuelino (também chamado de gótico português tardio), com fortes influências holandesas. Entre as particularidades, estão os conjuntos de ornamentos do interior. Nas laterais, existem figuras de 28 santos, de um lado os homens e do outro as mulheres.

A localização estratégica atrai quase 2 mil pessoas diariamente ao espaço, que comporta até 800 pessoas sentadas. Aos fins de semana mais de 7 mil visitantes vão ao local, conforme informou o vigário paroquial Flávio Leonardo Campos.

Segundo ele, mais de 80% dos fieis vêm de outros municípios, principalmente da Grande BH. “Muitas pessoas vão ao Centro resolver alguma pendência, como uma consulta médica, e acabam passando por aqui para um breve momento de oração”.

Aos 92 anos, a moradora da região central da capital Chames Bittar é conhecida por toda a comunidade religiosa da São José. Durante mais de dez anos ela foi catequista da igreja.

Hoje, vai praticamente todos os dias ao local para fazer as orações e dar aquela força no que for preciso. Ultimamente, está empenhada na preparação das imagens sacras para a celebração da Semana Santa.
“Essa igreja é linda e faz parte da minha vida. Me orgulho de estar sempre aqui e tentando ajudar quando possível”, afirma Chames.
 

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