PBH descarta replantio de árvores suscetíveis à praga da mosca-branca

Letícia Alves - Hoje em Dia
10/01/2015 às 10:02.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:37
 (André Brant)

(André Brant)

“Procura-se uma árvore”. A frase, pendurada no que sobrou de um dos centenários fícus mortos na avenida Bernardo Monteiro, na região Leste de Belo Horizonte, enfim, receberá uma resposta. A via, juntamente com a avenida Barbacena, terá os troncos do espécime de origem asiática, que podem atingir 30 metros de altura, trocados por plantas de porte médio e da flora brasileira. A seleção dos tipos que irão compor a nova arborização está em análise por uma comissão da prefeitura.
A escolha pela mudança na paisagem deve-se ao insucesso na batalha travada com a mosca-branca, praga que afeta os fícus desde 2012. As tentativas de eliminar o inseto incluíram táticas diversas, desde colocação de armadilhas a aplicação de inseticidas naturais. Em levantamento do Hoje em Dia, das 92 árvores das duas avenidas, 27 estão mortas e 22 em condições precárias, com pouca folhagem. Em ambos os endereços, os espécimes são tombados pelo Patrimônio Municipal.
“A comissão discute várias possibilidades. Já foi definido que as árvores substitutas não serão muito grandes, para não causar risco ao pedestre. Os fícus sadios serão mantidos”, adianta o secretário de Meio Ambiente, Délio Malheiros.
Patrimônio
Diferentemente do que propõe a prefeitura, o movimento Fica Fícus, que realizou vários protestos pela recuperação das árvores, defende a substituição apenas por outros fícus, mas de uma variedade nacional que seria imune à mosca-branca. “Consideramos que a alameda é de Fícus e é isso que deve ser preservado”, diz Élida Murta, uma das líderes do movimento.
Ela defende a elaboração de um plano de proteção das unidades sadias. “Queremos saber qual é a proposta do município para manter esse patrimônio preservado”.
Desde setembro, a comissão da prefeitura – formada por representantes da Secretaria de Meio Ambiente, Fundação Municipal de Cultura, Ministério Público e do Fica Fícus – discute uma solução. A previsão é a de que, no próximo encontro, marcado para o dia 29 deste mês, os participantes definam as diretrizes. O próximo passo será a criação de um projeto de revitalização. Segundo Délio Malheiros, já no primeiro semestre, o projeto deve ficar pronto.
Com a definição do que será feito, restará ainda a aprovação do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município. O projeto também precisará do aval da Câmara Municipal. Outros fícus, como no largo da Igreja da Boa Viagem e no Parque Municipal, não precisarão de intervenções.
Diversidade de espécies diminui risco de infestação
Especialistas defendem que a diversificação das espécies na arborização urbana é o melhor caminho para evitar o ataque massivo de pragas, como o que aconteceu nas avenidas Bernardo Monteiro e Barbacena. Prova disso é que em áreas da capital onde os fícus estão lado a lado com outras espécies a devastação pela mosca-branca foi menor. No entorno da Igreja da Boa Viagem, por exemplo, apenas uma das seis árvores morreu. No Parque Municipal, poucas unidades também tiveram de ser cortadas.
Professor do Departamento de Botânica da UFMG, João Renato Stehmann defende a criação do projeto de requalificação das avenidas. Segundo ele, aumentar a diversidade no local é, sem dúvida, a melhor saída. “É essencial um projeto que revitalize e recomponha a paisagem arborizada. Isso porque essas áreas possuem grande importância histórica. Fazem parte da memória da cidade”.
Espécies de grande porte como copaíbas e pau-brasil, muito utilizadas em áreas públicas urbanas, são opções para os locais. Para determinar as mais adequadas, de acordo com João, é necessário um estudo dos lugares antes da elaboração do projeto. “Temos muitas árvores nativas que podem substituir os fícus de forma parecida”, frisa o professor.
O biólogo da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), Francisco Mourão, também concorda com o aumento da diversificação das espécies e destaca a proliferação de pragas em ambientes como os devastados pela mosca.
“É sabido que quanto maior a homogeneidade, principalmente na área urbana, maior a probabilidade de haver pragas. Se continuar assim, teremos que eternamente usar venenos, sem resolver o problema”, afirma.

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