Pedidos de corte e poda de árvore passam de 17 mil para 37 mil em BH

Raul Mariano e Bruno Inácio
07/12/2018 às 21:24.
Atualizado em 05/09/2021 às 15:27
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

O temor de acidentes causados por quedas de árvores tem crescido entre os belo-horizontinos. De janeiro a novembro, mais de 37 mil solicitações de cortes ou podas foram recebidas pela prefeitura da capital, um aumento de 117% em relação ao mesmo período de 2017.

Na quinta e na sexta-feira, o Corpo de Bombeiros atendeu a 243 ocorrências relacionadas à vistoria de exemplares em toda a metrópole. A Defesa Civil municipal registrou 17 quedas e a BHTrans informou que em 20 diferentes pontos houve alterações no trânsito motivadas pelo mesmo problema.

Na tarde da última quinta-feira, durante o temporal que castigou a cidade, a história se repetiu. Um espécime de grande porte caiu no cruzamento das avenidas Nossa Senhora do Carmo e Uruguai, na região Centro-Sul, atingindo seis carros, dentre eles a van escolar dirigida por Ranur Carneiro, que morreu no local. 

Em nota, a PBH informou que técnicos vistoriaram a árvore e atestaram que ela estava em condições normais, “mas não suportou a força do vento, de quase 80 quilômetros por hora (km/h)”.

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), contudo, afirma que as rajadas mais fortes registradas na capital, neste mesmo dia, foram no bairro Belvedere, na zona Sul, onde o ar se movimentou a cerca de 76 km/h.

De quinta até sexta-feira, o Corpo de Bombeiros recebeu pelo menos 387 chamados relativos a árvores na Grande BH

Aflição

A cabeleireira Carina Aparecida Bento, de 48 anos, que tem um salão de beleza no bairro Camargos, na região Oeste, vive momentos de pânico todas as vezes que uma tempestade se inicia. Ela teme que uma mangueira de pelo menos 25 anos, plantada em frente ao imóvel, desabe. “Estamos em um morro e a enxurrada desce com muita força. O pior é se alguém estiver aqui dentro e acontecer uma tragédia”, destaca a mulher.

Manutenção

De janeiro a novembro, a prefeitura afirma ter realizado pelo menos 44 mil podas e 9 mil supressões de árvores na cidade, número 650% maior que as intervenções no mesmo período de 2016. Naquele ano, segundo a PBH, o investimento para os serviços foram de R$ 2,8 milhões, que subiram para R$ 4 milhões em 2017. Até 30 de novembro de 2018, mais de R$ 11 milhões foram aplicados.

Especialista em engenharia florestal pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), o professor Sebastião Renato Valverde diz que o corte de espécimes é necessário, mas não é a única solução para os acidentes com quedas. “Assim como aparar, o plantio tem que ser planejado. É preciso ter espaço e profundidade para o crescimento da raiz, longe de sarjetas e com terra, de preferência grama em volta”.

Ele afirma que a poda é vital. “O que não pode é sair cortando à revelia. As árvores são essenciais para a temperatura e qualidade do ar no centro urbano”, ressalta. Dentre as alternativas, Valverde sugere a construção de passeios com espaços largos para os exemplares, longe das fiações e encanamentos. 

“Não dá para a planta dividir espaço com o concreto. Ela se enfraquece e tomba com as chuvas, na maioria das vezes, porque está fraca por sufocamento”, observa o docente.

no fim de semana na capital

Apesar de as chuvas de dezembro já terem provocado estragos em BH, o volume de água ainda não alcançou nem a metade da média histórica do mês, que é de 358,9 milímetros (mm). Até as 9h dessa sexta-feira foram registrados 115,09 mm, o que corresponde a 32% do previsto.

Novos temporais são esperados. A previsão dos meteorologistas é de chuva forte no sábado e no domingo. Já na segunda-feira, podem ocorrer precipitações no fim do dia, típicas desta época do ano. 

“A conhecida combinação de altas temperaturas com nuvens carregadas pode ocasionar ventos, até mesmo como os que já foram observados nesta quinta-feira, e raios em toda a região metropolitana”, disse Claudemir de Azevedo, do Inmet.

As temperaturas devem oscilar entre 15ºC e 24ºC no fim de semana, voltando a patamares de máximas em torno de 28ºC na segunda-feira, “quando as nuvens carregadas começam a se deslocar para fora do Estado”, explicou o meteorologista.

Na capital, o alerta é de pancadas com ventos intensos, até as 8h desse sábado, conforme boletim emitido pela Defesa Civil. Só no temporal desta quinta-feira, o órgão atendeu a 110 ocorrências relacionadas aos temporais em Belo Horizonte.

Vidas perdidas
A temporada de chuva iniciada em outubro deste ano já deixou um saldo de sete mortes em Minas, segundo balanço da Defesa Civil Estadual. Seis óbitos ocorreram em Belo Horizonte.

Ranur Pierre da Silva Carneiro
Van escolar que ele dirigia foi atingida em cheio por uma árvore no cruzamento das avenidas Nossa Senhora do Carmo e Uruguai, no Sion, região Centro-Sul de BH. 

Cristina Pereira Matos e Sofia Pereira
Mãe e filha, de 40 e de 6 anos, morreram afogadas em 15 de novembro. Carro em que estavam foi arrastado pela enxurrada na avenida Vilarinho, em Venda Nova.

Anna Luísa Fernandes de Paiva Maria
No mesmo dia, a jovem de 16 anos morreu após cair em um bueiro na avenida Doutor Álvaro Camargos, em Venda Nova, e ser levada pela enxurrada.

Robson Aparecido Valério da Rocha
Homem de 42 anos caiu perto de uma manilha em um córrego, na Ocupação Vitória, região Norte de BH, e se afogou. O caso também ocorreu em 15 de novembro.

Jonathan Reis Miranda
No mesmo dia, segundo relatos da própria mãe, o rapaz, de 28 anos, nadava em uma área alagada na avenida Vilarinho quando desapareceu repentinamente e se afogou.

Isolina Cordeiro Manco
Idosa de 73 anos, moradora de Mantena, foi atingida por um muro na cidade do Vale do Rio Doce. A estrutura caiu em cima da casa onde participava de um culto religioso, em 27 de outubro.

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