Pesquisa atesta abusos da automedicação; em BH, 60% das pessoas admitem uso

Renato Fonseca
rfonseca@hojeemdia.com.br
21/10/2016 às 19:42.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:20
 (WESLEY RODRIGUES)

(WESLEY RODRIGUES)

Tomar remédio por conta própria ou com indicação dos parentes, amigos e até da internet é hábito comum entre a maioria dos belo-horizontinos. De cada dez moradores da metrópole, pelo menos seis admitem usar variados medicamentos sem orientação médica.

O alerta para a busca desenfreada por socorro para uma febre ou simples dor de cabeça sem o receituário está em um levantamento divulgado pelo Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico (ICTQ). 

No Brasil, o índice das pessoas que se automedicam ultrapassa 70%. A pesquisa por amostragem, feita em 16 capitais com mais de 2 mil pessoas, também aponta que, alheios aos riscos, muitos aumentam as doses para produzir efeitos imediatos.

A professora Karina de Souza Vitor, de 29 anos, confessa o hábito antigo. Até mesmo remédios que usava para estancar sangramentos de um mioma que tem no útero há dois anos eram ingeridos sem prescrição. 

“Consultei na internet e encontrei um remédio que faria parar o sangramento. Comentei com minha médica e ela, claro, orientou que suspendesse o uso. Depois disso as hemorragias têm vindo ainda mais fortes”, relata. Pílulas antigripais e analgésicos também fazem parte da “farmacinha” que a professora mantém em casa.

A mania de recorrer à internet, como fez Karina de Souza, também é atestada na pesquisa. A publicação mostra que 40% das pessoas utilizam sites de busca na tentativa de encontrar o diagnóstico para a enfermidade.

Ciente dos riscos da automedicação, a comerciante Flávia Michette, de 24 anos, diz que “às vezes prefere comprar o remédio por conta própria”, mas jamais faz isso com a filha Vitória. “Às vezes, tomo algum medicamento sem ir no médico, mas só quando já sei o que tenho. Faço isso porque os hospitais são muito cheios, tem fila grande e é difícil marcar horário. Mas, se não melhoro, vou ao posto de saúde. Agora, com a minha filha, que tem 3 anos, não”, conta. 

Cultural

Responsável pelo levantamento, o diretor de pesquisa do ICTQ, Marcus Vinicius Andrade, diz que a maioria dos entrevistados atribui a automedicação às dificuldades enfrentadas nas unidades de saúde. Porém, o estudo mostra a necessidade de se vencer outra barreira: a cultural. 

“Algumas pessoas confessam que, às vezes, um parente já teve uma doença similar e indica o medicamento”, diz Andrade, que fez questão de chamar a atenção de que muitos, além de não procurar o médico, sequer conversam com o farmacêutico.

O clínico do Hospital João XXIII, Marcelo Lopes, critica a facilidade de compra sem receita e as propagandas que incentivam o uso. “O imediatismo é um vilão, porque as pessoas querem curar o sintoma rápido e não investigar a causa do problema, o que pode mascarar a doença real, piorar o problema e até desenvolver quadros mais graves”, afirma. 

(Com Patrícia Santos Dumont e Mariana Durães)

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